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Críticas

Cineplayers

Torrentes de paixões, via match.

6,5
Há muito a se discutir sobre Newness, novo filme de Drake Doremus, cineasta com apreço por trabalhos que envolvam relacionamentos amorosos. Neste, um casal se forma graças a um aplicativo de paquera desses que apresentam um menu de pessoas. O que era uma pretensa relação casual acompanhada de uma transa eventual, transforma-se em algo sério quando percebem que há um recíproco interesse. Paixões causam estranhezas. O casual torna-se compromisso. Estar emocionalmente vinculado a alguém e abrir mão de outros relacionamentos tem um preço difícil de ser bancado em tempos digitais. É o que Doremus mostra, sendo especialmente feliz por não cair na armadilha de amaldiçoar um dos lados: o relacionamento aberto ou a monogamia.  

Há algumas questões que contribuem para que relacionamentos a dois deem certo. Há um contrato entre as partes. Também há um contrato no relacionamento aberto. E como é seguir as regras desse contrato? Acompanhamos bem de perto a experiência da dupla Martin e Gabi, o casal que está (re)descobrindo como é essa história de dedicação um ao outro, criando imposições até quando decidem se libertar sob rédeas distendidas. 

Martin e Gabi precisam vencer suas individualidades: há interessantes planos que opõe o casal, com cada um empunhando seu celular, este que é um personagem objetal importante para o desenrolar da trama e representativo quando evidencia o núcleo de relações dispostos em imagens de estranhos. Os usuários são fascinados por seus universos limitados a configurações. Na cama, opostos, o casal iluminado pela luz fria dos smartphones demonstra o abismo que lhes separam. É inteligente a preocupação dos realizadores em trabalhar com a luz oriunda dos aparelhos, favorecendo a fotografia rarefeita e atmosférica. E na escuridão, convivem com o sentimento obscuro, com a incerteza do que realmente querem. 

A obra até parece sujeita ao voyeurismo por nos colocar no papel de observadores e endossar sua narrativa com detalhes íntimos em várias cenas. Há forçadas construções de personagens cujo grande intuito é tentar justificar quem são e as razões pelas quais possuem dificuldade de funcionarem juntos: ele, que já foi casado; ela, que lembra sua iniciação sexual. São assuntos que roubam a alegoria emocional figurativa para tratar a origem do comportamento da dupla. Há justificativa demais onde não se precisa, já que Martin e Gabi ficariam muito mais interessantes enquanto representações contemporâneas de como estão se dando relacionamentos e não estudos específicos de seus personagens. 

Se relacionar através de aplicativos é benéfico ou maléfico, que o espectador se vire com isso. 

Newness também é um filme bastante sexual e até sensual. Drake Doremus dedica-se em mostrar seus personagens, em captar seus prazeres e também suas frustrações. Destaca-se a espanhola Laia Costa, atriz que ganhou holofotes devido ao seu papel no engenhoso Victoria (2015), vivendo a personagem título. Ela contracena com Nicholas Hoult, ator que repete parceria com o diretor. 

Há muita complexidade temática em um filme que parece não dar conta de aproveitar todo o potencial que tem. É fácil se aproximar de Newness, já que ele dialoga muito bem com a contemporaneidade, com qualquer pessoa que tenha vivido qualquer caso a partir de redes sociais e especialmente com aqueles que marcaram encontros às escuras. A novidade, a apreensão, o interesse e o desejo... sensações correlatas encontradas em quem se apaixona, não importa de qual forma. São novos tempos. Novos meios. Novas interações. Novos afetos. E as insatisfações se adaptam.  

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