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Críticas

Cineplayers

Luz fraca.

4,0

Os super-heróis estão invadindo os cinemas nesse ano e a maioria está conseguindo certo destaque entre o público e a crítica. Boa parte dessa popularidade se deriva da fama deles nos desenhos animados, quadrinhos e até de outros filmes mais antigos. Cientes dessa familiarização que todos temos com esses personagens, as produtoras investem cada vez mais na gênese deles para obter um enredo que esteja fora do nosso campo de conhecimento, atraindo assim um interesse (leia-se bilheteria) maior. E, assim como aconteceu com Capitão América: O Primeiro Vingador (Captain America: The First Avenger, 2011), X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011) e até O Besouro Verde (The Green Hornet, 2011), o novo Lanterna Verde (Green Lantern, 2011) vem com tudo ao prometer uma história sobre a origem de seu personagem-título. O que varia de um para o outro é a qualidade.

Se o Lanterna Verde já não é um dos heróis mais queridos, como um Batman ou um Superman, era preciso então uma boa história para aproximá-lo do grande público; mas não é isso que acontece. Por seguir à risca a cartilha de clichês para o gênero, o diretor Martin Campbell perdeu a oportunidade de aproveitar a composição diferenciada do universo de seu personagem principal. Do começo ao fim, é possível prever cada fala, cada cena e cada desfecho, e nem mesmo os efeitos visuais interessantes conseguem chamar a atenção nesse contexto. O que vale realmente a pena é a curiosa escalação do elenco e o significado por trás dos super-poderes do herói e do vilão.

A luz é um elemento importante aqui. Não apenas por caracterizar o brilho intenso das lanternas, mas também por carregar consigo um significado bem interessante, embora não muito bem aproveitado pelo roteiro. Ela, na cor verde, rege o universo através de sua força e é canalizada pelos poderosos anéis dos Guardiões do Universo. Abin Sur (Temuera Morrison) é um dos mais respeitados e habilidosos deste grupo protetor das galáxias, mas logo no início do filme sofre um golpe fatal do terrível monstrengo Parallax, uma criatura que domina a luz amarela do mal. Antes de morrer, ele vem parar no planeta Terra e designa seu anel aos cuidados de Hal Jordan (Ryan Reynolds), um piloto de aeronaves irresponsável. Agora, pela primeira vez um terráqueo obtém o privilégio de se tornar um Guardião e deve travar uma luta intensa contra a luz amarelada que visa dominar todo o universo.

O bem e o mal estão devidamente simbolizados pela força de duas cores de luz: a verde e a amarela, respectivamente; mas cada uma delas funciona de maneira diferente. Enquanto a verde ganha força com base na vontade de vencer do Guardião que a manipula, a amarela se alimenta do medo dos seus inimigos. Ou seja, para vencer o mal é preciso deixar de lado qualquer vestígio de covardia, o que se revela o maior problema de Hal Jordan, um cara que foge de seus problemas assim como o diabo foge da cruz. Neste ponto, encontramos um tipo de moral para a história, um incentivo à força de vontade, à superação das dificuldades e assim por diante. Pena que o enredo não se foque muito neste ponto em questão, valendo-se das cores apenas para causar certo impacto visual.

É preciso abrir um parêntese agora para esclarecer um pouco mais da história original do Lanterna Verde e entender assim os porquês  do filme não ter acertado em cheio em suas abordagens. Como já mencionado, o universo que envolve este personagem é bem amplo e complexo, a começar pela própria identidade dele. Para quem não sabe, Hal Jordan é apenas um dos Lanternas Verdes. Originalmente, o anel é passado de Hal para o personagem Guy Gardner, que por sua vez é substituído por John Stewart, que tempos depois passa a vez para Kyle Rayner (o mais jovem de todos). Dentre todos esses, Hal e Kyle possuem uma importância maior nos quadrinhos e as idas e vindas dos dois na posse da lanterna verde é constante. Nesse meio tempo, outros personagens vão circulando pelas diversas aventuras, entre eles o Arqueiro Verde e Sinestro (que no filme é interpretado por Mark Strong). As ramificações que vão surgindo através dessa diversa gama de tramas e sub-tramas são quase infinitas e poderiam dar muito pano para manga dentro do terreno do cinema, se não fosse a mente limitada de Campbell, que aproveitou apenas o básico do básico.

Ao invés de introduzir elementos mais sérios, deixar algumas pontas soltas para continuações interessantes (há sim uma deixa para uma continuação futura, mas pouco promissora), ou até mesmo se aventurar mais pela longa lista de histórias que os quadrinhos proporcionam, Campbell faz de seu filme algo tão óbvio e clichê que parece até infantil. Ele poderia fazer de Lanterna Verde uma franquia tão ampla e empolgante quanto à dos X-Men, mas limita-se apenas no terreno seguro e garantido, e seu erro mais grave começa na escalação do ator para viver Hal Jordan.

Embora todo o resto do elenco faça milagre em seus papéis, Ryan Reynolds não é o tipo ideal de ator para o Lanterna Verde. Carismático demais, bobalhão e bonitinho, sua função dentro do filme é entreter o público da maneira mais porca, por assim dizer. Ele tira a seriedade do personagem e ajuda Campbell a limitar os horizontes de uma possível franquia. Isso poderia ser até reversível se não se tratasse do protagonista, já que os coadjuvantes e o vilão estão excelentes. Tim Robbins, Angela Bassett, Peter Sarsgaard, Mark Strong e até Blake Lively terminaram por combinar tanto com esse universo dos HQs no cinema que acabam ofuscando o próprio personagem-título, uma honra nem tão vantajosa assim para a produção.

Com o perdão do trocadilho, Lanterna Verde possui uma luz fraca. A explosão de efeitos visuais não é o suficiente para sustentá-lo no meio de tantas produções sobre super-heróis deste ano. Se a DC vinha caprichando mais nas adaptações de seus clássicos para o cinema ultimamente, aqui ela volta a escorregar ao deixar que um diretor tão sem ambição se encarregue de uma história tão cheia de oportunidades. Seria muito dramático dizer que tudo está perdido, mas não seria exagero afirmar que um começo ruim como esse compromete seriamente a presença desse herói nas telonas futuramente.

Comentários (13)

Weliton Vicente | quinta-feira, 18 de Agosto de 2011 - 12:36

Este aqui também vai ficar para o DVD [2]

... quando estiver no catálogo. 😁

Alexandre Barbosa da Silva | quinta-feira, 29 de Setembro de 2011 - 02:13

Beeeem ruinzinho o filme. Acabei de assistir e concordo com o pessoal sobre a nota, achei que seria bem mais baixa. Fiquei espantado com a Blake Lively, que está muito bem no papel. Surpreendente.
Que desperdício de boas idéias... o poder do Lanterna poderia render algumas das cenas mais legais dos filmes de super-heróis, mas no fim, as cenas de ação do filme são uma grande decepção (assim como os efeitos). Uma pena.

Carlos Saldanha | terça-feira, 11 de Outubro de 2011 - 01:33

Na verdade o filme me surpreendeu por não ser tão ruim quanto eu esperava. Até que me divertiu um pouco, apesar do visual meio brega, e do roteiro não inovar em nada.

Cristian Oliveira Bruno | quinta-feira, 28 de Novembro de 2013 - 17:59

\"- ...e ele me deu esse anel.
- Um alienígena lhe pediu em casmento??\"
Esse diálogo resume a bela porcaria que é esse filme.

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