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Críticas

Cineplayers

Um bom drama de ação, com cenas bastante fortes, do mesmo diretor de Dia de Treinamento.

6,0

Assim como em Falcão Negro em Perigo, em Lágrimas do Sol mais uma vez um grupo altamente treinado de soldados norte-americanos se metem onde não são chamados, no continente africano. Desta vez, os soldados (não os mesmos do outro filme, logicamente) devem resgatar uma médica no meio da floresta tropical, na Nigéria, que acaba de sofrer um golpe de estado, deixando o país em caos total. Claro, os clichês que tanto Bush tenta vender para o mundo estão lá: a guerra não é deles, mas é dever deles levar a democracia a quem não a tem, mesmo que isso custe a vida de centenas de pessoas. À princípio vistos como inimigos do povo, os soldados logo tornam-se heróis. Isso no filme, é claro, já que a situação, hoje em dia na vida real, é bem diferente. Pelo menos essa propaganda pró-americana é o único ponto que realmente me incomodou em todo o filme.

O talentoso diretor Antoine Fuqua mostra mais uma vez que sabe comandar um filme de tensão (não necessariamente ação, embora o filme tenha esse elemento exagerado em seu final). Seu último filme, Dia de Treinamento, surpreendeu muita gente e o fez ser cotado como novo talento em Hollywood (mesmo que antes tenha feito filmes horríveis, como A Isca e Assassinos Substitutos). Lágrimas do Sol é ainda mais violento e realista do que aquele filme, provando que o diretor é sim um novo talento (que ainda deve provar muito, é verdade) na criação de filmes de ação ou policiais. Só que desta vez o roteiro não ajudou tanto, mas chegarei a esse ponto logo mais.

Bruce Willis também retorna a um tipo de papel do qual ele é mestre: o herói! O ator tinha saído de outro filme de guerra (mas esse sem ação) recentemente, A Guerra de Hart. Este é o trabalho mais físico do ator desde Armageddon, que é um filme de 1998, embora nesse meio tempo ele tenha feito outros filmes que lembram, nem que seja de longe, o gênero ação, como Nova Iorque Sitiada, Corpo Fechado e Vida Bandida. De qualquer forma, o ator ainda se mostra em grande forma (é o meu ator de ação preferido), e dá conta do recado nas cenas mais violentas e movimentadas.

Monica Belluci é a médica que o grupo de Willis deve resgatar do país em crise, antes que a guerra chegue até ela. Seria uma missão razoavelmente fácil, mas a sua personagem nega-se a deixar para trás a comunidade para quem presta serviços médicos, num canto muito remoto da Nigéria, e faz o Tenente Waters (Willis) carregar todas as pessoas de lá, ou pelo menos as que podem andar, para dentro da mata, até a fronteira de Camarões. São 65 KM a pé. Claro, os rebeldes inimigos logo estarão à caça do grupo, que anda lentamente dentro da selva, e um grande confronto, recheado de explosões, traições, mortes e sentimentalismo, ao melhor estilo Hollywoodiano, pode ser esperado para o clímax do filme. O bom é que é tudo bastante divertido. O filme conta com duas cenas de ação, mas mesmo quando ele é apenas sobre os personagens e suas dificuldades no meio da mata, ele não fica monótono, pelo menos na maior parte do tempo.

Mesmo que o filme não seja ruim e consiga entreter, o roteiro infelizmente não ajuda muito. Quero dizer, depois do ótimo roteiro de Dia de Treinamento, o diretor Fuqua teve que trabalhar com um texto muito mais comercial desta vez, e principalmente muito mais limitado, embora ainda "passável". Há, por exemplo, uma reviravolta bem importante lá pelo meio da história, mas que soa forçada e desnecessária (mesmo que justifique algumas ações dos rebeldes inimigos). Também, a maioria dos soldados de resgate são desenvolvidos apenas superficialmente - eu gostaria de ter me importado mais com o destino deles todos. Fica-se perguntando ainda se há ou não alguma química surgindo entre os personagens de Willis e Belluci (linda como sempre, mesmo suja - obviamente, algumas cenas de decote foram inseridas no filme, como era de se esperar). Os dois até chegam a ensaiar, em uma ou outra cena, um início de "clima", mas logo depois isso já é esquecido, para ser retomado e esquecido novamente em seguida. Finalmente, em relação ao roteiro, pode-se considerar o clímax do filme (que é muito divertido, pelo menos) como o típico fechamento Hollywoodiano, cheio de exageros e sentimentalismos forçosos. Enfim, estes aspectos citados acima demonstram como o roteiro é bobo e superficial na sua maioria, só que é muito bem filmado, fazendo o filme parecer mais forte e importante do que realmente é.

Contando ainda com cenas bem fortes - não recomendado para crianças, até porque o filme tem classificação bem restrita - e a mesma violência crua já encontrada em Dia de Treinamento, Lágrimas do Sol acabou ficando bem abaixo do esperado nas bilheterias. Talvez o clima atual não favoreça esse tipo de filme, mas ainda assim posso recomendá-lo para fãs de ação e de filmes de guerra (não espere um novo Resgate do Soldado Ryan, obviamente), mas especialmente aos fãs do ator Bruce Willis, que já revelou não querer mais rodar esse tipo de filme em sua carreira (embora já tenha dito a mesma coisa antes de filmar Lágrimas do Sol). Pode ser uma das últimas vezes que veremos esse ícone dos filmes de ação das décadas de 80 e 90 fazendo uma das coisas que ele sabe fazer de melhor: ser um grande canastrão, mas com classe.

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