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Críticas

Cineplayers

As estações de Ozon.

6,5

On n’est pas sérieux, quand on a dix-sept ans.
(Arthur Rimabud, 1870 – poema citado em cena do filme)

Em Jeune et Jolie (2013), François Ozon se debruça sobre a delicada idade dos 17 anos, por meio da história de Isabelle. Sua beleza é tematizada tanto no título do filme (“jolie” poderia ser traduzido como “bonita”) quanto no seu nome próprio (Isabelle contém em si o adjetivo “belle” – bela em francês) e nas falas dos personagens. Essa reiteração aponta para como a beleza de Isabelle é importante na sua relação com o mundo.

Nós a acompanhamos atravessar quatro estações, a começar pelo verão, em que sua família passa uma temporada de férias na praia. O restante do filme vai se desenrolar em Paris, e termina com a chegada da primavera. Estamos diante de um ciclo, onde as estações não só mostram a passagem do tempo, mas ajudam a configurar sentidos para a história. Não por acaso o inverno é marcado pela morte de um personagem e a primavera por um novo amor. Ao final deste percurso, entrevemos a chegada de um novo ciclo, da possibilidade redentora de um recomeço.

A trajetória de Isabelle é permeada de descobertas, aventuras, conflitos, e seu fio condutor será a sexualidade da jovem e seus desdobramentos. O topless, a masturbação, a perda da virgindade e a prostituição vão conduzindo a narrativa. Desde o primeiro plano, Ozon nos coloca numa posição voyeurista: vemos Isabelle na praia através de um binóculo. De modo semelhante, vamos assistir, ao longo do filme, às transformações, experiências e escolhas de Isabelle sem ter exatamente acesso a suas motivações. Isso ajuda a criar um mistério em torno da adolescente – seus olhares intensos e silêncios profundos, sua frieza e surpreendente falta de inocência.

Aos poucos, vamos entendendo que o marido de sua mãe é seu padrasto. Seu pai não tem lugar no filme, mal sabemos seu nome, onde mora, com o que trabalha. Uma análise apressada estabeleceria relações diretas entre a ausência do pai e os relacionamentos de Isabelle com homens mais velhos, ainda que pela via da prostituição. A entrada do psicólogo parece comentar essa busca por sentidos com alguma ironia. Pois Isabelle traz algo de imprevisível que nos escapa – a nós espectadores e, talvez, à psicanálise.

Isabelle está profundamente deslocada no mundo. Os jovens não lhe interessam, ela não se abre para eles, não se mistura e quase não constrói relações na sua escola. Os adultos também são distantes, têm dificuldade de compreender a menina. Há algo de entediante e patético em suas falas e posições, que coincide com um olhar tipicamente adolescente para os adultos, os pais, as figuras de autoridade. O mais interessante no filme parece ser mesmo a construção da protagonista e seu gosto íntimo pela aventura – que, sem que calcule ou perceba, a coloca em situações de perigo. Isabelle (ou Léa, seu pseudônimo usado para se prostituir) é uma “Belle de Jour” contemporânea que, não satisfeita com a ambiguidade da fantasia, passa para a concretude das ações e nelas se alimenta de prazer.

Visto no 66º Festival de Cannes

Comentários (3)

Caio Santos | sexta-feira, 17 de Maio de 2013 - 16:14

mas parece um filme muito frances 😏

Patrick Corrêa | sexta-feira, 17 de Maio de 2013 - 19:53

Gosto tanto de Ozon...
Espero discordar.

Vanderley Barbosa de Sousa | quarta-feira, 22 de Maio de 2013 - 10:49

Caio Santos, o que você esperava de um filme francês? Que ele fosse brasileiro ou americano?

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