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Críticas

Cineplayers

Absolutamente sem graça e machista, o filme prova que o diretor Reitman é na verdade um tremendo picareta.

3,5

Cinematograficamente, a década de 80 foi um desastre quase por completo. Tirando um Amadeus aqui, um Ligações Perigosas acolá, a grande maioria das produções destes anos não resistiu ao passar do tempo. Era a época de deixar tudo mais leve e divertido, já que o bárbaro período anterior, um dos mais férteis da história, produziu filmes complexos e marcantes. A própria trilogia Guerra nas Estrelas original já sinalizava isso, concatenando diversão, qualidade e grandes bilheterias!

Mas não foi bem assim, pelo menos no quesito qualidade. Na hoje chamada  "década perdida", também para o cinema, Spielberg já não queria mais dirigir filmes direcionados à família – ele já havia se despedido com E.T. e agora buscava reconhecimento  em filmes de temática mais adulta. Mas fez a festa de jovens e promissores talentos, produzindo os bons roteiros que lhe chegavam: Joe Dante com seu Gremlins, Robert Zemeckis com a trilogia De Volta para o Futuro e alguns outros. A nata de um leite de qualidade duvidosa.

É fora das asas de Spielberg que Ivan Reitman despontou, com o grande sucesso de Os Caça-Fantasmas, rendendo muitos dividendos e fazendo fama de seu elenco – Bill Murray está aí até hoje, cada vez melhor. Reitman parecia ser um diretor talentoso e de muitos recursos, mas vinte anos e muitas produções medíocres depois (Evolução, Seis Dias, Sete Noites etc.) estão aí para provarem que ele é apenas um picareta que fez fama com um golpe de sorte. Como muitos daquela época, afinal até Sydney Pollack ganhou o Oscar!

Aí que chegamos ao ponto de Minha Super Ex-Namorada, seu novo filme. Comédia romântica na essência, com roupagem de filme de super-herói – algo que hoje dá dinheiro, prova-se potencialmente engraçada a partir de sua premissa: Matt (Luke Wilson) é um arquiteto boa praça que acaba por se envolver com Jenny Johnson (Uma Thurman), moça que conhece no metrô. Após algum tempo ela revela-se como a super-heroína protetora da cidade, a famosa G-Girl e, no pacote, vêm à tona traços menos simpáticos de sua personalidade: ela é imatura, insegura e completamente neurótica. A descoberta de uma potencial rival, a fofa Hannah (Anna Faris), aumenta ainda mais a TPM da heroína.

Mas o roteiro revela-se furado, incapaz de criar situações divertidas. Rara exceção é quando, em um restaurante, Jenny se esquiva de cometer seus atos heróicos para não deixar o namorado sozinho com a rival. Uma prova que, com um melhor cuidado no script, o filme seria facilmente delicioso. Mas não é o que acontece, a banalidade impera e o riso dá lugar ao bocejo, por mais que a gente se esforce em gostar. Reitman piora tudo com sua direção esquemática e preguiçosa, e o desenvolvimento de uma trama paralela envolvendo um vilão afetado e desinteressante possibilita o uso de efeitos especiais de quinta, que mais parecem de vinte anos atrás. Como todo o filme, aliás. Mais uma prova que Reitman está perdido no tempo.

O mais impressionante é que as mulheres poderão – e deverão – se sentir ofendidas com o machismo explícito. Jenny, mulher de atos heróicos e admirada por todos, é incapaz de sentir amor próprio, de se valorizar. É submissa ao seu homem, chegando ao cúmulo de se atracar com outra pela proteção do "patrimônio".  Por mais poderosa que seja, é resignada pela voz masculina. Mais retrógrado, impossível.

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