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Críticas

Cineplayers

Com erros gritantes, filme só emplaca uma ou duas cenas de luta muito bem coreografadas.

3,0

Um filme sobre clãs de ninjas que leve a assinatura de produção dos Irmãos Wachowski mereceria mais deles do que apenas alguns efeitos emprestados da trilogia Matrix. Além da decepção de reconhecer uma certa preguiça criativa em requentar elementos já batidos do repertório dos irmãos, sobra ainda uma parcela de responsabilidade ao diretor James McTeigue, do qual se esperava algo no mínimo correto, como o sombrio V de Vingança.

Parece até  que o filme foi montado sob uma única certeza – talvez estereotipada – sobre os fãs do gênero: a de que pouco importam os detalhes que ligam os blocos da história, desde que ela seja recheada de cenas de luta e muito sangue. Pelo menos nesse quesito é possível dizer que eles tenham acertado: contando com a presença do time de dublês conhecido como 87 Eleven, cujos ensaios de coreografia foram usados como viral para atiçar a curiosidade dos espectadores, unida a agilidade de Rain, ator que interpreta o protagonista Raizo, e é um famoso cantor coreano que disse ter sido ajudado em sua performance devido sua experiência como dançarino. 

A suspeita de que todos os esforços tenham sido concentrados na orquestração das cenas de luta é reforçada por qualquer olhada mais atenta ao roteiro: a ação nunca situa geograficamente o espectador, ainda que a Europol indique Europa e a arquitetura do quartel general do Clã Ozunu nos leve a crer que ele esteja situado em algum lugar do Oriente; a própria ligação da trama policial com a história de fuga e vingança de Raizo é tão frágil que logo de cara você fica em dúvida sobre a seriedade do filme (atenção para a explicação da investigadora); outro exemplo é a cena da lavanderia, em que Raizo reconhece – sem que nos expliquem como ou o porquê – alguém que também pertence a um clã de ninjas assassinos e assim mais uma luta começa. Pense na velha birra associada a musicais, quando um personagem rodopia e sai cantando sem que esta transição seja lapidada para ser uma extensão da ação narrativa. Ou seja, em Ninja Assassino algumas cenas de luta tomam essa mesma proporção.

A presença de Shô Kosugi como o mestre do clã Ozunu e vilão da história é uma das poucas e bem usadas referências ao universo de filmes de artes marciais. Na década de 1980 Kosugi estrelou muitas produções japonesas que chegavam ao Brasil direto em VHS e faziam a festa da legião de fãs do gênero. Em 1988 ele chegou a contracenar com Jean-Claude Van Damme no obscuro - porque pouco conhecido - Contato Mortal (Black Eagle). 

A pergunta que fica ao final do filme é se McTaigue e seus produtores tentaram reproduzir uma atmosfera de pouco cuidado com detalhes e ênfase nas lutas por tomarem como modelo justamente as produções de baixo orçamento que popularizaram o personagem do ninja no cinema. Talvez tenham confundido essa estética materialmente precária com um estilo ou marca necessária para  o gênero. Assim, o que poderia ser uma atualização dos filmes de arte marcial se transformou numa obra mal realizada. Inevitável lembrar de Tarantino e seu respeito por estes mesmos elementos característico do gênero e o manejo com que ele transforma a saga Kill Bill numa atual homenagem a este gênero de filmes.

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