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Críticas

Cineplayers

Madagascar foi uma aposta que acabou não funcionando muito bem, visando focar o público bem infantil com piadas ingênuas e animação mais cartunescos.

5,0

Com Madagascar, cheguei a uma conclusão: a DreamWorks é o estúdio responsável pelos piores filmes de animação por computação gráfica da atualidade. Tirando os dois Shrek, a empresa lançou dois filmes que não mostram o porquê das animações por computador terem desbancado com tanta intensidade as tradicionais, que praticamente deixaram de ser feitas pelos grandes estúdios americanos (caso mais grave foi a Disney, que fechou seu setor deste tipo de animação). A DreamWorks, ano passado, lançou O Espanta Tubarões, que  é  chato e totalmente sem graça, o provável pior filme por computador até o momento; e agora Madagascar, que até tem seus momentos, é mais infantil, mas não chega aos pés dos filmes dos estúdios rivais, como os da Pixar (Procurando Nemo, Os Incríveis) e a Fox (Robôs).

E é fácil constatar que houve um grande e errôneo julgamento quanto às animações que utilizam a técnica tradicional. Quando as últimas que surgiram fracassaram junto à crítica e ao público, todo mundo apontou como causa a técnica, afirmando que as pessoas estariam mais interessadas em ver filmes por computação gráfica, que são mais modernas, visualmente mais interessantes. O que aconteceu, na verdade, foi que os resposáveis critivos pelos filmes tradicionais não estavam encontrando soluções  que fossem acessíveis tantos aos pais e aos filhos, sem ter que cair na mesmice; enquanto isso, as animações computadorizadas traziam roteiros originais e brilhantes (basta dizer que Os Incríveis, Procurando Nemo e Shrek foram indicados ao Oscar da categoria).

E o roteiro é a principal falha de Madagascar. Escrito pelos próprios diretores em colaboração com mais dois outros roteiristas, peca em alguns pontos imprescindíveis, como não conseguir atingir ao público adulto que está tão interessado neste tipo de produção quanto as crianças. O próprio tema também parece esgotado, pois já vimos tudo isso desde Robinson Crusoé até aquele filme horrível de Madonna, Destino Insólito, passando pelo clássico oitentista A Lagoa Azul. E, para piorar, grande parte das piadas não funcionam, logo mais para o público brasileiro que assiste a versão dublada do filme.

No zoológico central da cidade de Nova York, os animais vivem como reis. Alex, o leão (voz de Ben Stiller) é o astro principal, a grande atração. Seu melhor amigo é a hiperativa zebra Marty (Chris Rock). Há também a sensata Gloria, a hipopótamo (Jada Pinkett Smith), e Melman, uma girafa hipocondríaca (David Schwimmer, o Ross da extinta série Friends finalmente em um papel no cinema adequado à sua persona).

A aparente tranquilidade dos animais é perturbada quando Marty decide fugir do zoológico para descobrir como é a vida no mundo selvagem. Quando seus amigos descobrem o plano, tentam impedir a fuga, mas acabam embarcando na aventura (as cenas dos animais em plena metrópole são as melhores). Os animais acabam parando em uma ilha deserta, onde ocorrerão as adversidades típicas: a falta de comida, o isolamento, os desentendimentos entre si, a descoberta de perigos e a redenção final. É nesta parte que o filme perde força e se torna apenas burocrático.

É uma grande armadilha. É visível a intenção do filme em focar um público-alvo bem infantil, já que os filmes da Pixar e mesmo Shrek tem um apelo adulto forte, difícil para as crianças. Aqui, os produtores quiseram piadas mais ingênuas, os traços de animação mais simples, cartunescos, sem preocupação em ser realista. Foi uma aposta que acabou não funcionando muito bem, já que o filme ficou desequilibrado. Mas ninguém tem que se queixar, já que a produção rendeu rios de dinheiro e já ultrapassou os 160 milhões de dólares somente nos Estados Unidos.

É claro que o filme tem seus pontos fortes. Ao meu ver, mais especificamente três. A personagem Marty, a zebra, é um achado. É um personagem mais secundário, mas que rouba muitas vezes a cena com seu histrionismo e falta de jeito. Não chega a marcar como uma Dory, por exemplo, mas deixa sua marca. Outro ponto a favor é a trilha divertida e alegre do alemão Hans Zimmer, que já tinha trabalhado em O Espanta Tubarões. Há inclusive uma musiquinha muito divertida, chamada no original "I Like to Move It", de Erick Morillo, que aqui recebeu a tradução "Eu Me Remexo Muito" ou algo parecido. Mas quem realmente se destaca é um grupo de pingüins mafiosos que simplesmente arrasam toda a vez que estão em cena. Eles são abusados, perigosos, super divertidos. E são também os personagens mais adultos em cena. O que, definitivamente, faltou ao filme. Uma sugestão: filme-solo para eles!

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