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Críticas

Cineplayers

Garry Marshall e sua constelação apagada.

4,0

Garry Marshall se fez notar em Hollywood com o clássico das comédias românticas Uma Linda Mulher (Pretty Woman, 1990), um dos filmes de maior bilheteria dos anos 1990, responsável por ressuscitar a carreira de Richard Gere e catapultar Julia Roberts ao estrelato. Depois disso seu nome entrou para um rol de diretores americanos que, apesar de não tão prestigiados, conseguem sempre orçamentos milionários para seus projetos. Desde então ele vem usando toda essa grana investida nele para lançar trabalhos bem medianos que jamais superaram o sucesso estrondoso de Uma Linda Mulher, embora Noiva em Fuga (Runaway Bride, 1999) e O Diário da Princesa (The Princess Diaries, 2001) tenham rendido bons resultados nas salas de cinema.

Durante sua trajetória, Marshall foi fazendo amizade com grandes nomes da indústria cinematográfica, entre eles a própria Julia Roberts, e conseguiu assim a fama de dirigir grandes estrelas em filmes medianos, sempre bem sucedido nas bilheterias. Considerando que Hollywood anda carente de bons filmes, mas ainda conta com o talento de uma ampla gama de atores, Garry Marshall se mostra então o diretor ideal para comandar produções bobas, mas rentáveis, como Noite de Ano Novo (New Year’s Eve, 2011). Seguindo a mesma fórmula de colocar dezenas de personagens interagindo em épocas festivas, como acontece em Idas e Vindas do Amor (Valentine’s Day, 2010), esse novo trabalho de Marshall com certeza renderá uma boa bilheteria, mas sua qualidade é incontestavelmente baixa.

Depois do sucesso de crítica e público de Simplesmente Amor (Love Actually, 2003), essa idéia de escalar um elenco gigante de astros para viverem múltiplas histórias divertidinhas e românticas foi se disseminando rapidamente nos enredos de comédias românticas populares, resultando no desgaste precoce da fórmula. Em Noite de Ano Novo, esse desgaste está evidente, quando notamos que nem um elenco comandado por Robert De Niro, Michelle Pfeiffer, Halle Barry e Hillary Swank consegue salvar o enredo da lástima. Colocando tudo em uma balança, a conclusão óbvia é de que o mais importante em um filme, antes mesmo de seu cast, é um bom roteiro.

Noite de Ano Novo nos conta as histórias cruzadas de muitos personagens da alta roda de Nova York às vésperas das festas de passagem para o ano de 2012. Entre eles temos Randy (Ashton Kutcher) e Elise (Lea Michele), vizinhos de condomínio que ficam presos no elevador, onde acaba pintando um clima entre os dois; Hailey (Abigail Breslin), uma garota que quer convencer sua mãe (vivida por Sarah Jessica Parker) a deixá-la passar a virada do ano no festão da Times Square, cuja responsável pela organização é a estressada Claire (Hilary Swank); Laura (Katherine Heigl), a dona de um bufê, que acaba reencontrando o ex-namorado roqueiro (Bon Jovi), determinado a reconquistá-la; Stan Harris (De Niro), um doente terminal que quer viver plenamente seu último réveillon; e Ingrid (Pfeiffer), uma secretária que pede demissão no último dia do ano e contrata um courrier (Zac Ephron) para ajudá-la a resolver todas suas pendências antes da meia noite. 

Há ainda outras muitas tramas, mas entre as mais destacadas estão essas citadas. E o mais incrível de tudo isso é que nenhuma delas consegue ao menos empolgar. Talvez a dinâmica entre Michelle Pfeiffer e Zac Ephron seja o único elemento aproveitável de todo o filme, e mesmo assim não pode ser considerado excepcional. Para começar, tudo é muito tumultuado, e nenhum personagem fica tempo o suficiente em cena para conquistar a simpatia do espectador. Depois, os temas envolvidos são quase todos abordados de maneira melodramática e folhetinesca, apelando para poder emocionar o público. Por fim, não há o clima de noite de ano novo tão alardeado pelo marketing. O humor é falho em quase todas as tentativas, os romances são genéricos, os dramas risíveis e as surpresas dos finais de algumas histórias são bem sem graça.

O segredo para um filme de múltiplas histórias dar certo é um roteiro bem amarrado e uma direção limpa e segura. O excesso de personagens e tramas que esse tipo de enredo acarreta pode ser tanto benéfico quanto desastroso. Magnólia (idem, 1999) é um exemplo do sucesso artístico que filmes assim podem alcançar, enquanto Crash - No Limite (Crash, 2004) representa os casos nem tão certeiros assim, mas que acabam funcionando pelo menos entre o público. Pode parecer exagero comparar esses dois dramas com uma simples comédia romântica comercial, mas o princípio é o mesmo para todos – múltiplas histórias exigem um diretor de múltiplos talentos.

Faltou, no fim das contas, a simplicidade que Marshall apresentou em trabalhos como Uma Linda Mulher e Noiva em Fuga. Essa pretensão de tentar conseguir administrar tantos personagens interpretados por atores de peso é um grande erro – algo que somente diretores do calibre de Robert Altman conseguem fazer com sucesso. Marshall sabe conduzir comédias românticas agradáveis e lucrativas, e disso ninguém duvida. Resta esperar que ele reencontre essa despretensão do seu início de carreira e volte a fazer filmes que estão de acordo com sua capacidade.

Comentários (7)

Marcus Almeida | segunda-feira, 12 de Dezembro de 2011 - 12:54

É só ver o histórico do diretor, além do elenco pop ao extremo.

bruno dos santos | segunda-feira, 12 de Dezembro de 2011 - 17:26

É, realmente estamos numa época em que o cinema carece de bons diretores, poucos conseguem acrescentar algo, mostrar uma idéia ou até mesmo criar um bom roteiro.
Estão investindo muito em Remakes, e pensando apenas em bilheteria, querendo apenas lucrar e jogando para o espectador histórias ruins e batidas.
Poucos são os diretores que tem mão firme e criam algo. Infelizmente é assim.

J. Carlos F. Dos Santos | segunda-feira, 12 de Dezembro de 2011 - 21:20

Crash - No Limite, funcionou demais. Até figura entre os 10 melhores. Se for ao menos comparável... Já vale o ingresso!

Fernanda Pertile | terça-feira, 13 de Dezembro de 2011 - 16:37

Adorei a crítica, quero ver se essa semana dou uma conferida nesse filme... 😁

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