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Críticas

Cineplayers

Uma despedida em bom nível da Disney dos filmes em animação convencional.

6,0

Depois da decepção que foi Irmão Urso (monótono e totalmente sem originalidade) eu não tinha grandes esperanças para Nem que a Vaca Tussa. Filme que, segundo a própria Disney, é seu  último de animação convencional, 2D (embora utilize vários efeitos 3D também). Se esta for mesmo a despedida, pelo menos foi em bom nível. Homenagem aos faroestes, gênero do qual pessoalmente eu amo (por isso desconfie da minha opinião sobre esta animação), é divertido, inteligente e consegue fazer rir. Como era de se esperar, não é lá muito original, mas as qualidades superam os defeitos, por muito. Nem que a Vaca Tussa vale o preço do ingresso ou o aluguel do DVD.

Não dá apenas para entender o gasto de produção. Orçado em mirabolantes US$ 110 milhões, deve ter havido alguma espécie de desvio de verbas nos escritórios da Disney. A qualidade da animação é simples, com traços rápidos e estilizados, e os desenhos não possuem um grande número de detalhes (são menos detalhados que em Irmão Urso, por exemplo). No aspecto visual o filme lembra bem o recente (e também divertido) A Nova Onda do Imperador. É verdade que há algumas tomadas em 3D (elas sempre provocam um custo elevado), e outras mostrando centenas, talvez milhares de vacas na tela. Mas em contra-partida é um filme curto (característica do formato) – 76 minutos – que não justifica, pelo menos pelo que se vê na tela, esse alto custo. De qualquer forma, o problema é da Disney e não dos espectadores, então passemos para o que realmente importa.

A história é simples: três vacas de personalidades distintas querem salvar a fazenda de sua dona, que será hipotecada caso a mesma não pague uma dívida, e para isso correrão atrás de um bandido perigoso pela sua recompensa, o valor exato para salvar a fazenda do leilão. Então elas partem pelo velho-oeste à procura do tal bandidão (o típico estereótipo das animações Disney), ao mesmo tempo que um famoso caçador de recompensas (lembrando os personagens dos filmes de Sergio Leone, como Clint Eastwood em Por Uns Dólares a Mais) também está atrás desse bandido. O clima do filme, para quem é fã de faroestes, remete a clássicos do gênero como Rio Vermelho (elementos como a grande boiada e a trilha musical), de Howard Hawks, e realmente funciona como uma linda homenagem a esses filmes.

Os personagens são divertidíssimos: as três vacas, o cavalo que quer a todo custo aparecer, os porquinhos e mesmo os outros animais menores da fazenda. Bichos falantes e divertidos, que vão aprontar de tudo para divertir o espectador. Não, não há nada de muito original nisso tudo – é tudo reciclado de vários outros desenhos da própria Disney – mas o resultado ficou tão divertido, simples e honesto que torna a experiência positiva justamente por essas características, ao contrário da pretensão de muitos filmes da companhia, que por inúmeras vezes tentou repetir o sucesso de O Rei Leão para tentar criar novos clássicos a todo o custo – perda de tempo, os clássicos são criados sem predefinição, eles simplesmente “acontecem”, não dá pra prever.

A maior crítica mesmo é em relação à dublagem nacional, mas então nem valeria à pena “tirar nota” do filme por esse quesito. Virou moda aqui no Brasil, há algum tempo, convocarem para a dublagem de animações (principalmente as da Disney) atores de televisão em destaque no momento. Nem que a Vaca Tussa mescla vozes de atrizes experientes (Fernanda Montenegro) com casos como o que acabei de citar, como a atriz “sensação da comédia (barata) da Rede Globo”, Cláudia Rodrigues. Talento à parte, a voz da moça simplesmente não combina em nada com o que se vê na tela: há um total deslocamento, e demora um tempão até nos acostumarmos com isso. As músicas, que não existem em grande quantidade, também são – razoavelmente bem – dubladas. No original, atores e atrizes como Judi Dench e Steve Buscemi, entre outros menos conhecidos, fazem as vozes. Não tive a oportunidade (infelizmente) de conferir essa versão. Obviamente, as crianças não se importarão, mas de maneira geral a qualidade da dublagem brasileira ficou bem baixa, há momentos que fica difícil entender o que falam.

De resto, vale destacar que Nem que a Vaca Tussa não é um filme original de maneira alguma (por isso não conquistou nota mais alta), mas é divertido por sua simplicidade e deveria ser visto por quem curte o gênero faroeste. Há algumas piadas de matar de rir, e outras que divertem ou simplesmente encantam pelo visual. O humor em sua maioria é visual (físico, bom para crianças), mas não chega a ser muito grosseiro, o que logicamente é bom. Uma curiosidade a ser percebida ao menos na versão original: em certo momento o cavalo é referenciado pela vaca Maggie como “stallion of the Ci-moron”, que é uma citação óbvia ao filme Spirit – O Corcel Indomável, da Dreamworks. É a primeira vez que a empresa faz uma citação da sua rival. Foi o último filme (vamos ver se isso se torna real) da Disney em 2D, não foi uma despedida perfeita, mas pelo menos foi positiva.

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