Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Nem Tom Hanks ou Julia Roberts conseguem salvar Larry Crowne da mediocridade.

4,5

Se formos eleger o ator mais destacado e rentável da década de 1990 no cinema americano, na certa Tom Hanks ocuparia a posição – com dois Oscar consecutivos (um recorde), inúmeros sucessos de bilheteria e um bem sucedido trabalho na direção do adorável The Wonders - O Sonho Não Acabou (That Thing You Do!, 1996). Da mesma forma, se fosse para apontar a atriz que mais ganhou destaque nessa mesma época, nenhum nome seria mais apropriado do que Julia Roberts, eternizada pelo seu papel em Uma Linda Mulher (Pretty Woman, 1990), arriscando-se até como produtora executiva de alguns projetos bem quistos. Esses dois gigantes do cinema comercial americano só vieram a ter seus caminhos cruzados na década seguinte, sob a tutela de ninguém menos que Mike Nichols, em Jogos do Poder (Charlie Wilson’s War, 2007), um trabalho interessante que acabou passando despercebido pela maioria. Analisando essa trajetória resumida da carreira dos dois, fica fácil lembrar o motivo pelo qual Larry Crowne - O Amor Está de Volta (Larry Crowne, 2011) é um filme tão esperado. Afinal, trata-se da segunda investida de Hanks na direção e da segunda parceria entre ele e Julia, o que na certa deveria resultar em algo ao menos decente. Mas não é bem isso o que acontece.

A grande mensagem que Larry Crowne procura passar envolve um incentivo àqueles que pretendem mudar em um estágio já um pouco mais avançado da vida. Nasce, a partir dessa premissa, uma grande ironia não intencional quando a obra é analisada por inteiro, já que o próprio Tom Hanks deveria seguir tais conselhos e mudar um pouco o rumo que sua carreira anda tomando. Larry, interpretado pelo próprio Hanks, é um cara que passou a vida toda se dedicando ao trabalho mediano em um supermercado famoso, mas que perde seu emprego depois que seus superiores decidem exigir um curso universitário em seu currículo. Desesperado, ele se inscreve nas aulas da mal-humorada professora de oratória Mercedes Tainot (Roberts), pela qual acaba se apaixonando.

Um conjunto de fatores contribui para que Larry decida radicalizar. Primeiramente, ele se dá conta do quão medíocre sua vida é sem seu emprego. Depois, se surpreende ao notar sua dificuldade em acompanhar o simples curso de oratória de Mercedes. Por último, surge em sua vida uma colega de faculdade super animada que lhe convida para integrar um grupo de motociclistas que basicamente passam o tempo todo rodando pela cidade sem um objetivo muito claro em mente. Agora influenciado por sua nova leva de amigos aventureiros, Larry tem como único objetivo mudar de vida e conquistar o coração de sua professora.

O problema maior em toda essa história é a total falta de objetivo do roteiro. O que começa sendo uma desventura vivida por um cinqüentão acomodado, se transforma em um romance aguado que em momento algum convence e termina em uma sucessão de desfechos abruptos e pouco imaginativos. Chega a surpreender essa falta de idéias apresentada por Hanks, um cara que sabe como ninguém o quão carente de inovação andam as comédias americanas. O que poderia ser uma bela contribuição para o cinema comercial atual americano é apenas um filme bobo, onde tudo acontece rápido demais e em momento algum decola pra valer.

Julia Roberts, apesar de encantadora, não consegue fazer muito para mudar a situação. Mercedes é uma personagem apática, que deveria mudar com o decorrer da trama, mas que não ganha espaço o suficiente para crescer. Hanks tende a atribuir força aos personagens secundários, de modo que o casal principal é o mais sem graça de todos. Para piorar, há uma enxurrada de personagens periféricos idiotas e apelativos, claramente usados para arrancar risadas do público a duras penas.

Nada funciona muito bem, e o pior de tudo é a exposição em que Hanks se submeteu através desse projeto. Tanto ele como Julia Roberts andam dando umas patinadas em suas respectivas carreiras, e parece que o público não anda muito simpático com eles. Julia, depois que retornou da licença maternidade, nunca mais conseguiu um papel à sua altura. Hanks anda se minimizando ao aceitar papéis fáceis e pouco profundos. Larry Crowne, por fim, serve como vitrine para expor o quão fora de forma os dois parecem estar. Seria bom se eles aprendessem com o próprio personagem-título e decidissem dar uma repaginada em suas escolhas profissionais daqui para frente.

Apesar dos pesares, ainda há um vestígio de bons momentos durante a duração do filme, que se resumem basicamente ao carisma de seus protagonistas (o sorriso de Julia Roberts ainda é uma arma infalível). Fora isso é pequeno e covarde, incapaz de sair da mesmice e que não acrescenta nada aos envolvidos no projeto. Resta torcer para que isso não se repita futuramente. Afinal, dói fundo ver dois grandes talentos tão desperdiçados em um trabalho tão ameno.

Comentários (9)

Paulo Faria Esteves | segunda-feira, 12 de Setembro de 2011 - 16:30

Entra pra história: O dia em que o fã Nº1 da Julia Roberts não aprovou um filme da Julia Roberts!

Pensei isso mesmo, hehe...😁 mas o Heitor sabe separar as coisas! Pena que ainda não vi o filme...sou capaz de ficar um tempo sem ler críticas de editores por ver poucos filmes...

Fernanda Pertile | domingo, 02 de Outubro de 2011 - 17:37

Olha, eu gostei do filme. Concordo com a crítica, Tom e Julia podem muito mais, mas não foi tão desastroso assim o filme... 😁

Carlos Saldanha | segunda-feira, 31 de Outubro de 2011 - 02:15

Eu sou um grande fã dos dois protagonistas desse filme, e realmente é lamentável que eles tenham feito um trabalho tão medíocre. Não dá pra imaginar como Tom Hanks aceitou dirigir um roteiro tão vagabundo. Espero que eles acertem no próximo.

Faça login para comentar.