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Críticas

Cineplayers

Uma jornada pessoal.

7,0

Não foram poucas as vezes que uma resistência a determinado diretor ou equipe afetaram meu julgamento de um filme. É algo provavelmente inevitável, no que a construção de uma opinião está atrelada a uma construção de gosto que pode enganar trazendo algumas determinações estúpidas. Pouco interessado em Jean-Marc Vallée ou Reese Whiterspoon (pelo menos desde Eleição e Legalmente Loira), foi muito fácil descartar Livre por todas as suas falhas quando o descobri há alguns meses na Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo. Desde então, e por motivos que vão além do interesse, revi o filme duas vezes no cinema; e, embora suas falhas ainda estejam claras, parece-me um erro descartar seus acertos.

Livre, e isso é muito importante para que se entenda o que é feito pelo filme, é uma adaptação do texto autobiográfico de Cheryl Strayed Wild: From lost to found on the Pacific Crest Trail. O maior acerto do filme talvez seja o respeito à narrativa como memória, fora de ordem ou sentido. Assim, embora se acredite entender o trajeto e o objetivo de Strayed na trilha, não se entende as suas motivações até que o filme e sua memória avancem o bastante. Quando isso acontece, percebe-se que não era possível compreender o trajeto e o objetivo da personagem apenas por um um urro indignado na primeira cena. Na verdade, sem a memória de Strayed, não poderíamos compreender sequer o seu urro.

A memória de Strayed, a montagem de Livre e a nossa leitura do filme precisam unir-se em cumplicidade para que a personagem e a realidade da sua história sejam alcançadas. O roteiro consegue ser tão honesto quanto a montagem, e a mesma sinceridade está nas atuações de Whiterspoon e Dern. A única coisa no filme que parece julgar a trajetória de Strayed é a direção de Vallée.

Não sei se é uma marca de sua obra ou mera coincidência, mas os filmes de Vallée insistem em estilizar a vida sexual dos seus personagens, associando visualmente o sexo a um tipo de marginalidade moral. Tanto aqui como em Clube de Compras Dallas, seus personagens não apenas fazem sexo, mas o fazem com marcas de agulha nos braços, maquiagem carregada, aspectos cansados, cumprindo a expectativa estética do marginal.

O moralismo de Vallée faz Livre parecer tolo, mas sua principal vítima é a atuação de Whiterspoon, sempre um passo atrás nesses momentos. É impossível alcançar a realidade do desabafo de Strayed quando esta é transformada em uma caricatura. Felizmente, a charge é negada no texto pela própria personagem. Em um momento poderoso de redenção, ela assume para si mesma que não faria nada de diferente, pois podem ter sido justamente os seus momentos de fraqueza que a levaram ao lugar onde estava então.

Ainda assim, fico na cabeça com algo muito bonito que me foi dito por um amigo sobre Livre e como este se diferencia de outros feel good movies. Isto seria o respeito à individualidade da jornada. Livre, e agora não só concordo como é o ponto que mais me atrai do filme, é uma história pessoal, de uma personagem, que teve suas motivações e seus objetivos. O filme se restringe a querer contar a história dela apenas. Diferente de outros filmes de sujeito urbano em contato com a natureza, como Na Natureza Selvagem, ele não tenta nos dizer o que fazer ou uma razão universal da vida que foi aprendida pelo personagem no caminho. Não, todas as morais que Strayed encontra servem apenas para ela mesma, se as conhecemos é apenas porque Strayed confiou em nós para isso.

Encerro dizendo que gosto muito do título em português, ele está muito mais próximo do que, pra mim, é o filme do que o Wild original. Pensar o filme como selvagem destaca a radicalidade da escolha da protagonista e da sua vida antes da caminhada. Pensá-lo como liberdade já acho bem mais interessante. O Livre que vejo hoje é filme falho, mas bonito, sobre a capacidade de se perdoar. No lugar do feel good movie, o I’m feeling good movie. Uma experiência boa.

Comentários (11)

Rodrigo Cunha | domingo, 18 de Janeiro de 2015 - 13:06

HAHAHAHA

Vcs tem uma imaginação e tanto rs.

Anderson de Souza | domingo, 18 de Janeiro de 2015 - 13:24

Haha a imaginação tbm borbulha na puberdade. 😎

Quando abri a crítica só tinha 2 parágrafos, por isso perguntei se tava incompleta. Acho q não entenderam.

Carol L. | sábado, 24 de Janeiro de 2015 - 03:24

Muito boa a crítica! Concordei bastante com sua opinião sobre o filme, e nem tinha pensado nisso do conservadorismo do diretor, mas faz sentido mesmo. Achei bem pertinente o comentário sobre o título também!

Ver esse filme no cinema foi um alivio depois te uma enxurrada de filmes ruins. Uma boa experiência, de fato.

Caio Henrique | sábado, 24 de Janeiro de 2015 - 19:24

Mermão, esse Katz tava fumando uma maconha estragada da porra

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