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Miami Vice

(Miami Vice, 2006)
6,8
Média
397 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Miami Vice acabou se tornando um excesso de imagens bonitas com falta de conteúdo.

6,0

Baseado na série de TV homônima da década de 80, Miami Vice acompanha um episódio nas vidas de dois detetives da divisão de narcóticos da polícia de Miami, Sonny Crockett e Ricardo Tubbs. Ao perder a vida de um informante em uma operação que deu errado, os dois parceiros resolvem entrar pessoalmente no caso, utilizando seus alter-egos Burnett e Cooper para se infiltrar no tráfico e desmantela-lo pela raiz. Porém, o dito mandante da organização, Jose Yero, era apenas um intermediário de algo muito maior, um cartel de narcotráfico em ascensão comandado por Jesus Montoya (uma espécie de Pablo Escobar do novo século) e, na medida em que a dupla vai se infiltrando, a situação da missão vai ficando mais delicada, com um súbito interesse pela assistente financeira de Montoya e brigas internas.

É interessante notar que se trata de um episódio isolado na rotina do departamento, assim como seria assistir a um episódio isolado do seriado de TV. Não há introdução aos personagens, nem à situação e sequer há créditos iniciais ou uma chamada para o título. Após o logotipo da Universal, o espectador é subitamente jogado para dentro da ação, durante uma tocaia policial à noite numa boate, e em momento algum a trama freia para que o público respire e possa absorver o que está acontecendo. Quem já não conhecia a história da série de antemão, certamente deve demorar para se situar no filme, o que é uma grande falha; apesar do conceito dessa imersão instantânea, feito para adicionar realismo, ser interessante, o modo como foi filmado deveria ter sido melhor trabalhado. Para adicionar ao caráter episódico do filme (não na trama, mas na história), o título aparece na tela ao fim da projeção, e tudo que se passou nas 2 horas e meia que antecederam aos créditos não mudou drasticamente a vida dos personagens em nada. Tirando um ou outro detalhe, o filme termina como começa, mais um dia de trabalho na luta contra o tráfico (o que pode, porventura, criar um gancho para outras seqüências).

Com exceção dos atores, toda a equipe de produção do seriado original foi mantida, incluindo o diretor Michael Mann, cuja série catapultou sua carreira. Apesar de ter sido mantidas certas características das últimas temporadas, como um clima mais sombrio, detalhes como a corrupção na polícia e até a aparência dos personagens, este filme não é uma mera homenagem à série, mas sim uma completa releitura desta. Para começar, a história foi trazida para os novos tempos, e tanto a polícia quanto o narcotráfico utilizam a mais moderna tecnologia de inteligência/contra-inteligência e guerrilha urbana, mas sempre fundamentada na realidade, sem toques fantasiosos como nas franquias de 007 e (até certo ponto) A Identidade Bourne. Os tons pastéis que fizeram famosa a série nos anos 80 também foram trocados por um visual mais escuro e frio, o que também se refletiu na fotografia; belíssima nas tomadas à luz do dia, como já de praxe nos filmes do diretor, a noite ela se torna crua e muito granulada, dando um ar documental às cenas; ar esse que também passou para a violência do filme - há, inclusive, uma cena em que toda a tensão é construída apenas por jogo de câmera. Tudo isso ajuda a criar um clima de realismo bem gritante e pesado, por vezes flertando com o cinema noir, que dita o tom do filme.

Mas se por um lado a direção é acertada, a edição quase põe tudo a perder. Confusa, arbitrária e irregular, ela carrega o filme em um ritmo quebrado e pouco eficiente, que dificulta qualquer imersão mais profunda na trama, já que esta parece estar constantemente mudando de humor. Em especial no começo, a edição – que deveria ter sido bem trabalhada para minimizar o impacto inicial de ser jogado dentro do filme sem mais explicações – é rápida demais, não dando tempo para criar clima em nenhuma das cenas, e a impressão que se fica é que o projecionista picotou partes inteiras do filme avulsamente. Apesar de melhorar após a meia hora inicial, o ritmo é irregular, tornando algumas cenas arrastadas e longas demais, e outras que ainda tinham potencial terminam do nada.

Um outro grande defeito do filme diz respeito às atuações. Colin Farrell está ótimo como Crockett, acabando por roubar todas as cenas em que aparece, e John Ortiz faz um bom trabalho como Jose Yero, adicionando na medida do possível alguma profundidade à um personagem bastante raso; o resto do elenco mais prejudica que ajuda. Gong Li, super estrela no oriente, mas apenas engatinhando sua carreira em Hollywood, está bastante apagada como o pilar central da crise do filme, fazendo as ações de sua personagem soarem pouco verosímeis, e nem sua tradicional beleza consegue emprestar à produção. O resto do elenco é tão burocrático que é como se nem estivessem lá, com a exceção de Jamie Foxx, na talvez pior atuação de sua carreira. Apesar de não ter tanto tempo de tela quanto Farrell, não consegue aproveitar uma cena sequer em que aparece; aparentemente confundindo a atuação séria e contida de Philip Michael Thomas no seriado com uma “cara de mal”, Foxx cria um detetive Tubbs mau-humorado e casmurro que não consegue esboçar a menor reação a uma fatalidade, apesar de suas ações dizerem o contrário.

Por fim, o roteiro, apesar de conciso, cria uma trama bem banal e rasa, o que não seria um problema, já que as tramas no seriado também eram bastantes óbvias e funcionavam. Só que a decisão do diretor de trocar o ar new wave cool e por vezes surreal de videoclipes por algo mais cru e realístico, apesar de interessante estilisticamente, não é suficiente para segurar o filme. Miami Vice acabou se tornando o que muitos temiam após Colateral: um excesso de imagens bonitas e uma falta de substância.

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