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Lolita

(Lolita, 1962)
7,6
Média
423 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

O desejo rendido às sutilezas.

7,0

Há um desejo manifesto no olhar do homem sobre aquele corpo feminino de biquíni estirado sobre a grama e celebrado pelo sol. É um vislumbre erótico inofensivo, enraizado no prazer reprimido por tratar-se de uma jovem em sua adolescência, lasciva em suas atitudes e impudica em seus olhares inclementes. Lolita é um marco na carreira de um dos cineastas mais aclamados pelo público e pela crítica, Stanley Kubrick. Aqui ele disseca a obra literária homônima de Vladimir Nabokov – também responsável pelo roteiro – e constitui um clássico econômico sobre o desejo carnal, assunto que atingiria plenitude em seu último trabalho, o suspense enigmático De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999).

Lolita é considerado um clássico muito mais pela discussão que o envolveu. Um advento que negaria os bons costumes do cinema ainda tímido com relação ao sexo lá no início da década de 60. Cenas de sexo ficaram na sala de edição. A forma branda retratada parece dissonante as propostas de outros filmes do diretor, o que hoje causa certo estranhamento e receio. Kubrick teve o roteiro de seu projeto visivelmente castrado. Já era demasiado divergente segundo o próprio Nabokov. Mas é preciso entender o viés de adaptação e o desconforto temático: a realização e as possíveis questionáveis limitações da obra precisam ser compreendidas a partir do contexto que fora feito.

O ato inicial aturde a memória. Algo se passou num passado até então inacessado. A memória fundamenta o arrependimento do que se fez. Esse é um drama intuitivo até quando adentramos de vez na vida de seu protagonista, o professor Humbert Humbert, que surge na cidade de Ramsdale para depois viajar pelo país e lecionar francês. As circunstâncias engolem o desejo desse homem interessado na beleza da jovem Dolores, nossa Lolita, que ganha às curvas da atriz Sue Lyon. É na casa dela que ele vai morar de favor, e, para não mais ir embora, casa-se com sua mãe, a viúva Charlotte Haze, encantada com a postura intelectual do docente. Desenha-se aí um romance como potencial tragédia. Fica na sugestão.

Diferente de suas obras anteriores – Spartacus (idem, 1960) havia sido seu último trabalho –, o diretor reside num ponto de ebulição urbana, buscando compreender o núcleo de relações familiares, a acidez entre mãe e filha, incapazes de assumirem suas funções. Nesse âmbito, alguns assuntos se repetem como alusão: o homicídio, conforme retratado em A Morte Passou por Perto (Killer's Kiss, 1955) e o estupro, visto em Medo e Desejo (Fear and Desire, 1953). Aqui se acentua a polêmica em torno de uma menor. Com essa oportunidade, a polêmica torna-se atrativa e apimenta a narrativa. Fica distante da proposta original. Na refilmagem de 1997, o inglês Adrian Lyne tentou realizar com maior fidelidade. E fez. Terminou pouco interessante. 

Nas intenções o filme se enterra. Mas enternece nas várias sugestões dos desejos de Humbert que não consegue realizá-los. A impossibilidade de colocar em cena os assuntos correntes devido a polêmica que os estúdios não gostariam de tratar transformam o filme numa narração velada, quase que em tom de fábula, acerca do prazer proibido. Sobram incitações desenvolvidas ao longo da longuíssima duração. A adaptação ficara enxuta apesar das quase 3 horas. Marca-se a impossibilidade de elucidações em benefício da trama: tudo acontece as escondidas, as percepções e vontades são inacessíveis. Traduz-se, então, de maneira mais contida, o dialogo final entre Tom Cruise e Nicole Kidman lá em De olhos bem fechados. Moralmente, o filme se segura abrindo margem para a função do humor que ridiculariza suas próprias restrições. Um estímulo para o gás de sua próxima obra, Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964).    

Devido à censura imposta pelo Código Hays, vigente à época, o filme às vezes parece enroscado, engessado. Isso dá uma conotação diferenciada ao protagonista, que fica preso em suas ambições românticas. Não poderiam aceitar o lançamento de um filme cujo conteúdo destacasse o relacionamento entre um homem bem mais velho com uma adolescente, ainda mais com cunho sexual. O sexo interfere de diferentes maneiras em Lolita, pois fica tão reprimido quanto a própria obra. Resta ao espectador frente à ebulição cobiçosa dos intérpretes tornarem-se voyeurs de um desejo latente. É de certo modo provocativo.

O preto e branco utilizado pelo diretor optou deixou a obra ainda mais luxuosa e obscurecida, frente às pretensões escondidas de seus personagens, todos com bastante tempo em cena, ganhando maior importância pelas mãos do próprio Nabokov, que roteirizou o filme. O trabalho rendeu-lhe uma indicação para o Oscar. A preocupação com a linguagem é notável, a clareza das situações intricadas são sólidas, resultado do investimento do roteiro que, cumprido, manifesta com precisão os temores do desejo. Os atores tiveram material para desenvolver seus bons personagens fazendo-os inteligíveis e verdadeiramente relevantes. O Clare Quilty de Peter Sellers inspira bons momentos e ações nessa trama burlesca e admiravelmente sutil. 

Fica a conduta do diretor, seus planos centrais e abertos caracterizam o espaço, até quando seus breves movimentos de câmera apresentam seus personagens como pedaços que visam um todo. O desejo parte das formas, dos membros, dos gestos. Isso é contemplativo por parte de Kubrick. Ele nos mostra de uma maneira mais ampla, um tanto diferente da ótica do personagem central. Esse viés atmosférico implanta um idealismo romântico, pois sugere e deixa as sugestões em aberto, como num misterioso caso o qual não sabemos se será concretizado. É nessas minúcias que a narrativa tange, saindo de um suspense inicial para um drama particular para enfim transformar-se num romance abarrotado de tiradas intransigentemente cômicas, ou cínicas. É a percepção de um diretor visionário que usou as limitações a favor.    

Comentários (19)

Daniel Vilas Boas | quarta-feira, 16 de Julho de 2014 - 15:26

Filme horroroso,tedioso, nada de magistral na direção. Chato, chato, chato. Os 30 min são ótimos depois só cai ladeira a baixo. Parece que o Kubrick não tava nem sabendo o que fazer com esse filme.

Marcos Freitas | quarta-feira, 16 de Julho de 2014 - 18:59

"Filme horroroso,tedioso, nada de magistral na direção. Chato, chato, chato. Os 30 min são ótimos depois só cai ladeira a baixo. Parece que o Kubrick não tava nem sabendo o que fazer com esse filme". 😲 😲 😲
Só uma resposta pra vc Daniel:
https://www.youtube.com/watch?v=AFOToFNOD68

jorge lucas | sexta-feira, 18 de Julho de 2014 - 18:21

Não gostei desse, lembro de poucas coisas do remake, mas a Lolita do remake eh beeeeeeeeem melhor.

Lucas Souza | sexta-feira, 18 de Julho de 2014 - 19:57

Vou ter q revê-lo para ver se melhoro minhas impressões...

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