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Críticas

Cineplayers

O domínio da linguagem cinematográfica por Hitchcock é evidente, porém o diretor parece ter sido menos perfeccionista nesta obra que em outras que o consagraram.

7,5

Adornado por um péssimo subtítulo brasileiro, Marnie - Confissões de uma Ladra é mais um trabalho muito bem executado por Alfred Hitchcock. Se aqui não há o suspense que caracteriza muitas de suas produções, outros elementos surgem para capturar o interesse do público. Marnie conta a história de uma moça (Tippi Hedren) que costuma limpar o cofre da empresa em que trabalha e depois sumir. Ela utiliza o dinheiro para sustentar a mãe. Além disso, sabe-se que estranhos traumas atormentam Marnie. As coisas ganham novo rumo quando seu novo patrão (Sean Connery) a reconhece e, mais que isso, passa se interessar por ela.

Marnie é, acima de tudo, um filme de personagem. Na verdade, de uma só: embora Sean Connery tenha uma presença forte, seu Mark Rutland apenas serve de amparo para o desenvolvimento e a construção da complexidade de Marnie. É nisso que o filme se baseia: nos dois eixos da ladra. Um é o caminho adiante, a trajetória dela que está sendo contada; outro é uma busca atrás de respostas no seu passado que ajudem a entender o comportamento no presente narrativo.

A opção por executar um movimento em ambas as direções funciona, pois mantém duas tensões armadas: os conflitos que acontecem e a busca pelos que aconteceram. Para tornar a trama mais tensa, vários elementos são adicionados, como o constante medo de que ela seja descoberta. É interessante o fato de Rutland fazer um esforço enorme para, ao mesmo tempo, esconder dos outros o passado da amada e tentar, ele, desvendar os mistérios dela.

Hedren consegue personificar toda a frieza da personagem. Seu olhar tem o tom exato, em que há alguma docilidade por trás da fortaleza exibida. Talvez seja isso que desperte o interesse do personagem de Connery: ter visto a fragilidade por trás da mulher de pedra. Essa dualidade no caráter de Marnie é mais um elemento que enriquece o filme.

Há, no entanto, problemas. O roteiro não é, pode-se dizer, redondo, e algumas coisas parecem ficar fora do lugar, enquanto que outras são explicativas demais, quando poderia haver mais espaço para a construção do público. Além disso, a solução final tem algo de artificial. É esse traço meio caricato, que surge em determinadas situações – como em momentos da própria atuação de Hedren –, que diminui um pouco o impacto. O que poderia ter sido uma obra-prima torna-se apenas um bom filme.

É evidente que isso não é pouco, e Marnie tem seus méritos. Há diversas cenas construídas com brilho, como a do roubo (em que há tensão total) e a do beijo, visualmente belíssima. O domínio da linguagem cinematográfica por Hitchcock é evidente, porém o diretor parece ter sido menos perfeccionista nesta obra que em outras que o consagraram. Mesmo assim, Marnie é válido pela boa narrativa e pela complexa composição da protagonista.

Comentários (2)

Pedro Paulo Vieira Silva | segunda-feira, 28 de Abril de 2014 - 22:47

esse filme é uma aula de condução, Hitch habilidoso como sempre nos planos, a modo de intensificar o suspense.

a crítica ao roteiro também é sem sentido.

Pedro Paulo Vieira Silva | segunda-feira, 28 de Abril de 2014 - 23:10

até o Mark se torna uma espécie de Freud em determinado momento, pra que possamos parar e só analisar a personagem.é quando se consegue enxergar todos esses elementos.

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