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Críticas

Cineplayers

Uma continuação que se aproveita não só do sucesso do anterior, mas também de sua fórmula.

4,0

Virou moda na indústria cinematográfica: se um filme fizer sucesso, dê-lhe uma continuação. O mais interessante é que nenhum gênero escapa dessa fórmula (que, aliás, visa apenas ao lucro). Ação, terror, romance, todos estão atados a esse inevitável costume, até mesmo a boa e velha comédia sofre as conseqüências da ambição pelo dinheiro.

Legalmente Loira que o diga. Lançado em 2001, o filme (dirigido por Robert Luketic) propunha algumas eventuais risadas enquanto mostrava uma comum jovem americana em busca de seus ideais. Na verdade, por detrás de sua comédia razoável, estava aquela mesma história clichê: uma garota envolta por ideologias consumistas e fúteis é subestimada por todos e, ao entrar na faculdade de Direito de Harvard, prova que é inteligente, esperta e capaz de muita coisa. É aí que entram aquelas mensagens de "nunca julgue pelas aparências", "nunca subestime alguém" ou "você pode mudar o mundo".

E Legalmente Loira 2, a continuação proposta a trazer mudanças e risadas renovadas, não conseguiu escapar das fórmulas de seu antecessor. Desta vez dirigido por Charles Herman-Wurmfeld, o filme apresenta uma história aparentemente diferente. Elle Woods, a garotinha fútil do primeiro filme e agora advogada, prepara-se para seu casamento. A festa será tão bem preparada que até mesmo a mãe de Brusier, seu cachorro de estimação, será convidada. Porém, ao encontrá-lo (de maneira milagrosamente rápida), Elle Woods se depara com uma organização que testa cosméticos em pobres animais - entre eles, a própria mãe do cachorrinho. Assim, a advogada vai a Washington, onde pretende formular uma lei para acabar com as cruéis experiências e libertar as indefesas cobaias.

Até aí, tudo bem. O problema aparece com o desenrolar da história. Basicamente, o tempo inteiro somos obrigados a ver a desesperada busca de Elle Woods pela aprovação de sua lei. Aí emergem aquelas mesmas mensagens clichês do primeiro filme, que mostram que uma pessoa é capaz de mudar o pensamento de muita gente, e que, por detrás da maquiagem, podem estar uma mente aberta e um coração sincero. A película, em seus primeiros minutos, parece oferecer uma história completamente nova e variada. Porém, à medida que o enredo avança, observa-se que a trama foi construída apenas para mostrar que aquele universo consumista e oco pode, sim, conter algo válido para a sociedade. Então, nesse aspecto (o conteúdo de quase todo o filme), chega-se à conclusão de que Legalmente Loira 2 e seu antecessor são praticamente iguais.

A própria Reese Witherspoon, que interpreta Elle Woods, não conseguiu mudar muito. Vista por muitos como uma atriz descontraída, flexível e competente, Witherspoon repetiu o mesmo trabalho do primeiro filme, sem acrescentar praticamente nada à sua personagem. O resto do elenco sofreu algumas alterações, com a inclusão de personagens que lembram muito as do primeiro filme. Também a equipe responsável pela produção técnica parece não ter mudado, uma vez que toda a estética do filme permaneceu igual: trilha sonora, efeitos (ou a ausência deles), figurino e maquiagem - estava tudo lá, intocado.

Legalmente Loira 2 parece propor um assunto interessante do mundo contemporâneo, que se fosse abordado de maneira diferente do que o filme trabalhou, poderia se ver livre de clichês: o consumismo. Nos dias de hoje (e graças à influência da globalização capitalista), o mundo ocidental é um grande alvo do consumo. Comunidades inteiras parecem agarrar-se a bens materiais, esquecendo-se da efemeridade da vida. Todavia, parece haver um fluxo de idéias opostas a tudo isso: quem se deixa envolver completamente pelo poder do dinheiro é visto com maus olhos. Aí, cabe a esses pobres vulneráveis ao consumismo lutar pelo que acreditam - e foi exatamente isso que o primeiro filme mostrou. E, quando na continuação foi dada ao diretor uma chance de renovação, repetiu-se tudo.

Enfim, toda a indústria cinematográfica deveria estar ciente de que pode haver continuações saudáveis, que adicionem algo às películas originais. Porém, para que isso aconteça, é necessário que os diretores percebam que seqüências devem, sim, manter as características anteriores, conquanto haja o acréscimo de mudanças significativas. Aliás, algumas continuações, quando elaboradas com esse senso renovador, funcionam perfeitamente. Outras, por mais que se tente, não.

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