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Críticas

Cineplayers

Entre os arcos.

8,0
Da escola dos videoclipes, Johnny Araújo dirigiu seu primeiro longa-metragem em 2007, O Magnata. O filme trazia grande vigor estético, mas esbarrava em problemas de roteiro e na megalomania do projeto, desenvolvido por Chorão, falecido vocalista do Charlie Brown Jr. Legalize Já! parte por outro caminho, mas encontra problemas semelhantes e arruma saídas à fórceps.

É nítido que há uma gama de elementos para abraçar no sentido narrativo e que é inviável que todos sejam dominados em sua totalidade pela obrigatoriedade de um filme para o grande público – do contrário teríamos um filme próximo às 3 horas de duração. Para narrar a amizade de Marcelo e Skunk em tempos de Collor e que cantam suas revoltas através do Planet Hemp, banda que ganhou os holofotes por volta de 1995, Legalize Já! é um filme mais econômico esteticamente que O Magnata. Sua aparência 100% esfumaçada pode remeter sim às letras do grupo, mas principalmente à ideia de um flashback, de que o futuro – e a noção do sucesso do grupo - domina o que está na tela. É um filme sujo a fim de captar a aura do centro e do subúrbio do Rio de Janeiro e o caos de dois jovens sem muitas esperanças.

E sem uma espinha dorsal, cabe ao filme caminhar em doses homeopáticas por todos os polos que Araújo e Gustavo Bonafé julgam condizentes com Marcelo e Skunk e o momento político que o Brasil passava. Essa escolha dá ritmo frenético ao filme e que traz a falsa percepção de um mundo construído, de elos que se fecham perfeitamente. E nada há de errado nisso. Cabe dizer que Legalize Já! é um projeto de 2008 e que passou por muitos obstáculos para sair do papel, e parece ideal a forma de lutar contra arcos maiores através do básico – planos gerais e closes – como maneira viável de implosão de um sentimento geral na metade dos anos 90 e explica o real sentido da frase “Legalize já”.

Essa sentença explica as reais necessidades de sustento em um país afundado na lama e que a alma deve ser vendida ou amada conforme sua necessidade – muito bem executada aqui. Imageticamente essa dicotômica também toma força, dividida entre Skunk e Marcelo com as doses reais para cada um deles. 

Desta aposta mais humilde vem a sugestão de um tributo muito justo à figura de Skunk, o verdadeiro responsável pela existência do Planet Hemp no cenário do rock nos 90 e que perdura até hoje. Dela vem a afirmação de uma história de amor, amizade e convicção, justificando a necessidade de contar essa história – se há a noção do futuro por todo o filme, que se explique o passado, mesmo que seja correndo contra o tempo. Que se conheça o âmago dos jovens daquela época – e que sem coincidências, perdura até hoje. 

Visto no Festival do Rio 2017.

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