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Críticas

Cineplayers

Irregular, a produção é lembrada pelos fãs de aviação, mas esquecida pelo restante do público.

6,0

De Asas, primeiro vencedor do Oscar, ao recente Flyboys, passando por A Batalha da Grã-Bretanha e Top Gun, o mundo da aviação sempre foi uma fonte de inspiração para cineastas. E não poderia ser diferente. A possibilidade de construir seqüências empolgantes nos céus e as histórias de heroísmo e superação provenientes de acontecimentos reais são um prato cheio para qualquer contador de história, além, é claro, do fato de que obras desta natureza possuem seu público fiel e apaixonado.

Produzido em 1990, Memphis Belle - A Fortaleza Voadora, apesar de não poder ser considerado clássico, é uma referência para os entusiastas da aviação. O diretor Michael Caton-Jones e o roteirista Monte Merrick contam a história real do bombardeiro Memphis Belle e sua equipe durante a Segunda Guerra Mundial. Após vinte e quatro missões bem-sucedidas, a tripulação precisa apenas completar mais uma para poder voltar para casa. Mas claro que nada será fácil.

Memphis Belle é um filme que cumpre o que promete e nada mais. Em menos de duas horas, Caton-Jones cria uma obra com bons momentos de ação, porém com alguns problemas narrativos. Dentre eles, o mais destacado é a forma como desenvolve os personagens. Todos, sem exceção, não passam de estereótipos: há o sedutor, o sensível, o brigão, o chefe durão e diversos outros clichês. O roteiro não constrói arco dramático para qualquer um deles e os personagens chegam ao final do filme rasos e superficiais como no início.

Por outro lado, Caton-Jones faz um bom trabalho ao estabelecer um clima de camaradagem entre eles. Focando os primeiros quarenta minutos apenas na relação entre os soldados, o diretor consegue fazer o espectador acreditar que aqueles jovens são amigos de verdade e estão dispostos a dar a vida pelo companheiro. Ainda que nada de mais profundo saia de qualquer personagem, este tempo passado junto a eles cria um laço de identificação fundamental para que a platéia se preocupe com o destino de cada um, lastro necessário para que as cenas de combate aéreo ganhem em tensão.

Da mesma forma, é eficaz a opção por mostrar tudo apenas do ponto de vista da tripulação do Belle. A câmera de Caton-Jones jamais se posiciona dentro de outro avião, conseguindo colocar o espectador ao lado dos protagonistas. Algumas das melhores cenas resultam desta perspectiva, como aquela na qual ouvimos apenas pelo rádio o desespero de outra tripulação, enquanto a equipe do Memphis Belle observa o avião abatido rodopiando em direção ao solo.

A decepção fica por conta da falta de uma tensão crescente. O avião e os personagens enfrentam alguns problemas, sim, mas nada que pareça demasiadamente ameaçador. O espectador não sente que a equipe do Belle realmente passa por riscos e a ausência de um clímax mais emocionante certamente colabora para isso. Eles são atacados algumas vezes e de forma praticamente igual – o último ataque sofrido por eles é igual ao primeiro.

Sem contar ainda com grandes destaques em termos de atuação, especialmente pelo fraco desenvolvimento dos personagens, Memphis Belle é um filme que possui problemas narrativos e derrapa em certos clichês. Por estas razões, jamais escapa do lugar-comum do gênero, apesar de ter um bom ritmo e não cansar em qualquer momento. Esta irregularidade só poderia dar no que deu: uma produção lembrada pelos fãs de aviação, mas esquecida pelo restante do público.

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