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Críticas

Cineplayers

Conheça o original refilmado há pouco tempo, conhecido como O Grito.

7,5

A cultura japonesa apresenta um clima favorável para a criação de histórias de terror. As lendas nipônicas sempre têm uma atmosfera pesada e fantasmagórica, e o universo espiritual está sempre presente nas lendas japonesas. Talvez, seja por isso que no Japão produzam-se tantos filmes de terror psicológico de boa qualidade, entre os quais Ringu, Dark Water e, mais recentemente, Ju-On: O Rancor.

Ju-On é a maldição de quem morreu geralmente assassinado e sob um forte rancor. Essa maldição vai sendo espalhada e disseminada entre pessoas que, de alguma forma, relacionaram-se direta ou indiretamente com os assassinados, até que uma complexa teia de mortes e acontecimentos bizarros esteja formada.

O enredo começa efetivamente quando Rika, uma assistente social voluntária, é chamada para cuidar de uma velha senhora, porque aparentemente ninguém conseguia. Intrigada, ela chega à casa da senhora e depara-se com uma atmosfera no mínimo ominosa: há objetos espalhados por todos os lados e todo o ambiente encontra-se em estado de completo desleixo. Ao encontrar a velha, Rika descobre que ela mora sozinha e que terá que cuidar do ambiente por conta própria, pois a idosa senhora não fala nada e fica sentada o dia inteiro, olhando para um ponto fixo. Quando Rika está terminando a faxina na casa, depara-se com um armário envolto em fita adesiva: lá dentro está Toshio, um garoto aparentemente inofensivo. A partir daí, acontecimentos estranhos perturbarão Rika, e todos que entrarem em contato com ela estarão contaminados pela maldição de Ju-On.

Já que o filme divide-se em vários blocos de cenas diferentes, como atos de uma ópera, a história admite vários protagonistas. Rika, a primeira, interpretada por Megumi Onika, é a personagem mais marcante do enredo. Megumi tem uma capacidade interpretativa admirável: ela age com naturalidade, e mesmo com o árduo trabalho de sustentar várias das cenas mais perturbadoras do filme, ela se sai muito bem, não deixando que a atmosfera de tensão e medo pareça forçada. Outro exemplo de boa atuação é a atriz Misa Uehara, no papel da colegial Izumi. Misa é daquelas atrizes que aparecem apenas em uma parte do filme, mas que marcam os espectadores, seja por sua beleza, seja por seu profissionalismo. O fato é que Izumi é uma personagem difícil de ser interpretada, pois, a princípio, o que era uma garota normal, vira uma garota confusa e horrivelmente perturbada. E, concluindo, outro exemplo de boa atuação é Yuya Ozeki, o garotinho Toshio. Ainda que não tenha uma performance estonteante, o garoto tem lá seus olhares sinistros.

Parece existir uma certa fórmula que deve ser seguida pelos diretores japoneses de terror psicológico, para que os filmes dêem certo. Assim como Hideo Nakata, diretor de Ringu e Dark Water, Shimizu Takashi abusa de tomadas lentas e câmeras estáticas, a fim de que a atmosfera de tensão estenda-se ao máximo. Além disso, ambientes escuros e músicas que precedem os sustos são raramente utilizados: na verdade, o enredo desenrola-se em ambientes triviais e perfeitamente comuns.

E se entrarmos nos méritos da produção técnica, chegaremos à conclusão de que Ju-On tem os efeitos sonoros mais perturbadores de que se tem notícia. De fato, Shiro Sato, o compositor, prefere barulhinhos bizarros a músicas bem elaboradas. Não que o filme não as tenha, claro: Ju-On tem peças musicais muito bem-feitas, mas elas são raras e são os efeitos sonoros que,  definitivamente, sustentam a tensão por todo o filme.

Alguns espectadores podem, porventura, achar que a trama de Ju-On é malfeita ou sem sentido. Talvez ela o seja, mas talvez - e mais provável - algo tenha sido perdido no choque cultural. Talvez haja referências a lendas nipônicas ou a outros fatores culturais, referências estas que acabaram perdidas na tradução. De qualquer maneira, existe o segundo filme, com um enredo diferente, mais centrado e não propenso a perdas de sentido, e com possíveis explicações para os acontecimentos do primeiro.

Concluindo, Ju-On: O Rancor não é um filme pesado, recheado de mortes absurdas, sustos, sangue por todos os cantos e cadáveres abertos. Ju-On é como todos os bons terrores psicológicos: cheio de tensão e medo implícito nas entrelinhas.

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