Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Mesmo com uma eficiente direção e boas cenas, o filme não é mais do que diversão rápida.

6,5

Tom Cruise já era um astro do primeiro escalão de Hollywood quando decidiu expandir seus horizontes na indústria do cinema. Apaixonado pelo processo de fazer filmes, Cruise abriu sua própria produtora em parceria com Paula Wagner. O primeiro projeto da dupla foi a adaptação para o cinema de uma antiga série de TV. O ano era 1996 e Missão: Impossível tornou-se um dos maiores sucessos do ano, consolidando a carreira de Cruise como produtor.

Missão: Impossível conta a história de Ethan Hunt, um agente do grupo IMF que é acusado de traição após todos seus parceiros serem assassinados em uma missão. Enquanto busca provar a própria inocência, Hunt une-se a outros renegados, com o objetivo de recuperar uma lista secreta e revelar o verdadeiro bandido.

Estas linhas do parágrafo acima são poucas para sintetizar toda a trama de Missão: Impossível. Escrito por David Koepp, Steve Zaillian e Robert Towne (três sujeitos com bom currículo na indústria), o roteiro de Missão: Impossível é repleto de camadas, oferecendo uma boa dose de inteligência, com diversas reviravoltas que surpreendem o espectador – ainda que algumas vezes elas quase se percam no limite do aceitável.

Muito mais focada no enredo do que no desenvolvimento dos personagens, a história funciona em termos gerais, mantendo o interesse até o final. No entanto, pouco ou quase nada é apresentado ao espectador a respeito das pessoas envolvidas nessa trama mirabolante. Não há a menor preocupação em estabelecer a identificação entre a platéia e os personagens. Como resultado, por mais que seja eficiente no desenvolvimento de uma trama sobre agentes duplos e conspirações, Missão: Impossível resulta em uma experiência fria para o espectador, que jamais se preocupa com qualquer dos personagens.

O que também colabora para isso é direção de Brian De Palma. Cineasta virtuoso e com técnica apurada, De Palma normalmente deixa seu estilo falar mais alto do que a história e personagens. Ainda que esteja mais discreto e contido do que em filmes como Femme Fatale e Vestida Para Matar, o cineasta possui uma forma de narrativa excessivamente técnica, que dificilmente aproxima o espectador dos personagens, realçando ainda mais este problema do roteiro.

Porém, justiça seja feita. Diversas cenas em Missão: Impossível funcionam unicamente graças à qualidade de De Palma na direção. Seja a tensa conversa entre Hunt e seu chefe em um restaurante (quando o cineasta enquadra o rosto dos personagens de baixo para cima), a seqüência final no trem ou a invasão ao computador da CIA, Missão: Impossível é repleto de momentos eficientes e empolgantes.

Aliás, o momento em que o grupo invade a central da agência em Langley é um primor de suspense cinematográfico. Sem o auxílio de trilha sonora – uma escolha perfeita, devido ao fato de que a invasão deveria ser silenciosa –, De Palma explora ao máximo todas possibilidades da situação, criando um momento que se tornou icônico no cinema de ação dos anos 90. Um belo exercício de direção e montagem.

Esta cena, ainda que exagerada, está de acordo com o teor do restante do filme, que não tira os pés do chão em momentos completamente inverossímeis. Por essa razão, é estranho assistir à seqüência final passada no trem (mesmo que seja empolgante), pois joga para o alto todas as possibilidades de realismo criadas durante o restante da obra. Este momento, na verdade, parece mais adequado ao segundo capítulo da série, quando John Woo deixa claro desde o início que verossimilhança não será encontrada naquele filme.

Enquanto isso, Tom Cruise faz o possível para superar os já comentados problemas da frieza de Missão: Impossível. Aproveitando-se de seu imenso carisma e apelo junto ao público, o ator cria um personagem fácil de se gostar e que, apesar de ser quase um super-herói, às vezes parece uma pessoa como qualquer outra. Esta faceta de Ethan Hunt, contudo, aflora apenas em alguns momentos e exclusivamente graças à Cruise, sem a menor colaboração do roteiro.

O restante do elenco traz nomes que não passam de meros coadjuvantes de luxo, uma vez que pouco tempo têm em tela para realmente fazer algo interessante. Os poucos que ganham certo destaque são Ving Rhames, em um papel divertido que viria a reprisar na produção seguinte, e Vanessa Redgrave, que incorpora a traficante Max de uma maneira que foge da caricatura que se poderia esperar de tal personagem.

Missão: Impossível é um bom ponto de partida para a série que agora chega em sua terceira parte. A história reserva algumas boas surpresas e De Palma é eficiente na construção de determinadas cenas, mas a obra não passa de uma diversão rápida, sem grande ressonância junto ao espectador. Exceto, claro, pela imortal trilha composta por Lalo Schifrin. Esta, sim, não sai da cabeça por um bom tempo.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | sábado, 30 de Novembro de 2013 - 13:46

Já eu considero um fimle fantástico. A cena de Ethan pendurado por uma corda acessando o computador é clássica, assim como a música tema.

Faça login para comentar.