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Críticas

Cineplayers

Tiros sob o sol: o exploitation competente de Canevari.

8,0
Dono de uma curta filmografia, o realizador Cesare Canevari passeou por diversas vertentes do exploitation italiano na década de 1970. Do nazisploitation ao blaxploitation de exotismo, o diretor apresenta trabalhos bem acabados e com uma forte marca pessoal. Foi um dos nomes que conseguiram ir mais longe na busca pela extrapolação de limites que foi o cinema popular daquela década no mundo inteiro.

Mostras quase ininterruptas do sexo e a violência, o velho lugar-comum da aproximação entre Eros e Thánatos, os filmes de Canevari são surpreendentemente competentes na questão do ritmo. Suas decupagens são dinâmicas e relativamente bem amarradas, o que consegue prender a atenção de um espectador comum, sem necessariamente precisar se prender às temáticas de exploração sensacionalistas de seus trabalhos.
 
Matá-lo (1970), um spaghetti western entre tantos os produzidos na Itália no período - seguindo a onda dos grandes filmes de Sergio Leone e Corbucci -, apresenta algumas características inventivas no que tange à sua forma, sendo uma pequena pérola esquecida na enxurrada de filmes de motivo similar que a época trouxe.

O filme é focado nas traições de um grupo de bandidos em algum lugar do Velho Oeste mítico desse subgênero, onde a máxima de Jean-Pierre Melville sobre o cinema ser o local onde a realidade e o sonho se confundem numa confluência de melhoramento - ou de geração de interesse - é extremamente válida. Mas esse não é o ponto que merece ser observado com maior atenção.

O diferencial do filme está em suas escolhas estéticas ligadas ao público jovem. A trilha sonora, um rock psicodélico tipicamente setentista, empresta uma tonalidade pós-hippie ao filme. Assim como os figurinos, que mesclam adereços modernos às roupas dos caubóis e pistoleiros. A tatuagem no braço de Lou Castel, que interpreta o gangster Ray, é um dos traços estranhos à ambientação do faroeste.

Canevari também explora enquadramentos um pouco mais ousados, para ilustrar melhor essa lisergia. Exemplos disso são a cena onde uma mulher tortura um homem, amarrado sob um sol escaldante, passando uma faca quase rente ao rosto dele. O contra-plongeé ressaltando a superioridade da torturadora no momento, enquanto ela vai, em movimento pendular, num balanço, brincando com a agonia de seu cativo.

Outro momento é uma cena onde a câmera está colada a um bumerangue, acompanhando sua trajetória no ar até alcançar o alvo. Ou quando, em meio a um tiroteio, a câmera gira de forma frenética, simulando o efeito de uma droga qualquer, certamente familiar ao público que poderia se sentir atraído por essas brincadeiras estéticas.

O centro da narrativa não são os mocinhos, e sim os bandidos. Contudo, não é um exercício de amoralidade, como em filmes como Django e Era Uma Vez no Oeste. A dicotomia bem-e-mal está presente, só que de cabeça para baixo. A jornada do herói é apresentada de trás para a frente - ressalte-se aqui essa estrutura de narração: o filme não é um experimento de ruptura, mas de outro andamento nesse liame.

Em todo o universo de spaghetti westerns, Matá-lo certamente se destaca como um dos mais interessantes, sem perder o seu apelo popularesco pela violência. Um filme que é um retrato da época em que foi lançado, principalmente nos pontos onde tenta se diferenciar do clichê do mesmo período.

Comentários (3)

Victor Ramos | quarta-feira, 17 de Fevereiro de 2016 - 02:53

Esse filme é demais.

Felipe Ishac | quarta-feira, 17 de Fevereiro de 2016 - 06:54

bom texto, esse filme parece interessante.

colocarei na minha lista 😁😁

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