Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Outra produção descartável do gênero, com Uma Thurman mais desconfortável que nunca.

3,0

O cinema de gênero norte-americano anda cansado, o que não é novidade. Em meio a filmes desenvolvidos sob medida para um público pouco exigente, familiarizado com a homogeneidade dessas produções, o mercado de comédias românticas é um dos mais fracos – e menos originais. Raramente algo de novo aparece entre a tonelada de produções normalmente direcionadas ao público feminino e, infelizmente, Marido por Acaso não é exceção à regra.

No filme, Uma Thurman vive Emma Lloyd, doutora que atende mulheres e as aconselha amorosamente através de um programa de rádio, na cidade de Nova York. Quando implicitamente sugere para que uma ouvinte termine seu relacionamento, mesmo estando prestes a se casar, ela trava sem saber uma batalha pessoal contra o bombeiro Patrick Sullivan, o pretendente descartado por sua espectadora. Patrick decide se vingar de Emma, que está com seu casamento marcado, e com a ajuda de um pequeno hacker prega uma peça na moça: se torna seu marido.

Uma pequena sinopse e todo o restante do filme já é anunciado, de forma praticamente explícita. Já faz um bom tempo que o cinema comercial carece de inteligência, e uma simples premissa normalmente entrega todos os altos e baixos de um filme. Pode-se imaginar, por exemplo, com quem a personagem de Uma ficará no filme, um dos principais acontecimentos dessas produções. Ainda se pode prever, dedicando um pequeno momento para analisar a trama de um filme como este, quais serão os principais desafios da protagonista, incumbida de resolver o problema que lhe apareceu. Tão logo o espectador questione e resolva tais problemas, todo o desenrolar do filme se perde, se desmistifica, tornando a sessão apenas monótona e descartável. Mas então temos então outra realidade nada desconhecida relacionada ao universo do cinema: o espectador, normalmente, não questiona. E essa verdade alimenta grande parte da indústria cultural contemporânea que, direcionada ao público passivo, continua lançando produtos uniformes e descerebrados para entretenimento.

Deixando de lado a digressão e retomando o foco da análise, Marido por Acaso, como já mencionado, se apóia nas convenções e em fórmulas repetidamente exploradas por outros filmes. A obviedade do roteiro surpreende quando se descobre que o mesmo foi escrito a seis mãos, por Mimi Hare, Clare Neylor e Bonnie Sikowitz. Com passagens cômicas infantis e sem graça, tendo em outros momentos sérios mais humor presente que nas passagens onde o mesmo era intencional, Marido por Acaso desagrada ainda mais por passar pequenas lições de moral e contar com personagens quadrados e nada críveis.

O melhor exemplo é sua própria protagonista, doutora especialista em relacionamentos humanos que dá conselhos banais como “se mexer com fogo, você pode se queimar” e “não procure por faíscas, pois elas podem causar incêndio”. Mas nada como um bombeiro na sua vida para apagar esse fogo, não é mesmo Dra. Lloyd? Fica a dúvida se a personagem foi concebida para possuir algum grau de parentesco com o personagem de Jim Carrey, presente numa conhecida comédia de 1994, ou se tudo é apenas coincidência.

Se os problemas acima descritos pudessem ser desconsiderados, outros elementos poderiam tornar a experiência do filme mais agradável, como o seu elenco, que normalmente é escalado como chamariz para o grande público nesse tipo de filme. Porém, em outro dos vários problemas de Marido por Acaso, o elenco e principalmente sua protagonista não merecem muitos méritos. Uma Thurman, que deveria ser especialista em comédias românticas – considerando que recorrentemente protagoniza filmes do gênero -, está deslocada e insossa, bastante desconfortável em seu papel. O único ator que se destaca no filme, ao lado de um apagado Colin Firth, é Jeffrey Dean Morgan, carismático intérprete que esteve também em P.S. Eu Te Amo, que ganhou reconhecimento através do melancólico Denny Duquette, da série televisiva Grey’s Anatomy.

Griffin Dunne, ator que já trabalhou com Martin Scorsese em Depois de Horas (mas que notavelmente não aprendeu nada com o diretor), e que tem no currículo a direção de Da Magia à Sedução e A Lente do Amor, comanda de maneira sofrível Marido por Acaso, com uma péssima direção de atores e câmeras em locais impróprios – uma espécie de subjetiva de um prato de comida sequer merece questionamento. Para piorar a situação, a montagem do filme desconsidera a possibilidade de corrigir problemas da direção e entrega uma produção com mais cortes que qualquer filme de ação do ano, o que a torna confusa em momentos indevidos.

Lançado originalmente no ano passado nos Estados Unidos, Marido por Acaso ficou engavetado todo este tempo no Brasil, esperando uma oportunidade para aparecer nos cinemas em um momento sem muitas produções concorrentes, igualmente destinadas ao público feminino. Sem nada a acrescentar ao gênero, Marido por Acaso será esquecido em pouquíssimo tempo, ao lado de vários outros filmes estrelados por Uma Thurman, como Minha Super Ex-Namorada e Terapia do Amor. Thurman encara a realidade de Hollywood e é a prova viva de que nem só de Tarantinos se vive um ator norte-americano.

Comentários (0)

Faça login para comentar.