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Críticas

Cineplayers

Reflexivo e concentrando-se nos diálogos, o filme apresenta um resultado bastante interessante.

7,5

Leões e Cordeiros (tradução que perde a força da relação entre os dois que havia no título original) é um filme diferente. Focado na discussão política sobre a participação dos Estados Unidos na Guerra do Golfo (e na agora chamada guerra contra o terror), prioriza a reflexão em detrimento da ação. O resultado disso é, na maior parte do tempo, muito interessante.

Leões e Cordeiros apresenta três histórias que, obviamente, se relacionam. A primeira, e mais importante, é uma entrevista – bem solta, em caráter de bate-papo – de um senador, que pretende apresentar uma nova estratégia de guerra a uma jornalista antibelicista. Em seguida, se desenvolve uma outra conversa, dessa vez de um experiente professor universitário com um aluno diferenciado. Para completar (e unir as duas), o terceiro movimento aborda dois jovens voluntários, ex-alunos do professor da segunda história, que estão na linha de frente da nova estratégia apresentada pelo senador na primeira.

Um dos pontos que chama a atenção no filme é a sua forma. Afinal, é algo extremamente raro, ainda mais nos tempos atuais de alta velocidade e consumo imediato, que uma produção americana se concentre tanto nos diálogos. Mais de dois terços da produção são cenas de pessoas trocando idéias, discussões em que pouco ou nada de ação acontece. O que poderia ser insuportável para uma audiência composta de pessoas inquietas se revela o grande mérito da produção. Os diálogos são escritos com altíssima qualidade e conseguem fazer o que normalmente é tarefa da ação: movem a história adiante. As discussões sempre trazem novos elementos, que geram outras possibilidades e, assim, o filme não pára – não causa, jamais, alguma sensação de falta de movimento. Claro que, além dos diálogos, contribuem para isso as cenas da terceira história, que trazem verdadeira ação e contrapõem os outros dois segmentos.

Um aliado à precisão do texto são as boas interpretações que lhe conferem ainda mais qualidade. As estrelas do elenco estão em plena forma: Tom Cruise, um canastrão deveras persuasivo; Meryl Streep, misturando força e fragilidade, e Robert Redford, trazendo uma combinação de desilusão e esperança. Com forte presença na tela, os três conseguem segurar o filme e, ainda, deixar espaço para que os novatos apareçam bem: os dois jovens soldados e mais o aluno displicente mantêm o nível de atuação e evitam que haja uma irregularidade nesse aspecto.

Se há muitos pontos positivos no filme, é preciso ir atrás, também, das fragilidades. A principal delas é a tentativa de impor ao espectador uma visão. Existe uma ideologia por trás dos textos, e ela está posicionada de forma a defender um lado. Isso é algo que começa de forma mais velada, porém, no decorrer da produção, salta aos olhos. Então, muitas vezes, a riqueza do debate é trocada pela unilateralidade de um único ângulo. Claro que isso não resume toda a discussão que existe. Por exemplo, o papel da imprensa – e até onde vai a manipulação – é algo muito importante, abordado no tom certo. Nesse ponto, não há julgamentos, não há vilões e mocinhos. Mas, se a intenção do filme era mudar a opinião das pessoas sobre os Estados Unidos e a guerra, é bem provável que falhe. No entanto, o que a produção pode e deve atingir é o efeito de fazer as pessoas, ao menos, refletirem sobre todo o assunto. E isso, no cinema de massa americano, já conta alguns pontos.

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