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Críticas

Cineplayers

Jackie Chan em doses homeopáticas para as crianças.

3,0

Talvez os jovens de hoje não tenham noção, mas Jackie Chan foi responsável por uma série de filmes de ação importantes, sem dublês, com algumas cenas antológicas e já clássicas do cinema oriental moderno. Quando foi para Hollywood, ainda protagonizou alguns ótimos filmes, como Arrebentando em Nova York, Thunderbolt - Ação Sobre Rodas, Mr. Nice Guy - Bom De Briga, até chegar, é claro, ao seu mais famoso filme ocidental gerador de uma franquia, A Hora do Rush, ao lado do comediante Chris Tucker.

Só que, dos últimos anos para cá, o antigo ‘Police Story’ provavelmente está sentindo a idade e vai se entregando cada vez mais às convenções da indústria de Los Angeles: comédias bobas, efeitos especiais ocupando o espaço das cenas de ação que o deixaram famoso, roteiros medíocres e histórias básicas para entreter o público norte-americano de fim de semana. Tudo bem que ele pode estar tentando encontrar o seu nunca encontrado nirvana perante ao público americano, mas não é se entregando à indústria que irá conseguir filmes de maior respaldo.

Aquele mesmo cara que fez clássicos da Sessão da Tarde agora protagoniza comédias medíocres como O Terno de 2 Bilhões de Dólares, A Volta ao Mundo em 80 Dias - Uma Aposta Muito Louca, Bater ou Correr; e até quando tenta alguns projetos mais sérios, como o esperado encontro com Jet Li em O Reino Proibido, falha por causa de efeitos em demasia e falta de naturalidade em suas cenas. Para completar todo o ciclo decadente de um ator em Hollywood, faltava apenas uma comédia infantil no currículo. Bom, com a chegada de Missão Quase Impossível aos cinemas, essa lacuna da degradação está preenchida.

Claramente um Jackie Chan para as crianças, este trabalho reúne todos os clichês possíveis de um filme de espião secreto que tenta seguir sua vida em frente após a aposentadoria, somando um pouco (muito pouco) da ação que Jackie estava acostumado a fazer alguns anos atrás. Há os russos atrás de algo secreto, a agência da CIA em que Bob (Chan) trabalha, o óbvio traidor, a mulher com quem ele tenta se relacionar, os filhos dessa mulher (que não gostam de vê-lo ocupando o espaço do pai), enfim, todos os clichês possíveis no gênero em que o filme se enquadra. Os vilões são altamente estereotipados, com expressões exageradas, roupas chamativas e sotaque, tentando encontrar um tom ameaçador – mas, na verdade, não passam de seres patéticos que chamariam a atenção até do mais desatento policial na rua.

Difícil de acreditar que até as crianças possam gostar deste filme. Ele conta a história de Bob (Chan), que em sua última missão antes de se aposentar, prende o perigoso terrorista russo Poldrak (Magnús Scheving) em uma refinaria (fica difícil até de aceitar que ele seria pego de surpresa em uma situação como esta, afinal, há um traidor dentro da CIA que obviamente avisaria dos passos da corporação). Em casa, tenta seguir sua vida pessoal, convidando Gillian (Amber Valletta) para jantar e pedindo-a em casamento. Os filhos dela não gostam nada da idéia, já que não querem ver um homem teoricamente chato, mal vestido, nerd e bobão (de óculos, à lá Clark Kent como disfarce) substituindo o pai que fora embora. É claro que um imprevisto irá acontecer e essas crianças serão obrigadas a passar um tempo com Bob, ao mesmo tempo que os russos irão persegui-lo, colocando-as em perigo e fazendo-as se aproximar daquele que antes parecia ser a pior companhia do mundo.

A execução desta salada toda é desprezível: até mesmo as seguras cenas do colégio, mostrando como as crianças eram antes e depois de conviver com Bob, estão lá para provar como ele mudou suas vidas. Mas levando para o lado mais pessoal, como mensagem, o que os pais podem tirar deste filme para as crianças? Uma lição feijão com arroz de como é importante respeitarmos a família, ao mesmo tempo em que há um subtexto não intencional de também como é desrespeitar ordens e fazer o que der na telha, afinal, tudo pode dar certo no final (e olha que nem estou falando do recente filme cômico-depressivo de Woody Allen).

Iniciando com uma série de imagens de filmes da carreira de Jackie, fica ainda mais triste ver o que ele está fazendo hoje, depois de tantas obras respeitáveis no currículo. Previsível, seguro demais, irregular em ritmo e não tão engraçado são algumas das características de Missão Quase Impossível, que de referência à obra de Brian de Palma só tem mesmo o nome em português e o cartaz. Vem para substituir O Fada do Dente como opção daquela sessão de meio dia de final de semana, mas não deve durar tanto tempo em cartaz quanto a obra de Dwayne Johnson por não ter nada de cool para os jovens de hoje. Não ofende, mas a verdadeira missão quase impossível aqui é agüentar essa tortura até o fim.

Comentários (1)

César Barzine | segunda-feira, 10 de Abril de 2017 - 09:00

Ótima crítica. Não vou encontrar um outro filme tão constrangedor e clichê quanto este tão cedo. Nota 3 também.

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