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Críticas

Cineplayers

Um filme muito bem elaborado e trabalhado, mas muito modesto em sua essência.

7,0

As técnicas de animação, desde o stop-motion até a computação gráfica, quando nas mãos de bons diretores e produtores, rendem histórias das mais variadas. Quando Henry Selick dirigiu O Estranho Mundo de Jack, em 1993, a audiência ficou extasiada com o estilo e a técnica, que seriam reutilizadas em outras produções, sem, contudo, perderem a graça. Em 1996, o mesmo Henry Selick retorna à direção, desta vez em James e o Pêssego Gigante, utilizando técnica semelhante, alternada com atores em carne e osso, para construir uma saga visual igualmente fascinante.

James e os pais sonham com a ida à Nova York, a cidade “onde os sonhos se realizam”; mas, depois que um incidente tira a vida dos pais, James passa a viver com duas tias perversas, que quase o escravizam. A sorte de James muda completamente quando um homem misterioso lhe entrega um pacote com uma estranha receita, que faz nascer nas redondezas um pêssego gigante. Após adentrar o pêssego, James conhece insetos que o acompanharão na curiosa jornada que eles irão empreender.

O nome de Tim Burton aparece apenas no cargo de produtor, mas algumas de suas características mais marcantes, como a inclinação para o mórbido e o bizarro, já aparecem com certa visibilidade na película – características essas que também impregnaram seu roteiro de O Estranho Mundo de Jack e que Henry Selick consegue manejar tão bem, sem deixar que elas ofusquem o caráter muito mais onírico de James e o Pêssego Gigante.

É esse caráter, aliás, que faz de James... um filme leve e, ao mesmo tempo, muito expressivo. O momento em que os atores reais saem de cena para dar lugar a cenários e personagens inteiramente animados é especialmente marcante, principalmente porque o stop-motion utilizado, mesmo quando analisado anos depois, permanece incrivelmente atual, talvez pela criatividade dos elementos utilizados em cena, que também permeia a montagem dos cenários reais.

Incrível, também, é o modo como a agilidade de uma história de pouco mais de uma hora aborda, de maneira satisfatória, todos os aspectos da película. No filme, nada parece faltar: os cenários têm uma participação bem definida, os personagens delineiam-se com precisão, os acontecimentos desdobram-se no tempo certo e ainda sobra espaço para as famigeradas cenas musicais, que, como em toda produção com os toques de Tim Burton, fazem da película um alvo das coreografias inusitadas e das letras criativas, por vezes cercadas de ironias e duplo sentido.

James e o Pêssego Gigante poderia servir de inspiração às animações que envelheceram e trocaram o simples e o lúdico pelo ultramoderno e pelas piadas extremamente recorrentes. Trata-se de um filme tecnicamente trabalhoso e elaborado, mas muito modesto em sua essência; um filme que constrói um humor inteligente e que fascina qualquer espectador; um filme, enfim, que irá se tornar velho com o tempo, talvez obsoleto, mas com características sublimes que ainda vão muito perdurar.

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