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Críticas

Cineplayers

Um filme mágico, que resgata a ingenuidade em uma produção lindíssima e cheia de diversão.

9,0

My Fair Lady - Minha Bela Dama não é um filme complexo, tampouco daqueles que tem a pretensão de lhe fazer ficar por horas pensando após o término de sua sessão. Este é um daqueles filmes básicos, óbvios, mas construído de uma forma tão perfeitinha, com todos os enfeites no lugar, que fica praticamente impossível não se cativar pela história que está sendo contada. Só que o que faz esse filme tão especial é o modo como tudo é bem empregado: as músicas entram na hora certa, são simpáticas, é deliciosamente ingênuo e possui uma composição visual tão impressionante que poderia ser comparado a um belo quadro, pois possui uma das melhores combinação de cores que já vi na vida.

O filme conta a história de Eliza Doolittle (Audrey Hepburn), uma mendiga que vende flores pelas ruas escuras de Londres em busca de uns trocados. Em uma dessas rotineiras noites, Eliza conhece o formidável professor de fonética Henry Higgins (Rex Harrison) e sua incrível capacidade de descobrir muito sobre as pessoas apenas através de suas fonéticas. Quando ouve o horrível sotaque de Eliza, aposta com o coronel Hugh Pickering (Wilfrid Hyde-White) que, em seis meses, pode fazer com que essa pobre coitada que mal sabe falar consiga se passar desapercebida por uma bela dama em meio à alta sociedade.

O roteiro do filme (exageradamente indicado ao Oscar) é uma refilmagem do clássico Pigmaleão e é baseado na peça homônima que estava sendo encenada na Broadway. Algumas estrelas como Cary Grant e George Sanders foram cotados para interpretar o papel de Henry Higgins, mas foi Rex Harrison que acabou tendo a felicidade do trabalho. O ator era o intérprete de Higgins na Broadway, então seria meio caminho andado para o sucesso nas telas, por já conhecer o personagem (isso não é uma tarefa fácil, que fique bem claro) e precisar apenas perder algumas manias de palco.

Rex queria que Julie Andrews fosse sua parceira de cena, já que ela era a de palco. Por se recusar a fazer um teste para o papel, o produtor do filme Jack Warner a cortou do elenco e escalou em seu lugar a sensacional Audrey Hepburn. No ano seguinte, Julie se consagraria como A Noviça Rebelde, mas em Minha Bela Dama foi a vez da estrela de Bonequinha de Luxo e Sabrina brilhar nas telas. A química entre Rex e Audrey é fantástica. Mesmo o professor Higgins se mostrando totalmente antipático e egoísta, nunca consegue nossa antipatia. Ao contrário de Audrey, que no começo estava realmente irritante, de voz fina e chata. Acredito que tenha sido de propósito, para criar um contraste maior com quando ela se torna uma dama. A graça e delicadeza de Audrey dão a Eliza um fantástico charme indispensável à versão final de sua personalidade.

Os musicais não são aqueles de grandes espetáculos, como em Cantando na Chuva ou Sinfonia de Paris, mas se concentram no charme e em letras muito bem escritas. Os números são mais discretos e charmosos, como o início da corrida de cavalos e quando Eliza anda pela rua de Londres no início do filme. O meu preferido é o número onde o pai de Eliza (sim, ela tem um pai, só que mal aproveitado) anda pela rua com seus amigos proclamando o quanto é bom ficar sem fazer nada. O bom humor é uma peça fundamental para que isso tudo funcione, uma vez que fica claro o tom de fábula que o diretor quis dar ao seu trabalho. Nada daquilo poderia ser real, mas mesmo assim, tudo é encantador. Minha Bela Dama poderia ser muito bem um filme da Disney, por exemplo.

Só que a grande cartada está mesmo na belíssima utilização da palheta de cores para compor suas cenas. Tudo é muito bem pensado, chega a assustar. Os cenários são claramente falsos, mas tentam recriar a realidade e, mesmo assim, funcionam! Londres toda em tons frios, depressivos, e a cena em que as flores chegam no centro para que seus futuros vendedores comprem seu estoque é simplesmente fantástica. Quando retiram o pano de cima das flores, as cores saltam à tela e uma música extremamente relaxante começa a tocar. Temos o impacto que a cor causa naquele ambiente e, acreditem, é algo realmente gostoso de se assistir. O mais impressionante é que essa utilização inteligente das cores não acontece em uma ou outra cena, e sim no filme inteiro. Na corrida de cavalos, quando Eliza vai tomar banho, no escritório de Higgins, de dia, de noite... Espere sempre por uma impecável combinação de cores. É simplesmente uma das artes mais bonitas que já vi na vida.

My Fair Lady - Minha Bela Dama faturou nada menos do que oito estatuetas na Academia, inclusive filme e diretor. É uma obra extremamente relaxante, que nos faz lembrar que o bom e velho cinema não precisa ser apenas crítico, mas também uma ingênua e terna mensagem de amor ao próximo sem pretensão. É para sentar, curtir, cantar e se emocionar em suas três horas de duração que passam simplesmente em um piscar de olhos.

Comentários (1)

Renata Correia Nunes | sábado, 01 de Junho de 2013 - 21:14

Eu não gostei do final e algumas dublagens de canções foram de mau gosto. Por que não deixaram o Jeremy Brett cantar, sendo que ele tinha uma belíssima voz?

7/10.

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