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Críticas

Cineplayers

Um drama com toques de comédia de temas bem clichês, mas bem executado e com uma perfeita interpretação de Moore.

7,5

É sobre costume, é sobre preconceito;
É sobre luxúria, é sobre inveja;
É sobre insensatez, é sobre estupidez;
É sobre racismo, é sobre homossexualismo;
É sobre amor, é sobre ódio.

Cada um dos termos empregados acima estão presentes na mais nova obra de Todd Haynes, diretor de “Velvet Goldmine” de 1998, estrelado por Ewan McGregor. Longe do Paraíso não é um filme dramático que exija tanto de sua platéia: é fácil de entender, porém, se você possuir algum conhecimento um pouco mais profundo dentro da sétima arte, irá apreciar melhor a obra de Haynes, notando alguns detalhes e desmistificando outros.

O filme é ambientado na década de 50 e traz todo esse universo vigoroso e requintado norte-americano de maneira de maneira sutil e bela. Inicialmente, somos apresentados a uma típica família americana bem sucedida da época: os Whitakers. Cathy Whitaker (interpretada por Julianne Moore; de ‘Fim de Caso’) é uma típica dona de casa da época. Submissa e prestativa, Cathy está sempre ajudando os mais necessitados, preocupada com o marido, cuidando das crianças, dando festas, enfim... Já Frank Whitaker (interpretado por Dennis Quaid, de ‘O Novato’) é um bem sucedido empresário ocupado demais para se preocupar com os filhos e esposa, entre outras coisas.

Enfim, Cathy e Frank tinham uma imagem forte e eram tidos como símbolos da união e da família na sociedade em que estavam inseridos, até que, numa bela noite, Cathy resolve levar o jantar de seu marido na empresa, uma vez que Frank disse estar super atarefado e, nisso, ela pega seu marido “aos beijos e abraços” com outro homem! Assim começa “Far From Heaven”...

O filme relata diversos aspectos da sociedade daquela época como os já citados no início desta análise. Uma das passagens mais marcantes da personagem de Jullianne Moore é quando a mesma volta para casa depois de dar um flagrante em seu marido. Ela volta correndo para casa e, quando Frank chega, ela chorando começa a falar das coisas cotidianas como “o carpinteiro deixou o cheque”, etc. Cathy não sabia como lidar com tudo aquilo e Moore foi impecável na hora de passar isso ao público.

Não foi surpresa pra ninguém – creio – a forma como a homossexualidade de Frank Whitaker tenha sido tratada na década de 50. Como uma doença, é claro. E logo o mesmo foi à luta em busca de um tratamento e da possível “cura”. Paralelamente a isso, vemos desenvolver-se a história de Cathy e Raymond Deagan (interpretado por Dennis Haysbert). Raymond era o jardineiro (negro) dos Withakers que, aos poucos, vai dialogando com Cathy e tornando-se um amigo íntimo. Um amigo negro íntimo. Isso não soava bem aos olhos das demais “damas-da-sociedade” e logo comentários preconceituosos e racistas pairavam no ar.

É engraçado perceber o confronto dos adultérios nessa parte do filme, se é que podemos chamar disso. Frank, que traiu a mulher com outro homem, era visto como “coitado”, abalado por uma doença, uma pessoa em tratamento; enquanto isso, Cathy, somente por estar na presença de um negro e ter um relacionamento amigável com o mesmo, era motivo de sobra para que Frank logo fizesse um escândalo.

Entretanto, nem tudo é drama em “Far From Heaven”. O filme também é engraçado e traz à tona diversos quesitos das produções hollywoodianas rodadas naquela época. Gestos como “o modo descarado como a vizinhança olhava Cathy e Raymond” denunciam isso. Até mesmo (ou “nem mesmo”) os créditos, iniciais e finais, escaparam dessa reformulação à moda antiga proposta por Todd Haynes. Um momento nostálgico.

Fotografia, maquiagem, vestuário e cenários. São alguns dos aspectos técnicos nos quais Longe do Paraíso é nota 10! A fotografia é um show à parte. Bem trabalhada, os cenários bem vivos e coloridos ajudam bastante nesse quesito. Os personagens estão todos extremamente bem caracterizados para época e agem com naturalidade espontânea. Não senti em passagem alguma do filme ar de superficialidade na parte de caracterização de personagens.

Concluindo, se você gosta de um drama ou um filme que venha simplesmente com exposições de tópicos polêmicos em tempos irremediáveis, dê uma chance à “Longe do Paraíso”, que está chegando, com muito atraso, aos cinemas brasileiros. O filme de Haynes foi indicado para quatro Oscar e é sucesso de crítica. Não perca!

Não comentei muito a respeito da atuação de Julianne Moore mas creio que em uma palavra consiga sintetizar tudo: perfeita!

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