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Críticas

Cineplayers

Um bom filme de um dos maiores gênios da comédia já existentes.

7,0

Buster Keaton foi, ao lado de Charles Chaplin, um dos grandes comediantes individuais da história do cinema. Porém, não cabe aqui uma discussão Chaplin X Buster Keaton, até porque acredito que isso não deveria existir. Ambos foram gênios da comédia e atores dos mais importantes para o cinema mundial, embora Chaplin seja muito mais conhecido pelo grande público nos dias atuais. Keaton é o ator sem sorriso, é o ator que vive seus personagens sem expressão no rosto (ou sempre com a mesma expressão). Algo que pode parecer incoerente para o gênero cômico, mas que foi justamente seu diferencial. Além disso, a habilidade dele em criar piadas visuais com a utilização de máquinas, bugigangas e outros recursos, vai além do que todos que o sucederam já demonstraram.

Nossa Hospitalidade é a demonstração do humor típico da era muda. Uma comédia que vive quase que exclusivamente de encontros e desencontros, de timing, de riso fácil e despretensioso. Se hoje aparenta ser apenas uma esquete de maior duração, é porque atores da geração de Keaton inventaram isso justamente no cinema. O filme é ágil, movimentado, não possui muitos diálogos. Há cenas descomunais, como a viagem de trem de McKay (Keaton) para retomar à propriedade da sua família. Esta é uma das melhores seqüências envolvendo trens da história do cinema, embora seja inferior à seqüência de A General (esta, perfeita), obra-prima máxima de Keaton.

Todos os personagens são agradabilíssimos, até um cão que segue seu dono possui enorme personalidade, sendo peça fundamental para o humor do filme, ainda que não seja o centro das atenções da história. O romance entre McKay e a filha da família rival (os Canfield) consegue unir todos os personagens, além de ter sido absolutamente bem montado e, sobretudo, crível. Keaton vive no filme mais um personagem típico de sua carreira onde, ao contrário de Chaplin, que teve em um vagabundo a inspiração de sua carreira, ele interpretava a burguesia ou personagens bem de vida – ainda que sempre fizesse disso uma piada constante.

O filme não funciona especificamente como uma crítica a nada em especial e nem pode-se dizer que possua importância política. A simplicidade de seu objetivo – o de entreter – é seu grande charme, como geralmente acontece com os grandes comediantes, que vêem na arte importância maior do que simples politicagens passageiras. Para chamar a atenção, bastava Keaton estar em cena, aparentando passividade (mas sempre esperto para tudo) e assim, quando menos se espera, somos brindados com seqüências inimagináveis – a já citada seqüência do trem, além de uma seqüência rio abaixo – que são perfeitas apenas pelo que são, e não pelo que querem ou deveriam dizer ou significar.

E um filme como Nossa Hospitalidade define bem o cinema de Buster Keaton. Falar sobre seus outros filmes importantes como A General, Boxe por Amor, Bancando o Águia, etc., não seria tão diferente quanto foi falar sobre este aqui. Assim como Chaplin, Keaton teve no início de sua carreira, nas primeiras décadas do século XX, inúmeros curta-metragens, onde demonstrava seu talento nato para a comédia. Depois o cinema cresceu como arte e como negócio, e média e longa-metragens consolidariam para todo o sempre esse talento e marcariam seus personagens únicos. Talento que merece ser reconhecido e divulgado. Com o fim do VHS e popularização de melhores formatos para se armazenar cinema (sem falar da própria Internet), isso finalmente está acontecendo. Experimente!

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