Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Temas relevantes. Execução nem um pouco.

4,0
O segundo longa de Shin Su-Won após Pluto (idem, 2013) aposta no gênero do filme de mistério, correndo duas histórias em paralelo: na primeira, a enfermeira Moon é empregada na ala VIP de um hospital e conhece os segredos por trás da organização: seu principal cliente é o magnata Kim, que sofreu um derrame há dez anos e é mantido vivo por seu filho, o abusivo playboy Sang-woo. através de uma série de transplantes de órgãos – uma vez que, assim que o idoso falecer, todo o dinheiro irá para instituições de caridade e seu filho fica apenas com uma casa. Um dia, chega ao hospital uma mulher sem nome com morte cerebral, que Sang-Woo manda investigar sua identidade e descobrir algum parente vivo que consinta uma doação de órgãos para o debilitado Kim. Eis que começa a história de investigação e o início da empatia de Moon: aquela mulher, identificada primeiramente como uma prostituta chamada Madonna, está grávida.

Eis que o filme retrocede anos no tempo para justamente contar a história de sua segunda protagonista, Mina Jang, ou “Madonna”, uma jovem vítima de bullying e abuso desde cedo, pelos mais variados motivos: peso, pobreza, a cor diferente do cabelo... A história de Mina é uma verdadeira via crucis, onde na vida adulta a protagonista cresce introspectiva, desenvolve uma compulsão alimentar e é assediada por homens em todos os empregos onde é admitida. As circunstâncias inevitavelmente a levarão à marginalidade e à prostituição.

Uma história triste que acontece em larga escala em uma sociedade que falha em integrar seus indivíduos é dirigida por Shin Su-won ao longo do desenvolvimento da narrativa abandonando o gênero de investigação e mistério e caindo cada vez mais em um ciclo vicioso de abusos, no presente e no passado – nos homens que Mina encontra ao longo de sua vida, nos funcionários do hospital que Moon é obrigada a conviver todos os dias – e aí que mora um dos grandes problemas: a exposição do problema acaba com o tempo se tornando mais importante do que qualquer construção dramatúrgica.

Madonna padece de um didatismo óbvio: seus conflitos são maniqueístas, os personagens pensam alto o que deveria ser subtexto, a discussão das temáticas do filme é literalmente explicada por alguns dos diálogos. Entram nesse mérito também a insistência no elemento onírico simbolizando de forma redundante o que acabou de acontecer – se Moon está obsessiva por Mina, ela a vê na rua; quando tem que tomar decisões difíceis sobre sua vida, imagina-se estar conversando com a mesma; o último plano do filme é uma síntese do seu clímax. As ferramentas de gênero não são utilizadas de maneira inventiva: depois de um tempo, basicamente tudo será solucionado com a alternância de plano, contraplano e plano geral e o final pode ser antecipado meia hora antes do término.

Sim, Madonna tem todos os clichês, e pior, vícios do melodrama: é justamente o que se cristalizou no imaginário popular ao utilizar o nome da tradição artística como adjetivo pejorativo. O interesse inicial se desmancha a favor de um filme que em nada problematiza ou questiona – apenas empurra suas situações sofridas pela perversidade sádica dos antagonistas esperando que já concluamos o óbvio: esses atos abusivos são condenáveis. E como em um esboço de condução narrativa que dá lugar à facilidade estético-narrativa conveniente, o ato racional de assistir desaparece; apenas se absorve o que se assiste. E acaba, sem muito a pontuar.

Comentários (0)

Faça login para comentar.