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Críticas

Cineplayers

1971 é logo ali.

5,5
Mulheres Divinas é tipo As Sufragistas (Suffragette, 2015), um filme bem razoável que só não é completamente dispensável graças ao tema que retrata. Aqui representa um grupo de mulheres na Suíça, lá no início dos anos 70, lutando pela oportunidade de irem as urnas enquanto vários outros países vizinhos já haviam conquistado o direito ao voto. Ora, a Suíça? Quem diria. 

O que é questionável na obra é a forma que a diretora Petra Volpe decidiu contar a história. Didaticamente e previsivelmente – previsível no sentido de antecipar piadas ou até mesmo frases de seus personagens, o que irrompe com expectativas narrativas –, o filme termina como uma retratação bem intencionada de um período muito importante da história daquele país. Todavia, portanto, não parece preocupar-se com qualquer coisa além disso. 

Acompanhamos Nora, mulher que atende todos os estereótipos de uma tradicional dona de casa de cidades interioranas pré-anos 60, tempos de revolução sexual, entre outras idealizações e conquistas que movimentavam o globo. O mundo parecia estar em progresso, mas tal progresso não havia chegado até a vila provinciana em que Nora residia, povoada por moralismos. O filme faz questão de demonstrar isso a partir do ponto de vista de vários personagens, inclusive de uma mulher que defende que mulheres não devem se meter com política. 

Uma viagem até Zurique muda tudo. Grandes passeatas e movimentos rasgam as ruas com bandeiras e cartazes pedindo igualdade. Homens e mulheres integram os grupos que desfilam sem medo, sob ofensas e piadas de alguns contrariados. Nora volta para casa e inicia uma ação transgressora e inesperada, cujas consequências e realizações avivam o simples roteiro. 

Há alguns bons momentos. Gosto especialmente de uma cena bastante clichê, mas que sintetiza o reconhecimento que aquele grupo de mulheres busca: um padre reflete sobre a vida de uma mulher que faleceu contando aspectos pessoais incondizentes à sua luta nas ruas, até que é interrompido por alguém que escancara dentro da igreja todo o idealismo daquela mulher que pereceu sem se ajoelhar. Afinal, o que importa é quem ela foi e não o que esperavam que fosse. Também interessa a discussão sexual em torno de mulheres casadas, num encontro onde dividem suas apreensões e experiências, relatando com pudor que jamais haviam tido um orgasmo e tampouco parado para olharem suas vaginas.

Simples em forma, mas tem conteúdo e vale acompanhar a luta dessas mulheres nas ruas e, quem sabe, perceber que 1971 não está tão longe. 

Visto na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

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