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Críticas

Cineplayers

Uma premissa inconsistente e inverossímil.

4,0

A norte-americana Amanda (Cameron Diaz) é a rica e bem-sucedida dona de uma produtora de trailers de filmes que abandona o namorado após saber que estava sendo traída. Navegando pela internet, descobre um website que apresenta pessoas que têm disponibilidade em trocar de residência por certo período. Amanda se interessa por uma pequena residência londrina, na qual reside a jornalista Iris (Kate Winslet), que acabou de ser emocionalmente destruída ao descobrir que seu grande amor e amante vai se casar com uma colega de trabalho.

As duas mulheres, fragilizadas, decidem então fazer a troca de casas. Iris, chegando à América, fica deslumbrada com Los Angeles e com a mansão de Amanda, e acaba por conhecer um velho roteirista de Hollywood, Arthur Abbott (Eli Wallach), e um bacana compositor de trilhas sonoras (Jack Black). Já Amanda não se entusiasma muito com o lugar escolhido, e em menos de um dia já decide voltar para casa, quando o irmão da proprietária da casa, Graham (Jude Law), chega durante a noite, bêbado, desejando passar a noite ali.

É com base nessa premissa inconsistente e inverossímil (afinal, as pessoas não costumam deixar suas casas aos cuidados de um completo desconhecido e, no caso de Amanda, uma casa de muitos milhões de dólares) que a diretora Nancy Meyers desenvolve o script, de autoria dela mesma. Responsável por filmes medíocres como Do Que as Mulheres Gostam, Alguém Tem Que Ceder e Operação Cupido (filme este que apresentou ao mundo Lindsay Lohan, para o bem ou para o mal), Meyers comete um grande equívoco: comédias românticas tem um público-alvo bastante específico, o feminino, e como então retratar todas as personagens femininas de seu filme de forma histérica, dependente emocionalmente dos homens e que a felicidade somente retornará se novamente estiverem sobre os ombros de um ser do sexo masculino? É quase uma afronta. Se as piadas funcionassem, tudo bem, mas o que se vê é um amontoado de gags ruins e diálogos mal escritos (e a trilha sonora de Hans Zimmer, utilizada de forma a servir de contraponto ao que ocorre na tela, é infantil e desnecessária).

Se não bastasse isso, Meyers utiliza intermináveis 138 minutos para desenvolver sua história. Comédias românticas, segundo a cartilha, devem ter entre 90 e 110 minutos de duração. Nada contra utilizar um tempo maior para contar a história – quando há história a ser contada. No caso de ‘O Amor Não Tira Férias’, é totalmente injustificável. Justificável mesmo só o cochilo que teima em aparecer com a enorme ‘barriga’ que o filme tem na metade de sua metragem.

Chamou-me a atenção a escalação do elenco, afinal Kate Winslet, Jack Black e mesmo Jude Law não costumam estar presentes em produções do tipo. Eles poderiam ser um fator preponderante na sustentação da narrativa, mas não é o que acontece. Black e Law, apesar de competentes como sempre, têm pouco espaço para aparecerem e desenvolverem seus personagens (e aí me pergunto, os 138 minutos foram gastos com o quê, exatamente?). Já Kate Winslet, uma das mais fascinantes atrizes jovens da atualidade, dá algumas escorregadas (jamais por culpa dela, sempre por conta do direcionamento de Meyers), mas leva o papel dignamente até o fim, mas sem maior brilho. Cameron Diaz, cujo talento ainda é duvidoso, não foge do histriônico e compõe um tipo, não uma personagem.

O maior mérito da película é rever Eli Wallach, do alto de seus mais de 90 anos, atuando de forma emocionante e digna. Wallach, ao adentrar o salão para receber uma homenagem (para a sua personagem, claro), fez-me chorar. Um destaque de brilho em meio a tanto lugar-comum.

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