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Missão: Impossível - Efeito Fallout

(Mission: Impossible - Fallout, 2018)
7,5
Média
164 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Um feijão com arroz absurdo e escalafobético.

6,0
Tom Cruise e Christopher McQuarrie. Uma dupla que há alguns anos compete seriamente pelo trono no cinema de ação. O diretor começou a colaborar com Cruise em seu segundo filme, Jack Reacher, adaptação dos livros de Lee Child. Até então, McQuarrie colecionava créditos como roteiristas de filmes como Os Suspeitos e O Turista

Desde então, dirigiu mais dois filmes com Cruise, ambos dando continuidade à história do espião Ethan Hunt após o sucesso de Missão: Impossível - Protocolo Fantasma, de Brad Bird. Tratam-se de Missão: Impossível - Nação Secreta  e o lançamento de 2018: Missão: Impossível - Efeito Fallout

Ninguém podia prever lá atrás, quando Brian De Palma adaptou em 1996 para o cinema a série de televisão exibida entre os anos de 66 e 73 e refeita em 88, que as aventuras de Hunt virariam uma franquia cinematográfica que já coleciona seis filmes em 22 anos. Franquia essa notavelmente duradoura sem precisar de “recomeços”. Ainda viva em tempos de retomada de Star Wars, Velozes e Furiosos, séries juvenis distópicas, MCU e DCEU… 007 é um nome da velha guarda que pode se gabar de ainda dialogar com o público, mas o ator é trocado de tanto em tanto tempo, e o adulto de 34 anos do primeiro filme jamais poderia imaginar que o “tiozinho” de 56 anos ainda puxaria tanta gente para o cinema.

Isso muito provavelmente é resultado de uma certa nostalgia do público com ícones da sua infância ou adolescência, com a disposição dos astros em reavivar a velha chama. Todos ganham - a bilheteria é massiva, os salários são astronômicos, as críticas bem-humoradas - então, por que não fazer?

Muito por conta disso, o filme não tenta inventar muito, ao menos narrativamente falando: mais uma vez, Ethan tem que salvar o mundo de terroristas de uma organização conhecida como “o Sindicato”, que tentam colocar as mãos em uma carga de bombas nucleares portáteis, liderados pelo megalomaníaco Solomon Lane. A IMF é acompanhada de um agente da CIA, Walker (Henry Cavill), que supervisiona as ações do constantemente rebelde Hunt. E sim, o filme também entra para a história por conta do infame bigode que Cavill não pôde tirar para gravar Liga da Justiça.

Mas se não inventam na salada dos espiões, traidores, reviravoltas, disfarces e outras marcas registradas da série, McQuarrie e Cruise parecem desconhecer o sentido da palavra “limites”. Ambos estão em uma competição olímpica do cinema: cada filme tem que ser mais absurdo, mais acrobático e mais escalafobético que o anterior e, se escalar arranha-céus já parecia perigoso o suficiente de filmar com um ator que dispensa dublês, os dois voltam para “raise the bar”, aumentar o nível de exigência em relação ao anterior.

McQuarrie tem um parque de diversões com Cruise. Entre as cenas mais absurdas, Ethan Hunt pilota um helicóptero e persegue outro, com as máquinas dando rasantes sobre apertadas montanhas; em outra, Hunt quebra a vidraça de um escritório com uma cadeira e salta para o prédio seguinte. E, naquele que deve ser o mais impressionante de todos, o protagonista e o coadjuvante Walker pulam de pára-quedas em um longuíssimo plano-sequência que vai desde o avião até o chão, com várias pequenas unidades dramáticas dentro da sequência. Mal dá tempo de respirar. 

O filme passa longe, é claro, da estilização de De Palma ou John Woo. O olhar não tem o cuidado laborioso de Brad Bird. Ator principal e produtor da obra, é meio nítido que não é bem um filme de autor, mas de ator: o roteiro que corra atrás das próximas exigências do protagonista da franquia. Tem um excesso de peso no drama (que por vezes soa meloso demais), enfia reviravoltas no limite da incompreensão e irritação e trabalha com tantos personagens que torna esse o maior da franquia, duas horas e vinte e sete minutos que nem sempre se justificam além da egotrip hiperfísica de Cruise, que pula, corre e se arremessa um número incontável de vezes. 

Talvez um dos melhores momentos, nesse sentido, seja quando Hunt e Walker caçam o traficante de armas John Lark em uma megaboate e quebram tudo ao redor. Na maior parte do tempo, os cenários são meras plataformas de videogame para o protagonista - não dá nem tempo de prestar atenção em detalhe nenhum além de pés ou rodas em alta velocidade. Aqui não: tudo no banheiro pode machucar, ser uma arma, e a própria letalidade dos protagonistas transforma o espaço através da ação. Nessa valorização do cenário dá até para dizer que Hunt possa ter aprendido uma coisinha ou duas com o novato John Wick.

Resumindo, Missão Impossível: Efeito Fallout, apesar de tentar, como diz o título, mostra uma certa derrocada de Hunt por conta de decisões suas (salvar um ou salvar muitos?), é misericordioso além da conta com seu protagonista que aparenta inicialmente estar assombrado, tendo pesadelos com arrependimentos do passado. Não, não é um espaço para isso. Como não é série, não dá para dizer que “Efeito Fallout” é um “monstro da semana”, mas um “monstro da vez”. É o que o público aprendeu a gostar e não tenta se distanciar disso. Um feijão com arroz cômodo? Sim. Mas de vez em quando impressiona, e não há muita gente reclamando. 

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