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Críticas

Cineplayers

Músicas contagiantes do ABBA salvam um roteiro horroroso e interpretações pífias.

5,0

Baseado em uma peça da Broadway, comandada pela mesma pessoa responsável pela direção do filme, Phyllida Lloyd, Mamma Mia! já é, no momento em que esta crítica estava sendo escrita, um musical de grandioso sucesso comercial, arrebatando platéias ao redor do mundo com as contagiantes músicas do ABBA e um roteiro fraquíssimo, mas bom o suficiente para que o público não se afogue na pipoca tendo que pensar muito. É basicamente uma novelinha musicada. Absolutamente esquemático, MM apresenta um dos roteiros mais frouxos deste ano e, se não fosse a força das canções, decentemente interpretadas pelo elenco milionário, o filme poderia ir direto para a lata de lixo.

Afora as músicas, ótimas (embora isso não seja mérito do filme, pois não há canções originais nele), pouco sobra senão um romance para adolescentes do sexo feminino com a inteligência de uma noz. O primeiro ato do filme é um show de futilidade, com garotas rindo, gritando e fazendo-nos perder nosso tempo em um mar de clichês de filmes adolescentes. Há pouco o que ver ali se você tiver mais do que 13, talvez 14 anos. Amanda Seyfried, a protagonista, linda, exagera em suas expressões em todas as cenas, criando uma atuação artificial e bastante forçada. Mesmo Meryl Streep parece ter voltado à sua adolescência, fazendo um papel de uma fêmea confusa, que não sabe se quer ser independente ou entregar-se ao homem de sua vida. Pelo menos dessa vez não há discursos feministas ofensivos e exaltados.

Mas não pode-se negar que o filme é mesmo das mulheres. Elas são as estrelas, e a ala masculina está lá para enfeitar e sofrer na mão delas, com a indecisão e bagunça provocadas pela insegurança feminina. O final (que não contarei aqui, é óbvio) é particularmente constrangedor, de tão novelesco e sem sentido que acaba se mostrando. É também um tanto quanto constrangedor ver Colin Firth, Stellan Skarsgård e Pierce Brosnan submeterem-se a isso (embora o primeiro e o último já estão um tanto quanto acostumados, vindos de outras comédias românticas bobinhas). Os três, homens crescidos que são, voltam também à adolescência e entregam-se a papéis que os fazem parecer bobos. Claro, no final das contas isso pouco importa: o objetivo é soltar-se e cantar junto dos atores. O astral para isso existe, é um filme que pede pela participação de seu público (mas não faça isso, falar ou cantar dentro do cinema é falta de educação).

Se as interpretações deixam a desejar (sobretudo por causa do fraquíssimo roteiro), pelo menos na hora de soltar o berro e cantar os atores desempenharam um papel agradável. Não sou exatamente um conhecedor de música, mas sei separar o que agrada ou não musicalmente de uma forma bem geral, e as canções de MM foram muito bem cantadas, além de possuírem boas coreografias, com exceções esporádicas, onde o mau gosto acabou tomando conta. A Grécia foi o país escolhido para dar clima ao filme. É a segunda melhor coisa de MM. Infelizmente, porém, o uso do chroma key acabou tirando a beleza de algumas cenas. Por outro lado, pelo menos esse recurso foi utilizado com responsabilidade pela diretora, que conseguiu estragar apenas um ou dois pares de cenas menores com ele.

Para o mercado o sucesso de Mamma Mia! é muito bom, e ratifica a onda positiva que começou com Hairspray – Em Busca da Fama, de 2007. Pessoalmente, sou apaixonado por musicais, e ainda que este aqui não seja especialmente bom, é sempre revigorante ver um novo exemplar do gênero nos cinemas. Talvez, assim como os faroestes, eles continuem ganhando força e voltem a vislumbrar os seus anos dourados. Isso, pelo menos, MM trouxe de bom. No final das contas, passada a empolgação das músicas e a subida dos créditos, o melhor é relembrarmos os grandes filmes do gênero: A Noviça Rebelde, Moulin Rouge, Cantando na Chuva... esses sim, filmes que ficam em nossas mentes anos depois de serem assistidos. Mamma Mia! é apenas diversão passageira.

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