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Críticas

Cineplayers

O riso mais fácil.

4,0

Há bem poucos anos, eu era aquele cara que ia a fóruns de cinema defender, entre gente grande, a admirável média de qualidade das animações. Lembro que divagava sobre o cuidado que os desenvolvedores deviam ter com um projeto tão minucioso, que, mais do que tomar tanto de seu tempo, precisava de um carinho extra para a concepção das linhas e cores de um personagem e cenários (algo que se perdera há muito no “cinema convencional”, eu dizia), com o objetivo de encantar a criançada, estimular a capacidade de divertir adultos e, como os resultados faziam notar, o compromisso dos animadores em realizar um trabalho de excelência.

Tal concepção lúdica não foi apenas moldada na cabeça de um indivíduo deslumbrado, mas de toda uma geração que, durante a infância, conferiu a real magia de Disney com Aladdin (idem, 1992) e O Rei Leão (The Lion King, 1994) e acompanhou o revolucionário debute da Pixar com Toy Story (idem, 1995); pôde se identificar, já na adolescência, com a história do ogro Shrek (idem, 2001) e do protagonista diante da emancipação de Procurando Nemo (Finding Nemo, 2003); e, na fase adulta, consegue percebe as sutilezas de obras-primas como Mary & Max – Uma Amizade Diferente (Mary & Max, 2009) e Toy Story 3 (idem, 2010). Os tempos são outros, porém. Infelizmente.

A alta da indústria de animação computadorizada é marcada por avanços tecnológicos e retrocesso em custos, terreno fértil para a proliferação de profissionais menos caprichosos e mais gananciosos – e, em seu quarto longa-metragem, a Illumination Entertainment surge como o maior (ou pior) exemplo disso. Meu Malvado Favorito 2 (Despicable Me 2, 2013) nada explora além da premissa apresentada em seu antecessor. Ok, quase nada: as adoráveis Margo, Edith e Agnes desejam uma família completa, e procuram uma namorada para seu pai adotivo. A candidata favorita é Lucy, agente da Liga Anti-Vilões encarregada de convencer Gru a conduzir uma investigação em busca de um vilão misterioso. Acreditem, isso é nada.

Se Meu Malvado Favorito (Despicable Me, 2010) já tinha o problema de subaproveitar uma premissa muito interessante ao entregar a fraude do vilão-protagonista de bandeja, aqui nenhum dos elementos motrizes é minimamente desenvolvido. Primeiramente, Gru brada que não voltará a campo – somente para, depois, o próprio ir em busca da Liga Anti-Vilões, e pelo mesmo motivo que o fez recusar a oferta inicialmente. O mistério em torno do vilão é, sem exagero, um dos mais patéticos do cinema, sendo apresentado e justificado no momento em que surge o primeiro suspeito, então descartado, somente para depois ser aproveitado de novo (artifício que não ludibria nem seu terno e inexperiente público-alvo). E ainda temos que acompanhar a previsível aproximação entre Gru e Lucy, tão abrupta quanto insossa.

Essa porcaria de história (quando uso a palavra “roteiro”, penso em algo raciocinado, desenvolvido e finalizado, não vomitado) se sustenta minimamente graças ao carisma dos personagens derivados do original (entre as novidades, quem mais chega perto disso é Antonio, um jovenzinho blasé que é o estereótipo de galã entre pré-adolescentes), utilizados da maneira mais simplória possível: como gatilhos de gags baseadas em seu comportamento. Os roteiristas (quero dizer, “roteiristas”) Ken Daurio e Cinco Paul têm tanta ciência de que tal estrutura é limitada e pouco importante aos propósitos de seu contratante que espremem a – já diluída – “trama” entre esquetes dos Minions, em certo ponto vertidos nos verdadeiros protagonistas do longa-metragem. Os bichinhos amarelos são a digitalização do modo mais fácil de arrancar risadas, e seu comportamento anárquico/travesso e dialeto igualmente ininteligível e compreensível são, de fato, contagiantes. Por outro lado, seu excessivo tempo em tela revela o intento escuso imposto aos diretores Pierre Coffin e Chris Renaud: o de vender previamente o spin off dos Minions (idem, 2014), agendado para 2014.

Essa tragédia em animação é um sintoma da precariedade com que o gênero, que oferece possibilidades ilimitadas, vem sendo explorado. Uma carência criativa que, embora recentemente admitida pela própria Pixar (próximo de lançar seu terceiro filme derivado em quatro anos, Procurando Dory [Finding Dory, 2015], o estúdio prometeu voltar a investir mais em projetos originais), só terá fim quando a única ambição de estúdios sem brio e sem brilho como a Illumination Entertainment não seja mais correspondida: o retorno financeiro em bilheterias e produtos licenciados.

Ou seja, nunca.

Comentários (11)

Rodrigo Torres | segunda-feira, 08 de Julho de 2013 - 22:48

Por aí, Tostes... Por ai. 😏

Mas oh, eu confesso que curti o filme. Vi gente falar mal do filme, e todas apontam tudo que eu vi no filme. A diferença é que eu embarquei na ideia, por mais pretensiosa e espetaculosa que seja.

Osmar J. R. | quarta-feira, 10 de Julho de 2013 - 11:16

Confesso que quando vi o trailer deste MMF2, simplesmente não entendi patavina alguma...

Cristian Oliveira Bruno | sábado, 30 de Novembro de 2013 - 13:42

Crara, na boa... Não sou fã de filmes infantis. De jeito nenhum. Quando criança, nem O Rei Leão eu tive vontade de ver. E ainda não vi até hoje. Não estou defendendo esse filme, mas vou repetir o que comentei sobre o primeiro filme. É um problema quando adultos analizam filmes infantis levando tudo à sério demais. Filme pra criança nem tem que ter muito sentido. Eles têm que se divertir, por mais que seus pais saim da sessão com o saco cheio. Para saber se o filme infantil é bom, basta perguntar pro seu filho se ele gostou. Se a resposta for positiva, o filme é bom. Simples assim.
Nem aquelas coisas insuportáveis da Disney resistiram ao tempo, mas na época pareciam obras valorosas. Até porque, à medida que crescemos, vamos descartando muitas das nossas \"referências\". Esses filmes nem cinema de verdade são. Apenas uns momentos de diversão para as crianças serem crianças e passarem um tempo com seus pais.

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