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Críticas

Cineplayers

Uma história bacana sobre crimes evitados através de um modo bastante interessante.

8,0

Acho que ninguém aqui discute que Steven Spielberg é um ótimo diretor, muito acima da média atual. Mas parecia que, com alguns de seus últimos filmes, ele tinha perdido um pouco a mão, talvez por medo de ousar, talvez com medo de sua imagem. Foi quando, ao lançar Minority Report: A Nova Lei, sua primeira parceria com o galã Tom Cruise (Nascido em 4 de Julho, Entrevista com o Vampiro), Spielberg pegou todo mundo com as calças na mão e apresentou não só um ótimo filme, mas como uma das melhores ficções científicas que eu já vi. É só somar o total controle de câmera e a direção perfeita sobre os atores que Spielberg tem, com a ótima fotografia de Janusz Kaminski, os belos efeitos especiais e uma ótima história adaptada por 2 roteiristas baseados em um conto de Philip K. Dick (ninguém menos que o mesmo quem escreveu o clássico absoluto Blade Runner).

Depois dessa apresentação em potencial dos grandes nomes por trás do projeto, é importante citar que ele não é só embalagem não, o conteúdo também faz jus ao potencial esperado e a história é interessantíssima. em Washington, 2054, existe uma polícia chamada ‘Pré-Crime’, que antecipa tudo e qualquer tipo de assassinato, reduzindo a quase zero os crimes da cidade. Todo o sistema é controlado por três paranormais (sua origem é dita no filme, mas óbvio que não irei contar), conhecidos como pré-cogs, que recebem imagens do futuro e, através de um sistema criado pela polícia local, tem essas imagens exibidas em telões para que a parte humana do sistema entre em trabalho, tentando evitar assim os crimes previstos. Os acusados passam a ser punidos antes mesmo de cometerem os crimes, sem direito a defesa nem nada, pois o sistema é considerado perfeito pelas autoridades e criadores.

Sobre o comando da equipe está o drogado detetive John Anderton (Cruise), sendo o policial de maior atividade da divisão (drogado... que ironia ver isso em um filme do Spielberg). Só que, quando o próprio é acusado de um assassinato futuro, tudo o que ele fez durante seis anos volta contra si, então passa a estar na reta do que justamente considerava perfeito com os outros. Seus amigos, companheiros de todos os dias, começam a persegui-lo incansavelmente. E é exatamente nessa parte que o filme brilha, nas questões levantadas, as reflexões sobre tecnologia, poder, liberdade, sobre o outro, etc.

O modo como tudo é discutido, como são invertido os papéis (antes o mocinho, agora o perseguido, com o dele na reta), é tudo muito bem montado, os argumentos estão bem explícitos. Lógico que não é um filme para pessoas mais jovens ou desatentas, pois os diálogos são extremamente importantes para o entendimento de tudo o que está rolando na tela. Não foi o típico filme de verão americano (foi lançado no meio do ano passado nos EUA), onde você entra no cinema deixando o cérebro de férias em casa. O melhor de tudo é que Spielberg não nos poupa dessa vez, esquece um pouco o seu lado sentimentalista (somente no final ele apela para isso, justamente o que menos gostei no filme) e se preocupa em contar a história. E faz isso, muito bem por sinal, criando diversas cenas envolventes, com a dose certa de ação, e até mesmo com certos elementos noir em seu desenvolvimento.

A fotografia ajuda muito a criar o clima do filme. Ele é torrado de efeitos especiais, e a veracidade das cenas poderia ser prejudicada devido a defeitos de luz, como acontece na maioria dos filmes (há um contraste, geralmente, muito grande entre o chroma key - a famosa tela azul - e os atores de verdade, no que diz respeito à iluminação). Devido a um recurso chamado bleach-bypass, o filme perdeu muito da cor, ficando com um tom azul, melancólico, e os rostos dos personagens ganharam um lindo contraste branco. Com esse tipo de fotografia, essas variações na iluminação ficaram muito discretas (mas ainda perceptíveis), muito acima da média atual. Os reflexos em vidro / espelho também foram muito utilizados para criar ‘camadas’ durante o decorrer do filme, sempre de forma inteligente, para dar o ar futurista já criado perfeitamente pela direção de arte da equipe.

Só que, mesmo com toda essa soberbia, a fotografia acaba ficando ‘enjoada’ em certos momentos, devido à falta de variação nas cores. Há realmente muita pouca variação, mas é o preço pago por escolherem criar efeitos infinitamente mais realistas (e, só uma curiosidade, o filme foi um dos mais injustiçados no Oscar desse ano, sendo ignorado no quesito de Efeitos Especiais, nem ao menos indicado foi). Só que, graças a história perfeita e totalmente interessante, esse defeito não chega a ser muito grave. Outro detalhe legal é que, antes mesmo de começarem a produção do filme, foi feita uma reunião de três dias com os principais representantes de certas indústrias para a discussão de como seria o mundo daqui a 50 anos. Foram pesquisados carros, cidades, tudo, para que fosse o mais realista possível. Se formos pensar bem, cinqüenta anos seria pouco tempo para uma ficção científica do porte de Minority Report, mas a escolha de um ano não tão distante assim foi importante para que nada ficasse muito distante do que somos hoje em dia. É possível se ambientar legal a todas as novidades apresentadas no filme, principalmente para quem curte a tecnologia em filmes de ficção.

O filme ainda acerta em um outro ponto importantíssimo: os atores. Além de Cruise perfeito em seu papel, temos uma boa presença de Colin Farrell (do recente Por Um Fio; em um papel que chegou a ser cogitado para Matt Damon), fazendo o papel do detetive Ed Witwer, supervisor de todo o sistema, pois há uma ambição dos criadores de não se limitar a Washington, e expandir para um âmbito nacional a nova tecnologia. Há uma cena, nos extras do DVD, extremamente bacana, onde Farrell conta que errou uma tomada e, por nervosismo, errou diversas vezes seguidas. Quando acertou, apareceu Spielberg gritando ‘lindo’ para ele e Cruise dando um aperto de mão muito bacana no ator. Pode não parecer nada demais, mas tenho certeza que isso foi importantíssimo para Farrell.

Ainda contamos com a presença importantíssima de Max von Sydow, como o Diretor Burgess, amigo do detetive John Anderton. Max é perfeito, não erra nunca e improvisa bastante, inclusive elogia Spielberg por dar essa liberdade para os atores. Ele é seguro, toda vez que aparece em cena marca seu território. O que não era de se espantar, devido ao seu nível de interpretação. Há também, só como curiosidade, a presença de Cameron Diaz (de As Panteras) e do diretor Cameron Crowe (de Quase Famosos), em uma pontinha na cena do trem. Ambos trabalharam com Cruise no medíocre Vanilla Sky.

Minority Report - A Nova Lei é pipoca de alta qualidade. Já assisti várias vezes e continuo o achando cada vez melhor, é um dos meus filmes de ficção preferidos. Não é perfeito, tem suas falhas, mas está muito acima da média de tudo o que sai por aí hoje em dia. Tem Cruise inspirado, tem Spielberg dando a volta por cima, tem efeitos especiais para ambientar o mundo daqui a cinqüenta anos, tem elenco de apoio de peso, tem uma história do mesmo autor de um clássico dos anos 80 e tem um orçamento de oitenta milhões de dólares. Não tinha como ser ruim. E consegue, facilmente, ser bem mais que isso.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | sábado, 30 de Novembro de 2013 - 13:06

Steven Spielberg é um mestre em histórias mirabolantes e fantásticas como essa e sabe filmá-las como ninguém. Um mestre do entretenimento.

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