Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Um filme de vampiras lésbicas sem sexo, violência e sangue, compensado com muita idiotice.

4,0

Antes mesmo de sua distribuição, Matadores de Vampiras Lésbicas conquistou certa simpatia no círculo cinéfilo por supostamente habitar uma também suposta escola de filmes despretensiosos, o que é uma verdadeira mentira. Primeiro por esta escola – caso ela exista, pois é evidente que todo filme possui uma pretensão, nem que seja fazer rir - ser representada por filmes muito mais coerentes com este espírito porralouquista, caso como o de Segurando as Pontas, pra ficar em um lançado recentemente no Brasil. Segundo, e principalmente, por ser um filme rasteiro e ultrajante, para o qual é muito mais valioso, por exemplo, explorar o humor no momento da edição da imagem do que no de sua captura, que é onde essencialmente se constrói o Cinema.

O filme é um festival de muletas cinematográficas desde a escolha de seu título, que assim como a maior parte dos elementos temáticos – sexo, lesbianismo, vampirismo, cinema terrir – tem como interesse exclusivo a atração que provoca no público-alvo de seu filme: garotos adolescentes e viciados em filmes de horror – realmente, nada pretensioso. Mas tudo é tragicamente aproveitado. O sexo inexiste, a não ser através de trocadilhos engraçadinhos; o lesbianismo é um embuste, até porque não acredito que alguém consiga se excitar por bonecos cobertos com CGI; o vampirismo é representado unicamente pelo fato de as mulheres terem dentes caninos afiados, provavelmente muito úteis para roerem osso, já que sangue pouco chupam; e o terrir...

Bem, o terrir é vergonhoso. Por sorte ou ironia, estamos no ano em que Sam Raimi resolveu se dedicar novamente às suas raízes e mostrar para a juventude, que provavelmente não entendeu a mensagem pois está com seu senso de humor praticamente atrofiado pelos filhos de Todo Mundo em Pânico, qual a verdadeira essência do terrir. A comparação entre Arraste-me Para o Inferno e Matadores de Vampiras Lésbicas é uma infâmia, é verdade, mas me parece justa a partir do momento em que se analisa os rumos que a sátira do terrir têm tomado atualmente e, principalmente, as possibilidades que a envolvem como Cinema.

O que existe de mais impressionante no filme de Raimi é justamente a precisão com que o diretor, responsável por A Morte do Demônio - que é claramente referenciado em Matadores de Vampiras Lésbicas -, consegue equilibrar as técnicas modernas de Cinema com os elementos do Cinema que está emulando. Os detalhes em CGI que pontuam algumas de suas principais seqüências são exatamente isto: detalhes, pequenas frações da imagem. Na cadeia hierárquica, antes deles, existe o planejamento de ângulos, de cortes, das luzes e da disposição dos elementos no quadro - existe, enfim, a mise-en-scène. As seqüências de ação, nas quais Raimi utiliza a edição frenética como forma de explorar e, principalmente, detalhar pontos específicos desta ação, ao invés de confundi-la como normalmente fazem os apaixonados por estas modernices, funcionam claramente como ponto de encontro entre estas duas épocas distintas: a nossa e a do cinema terrir.

É então que voltamos a este Matadores de Vampiras Lésbicas, outro dos filmes-conseqüência de Todo Mundo Quase Morto, eficiente debute de Edgar Wright. Desde as primeiras imagens, estas modernices estão lá, pulsando na tela, e assim o filme decorre até o final, desejando ser uma espécie de terrir sem terror. O que acompanhamos, então, é um exercício de pós-cinema que não desperta o menor dos interesses: CGI’s; cortes frenéticos; edições bacanudas, com constantes acelerações da imagem que aparecem em cena pelo simples prazer de utilizar estas ferramentas ultramoderninhas, que são vergonhosamente transformadas em prioridade cômica; efeitos sonoros extra-diegéticos, brincando com a linguagem de desenho animado de maneira constrangedora; e letreiros engraçadinhos, que surgem em momentos inoportunos tentando desesperadamente transmitir com a escrita as piadas que não simplesmente funcionam auditivamente ou através da imagem, já que afinal a imagem é o que menos interessa com tantos recursos assim para se utilizar na mesa de edição.

Pode parecer rancor ou saudosismo, mas no final das contas esta linguagem escolhida por Phil Claydon, curiosamente oriundo da MTV britânica, não funciona nem mesmo se esquecermos que isto é Cinema, e não um No Limite pseudotrash pelas místicas florestas européias. De todas as promessas feitas pelo próprio filme, desde a temática escolhida até a proposta de filme apresentada em seu primeiro ato, Matadores de Vampiras Lésbicas é uma tragédia. Não funciona como horror; não funciona como sátira; não funciona como comédia; não funciona como filme-emulação. Só não recebe um zero pois a escolha do elenco feminino é primorosa. Uma pena que fiquem por tão pouco tempo sem aquela ridícula maquiagem de espantalho de vampira.

Comentários (0)

Faça login para comentar.