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Críticas

Cineplayers

Um Stephen King que, nas telas, não funciona. Uma salada de gêneros que só faz enjoar, de muita pouca coisa que se salva.

5,0

O Apanhador de Sonhos é um filme baseado no livro homônimo do mestre do suspense e do horror Stephen King. Parte de uma boa premissa que já rendeu milhões e milhões de dólares a outros filmes que usaram da mesma fórmula, nas mais variadas formas: suspense - alienígenas - horror; não necessariamente nessa mesma ordem. Mas em "Dreamcatcher" essa ordem é mantida, basta prestar um pouco de atenção.

O roteiro foi elaborado por William Goldman, responsável por bons filmes como Todos os Homens do Presidente, Maverick e Lembranças de um Verão. Entretanto, o roteirista não acerta ao passar a história de King para os scripts cinematográficos. Ou melhor, até acerta em algumas partes, mas o número de erros é bem maior. Várias são as perguntas deixadas em aberto que o público tanto gostaria que fossem respondidas, como qual a ligação entre "Duddits" e o tal alienígena; ou por que os rapazes não tiveram premonições quaisquer sobre os futuros acontecimentos... Enfim, poderíamos apontar varias dessas falhas, porém vamos pular essa parte para mostrar o pouco que o filme traz de bom.

O enredo é para lá de básico. "O Apanhador de Sonhos" conta a história de quatro jovens rapazes amigos que acabam por fazer (devido as circunstâncias) um ato heróico: salvam um pequeno garoto do espancamento por um grupo de adolescentes mais velhos e, em troca, ganham alguns poderes extra-sensoriais. Anos depois, durante um acampamento nas florestas de Derry - Maine (um estado norte-americano onde são ambientadas todas as histórias de Stephen King), eles são atingidos por uma enorme nevasca, que traz algo muito incomum consigo. Desafiados a parar uma força (invasão?) alienígena, os quatro amigos, ainda em meio a isso tudo, lutam para impedir a chacina de diversos civis inocentes, que estavam na área declarada "em quarentena" por um general do alto escalão das tropas de vigilância (Morgan Freeman, de A Soma de Todos os Medos e Seven). No final das contas, eles acabam por enfrentar um horror incomum, onde o destino do mundo estará lançado.

O diretor Lawrence Kasdan (que atuou em Melhor é Impossível; escreveu O Guarda-Costas e teve participações nos roteiros de Os Caçadores da Arca Perdida, Star Wars Episódio V - O Império Contra-Ataca e Star Wars Episódio VI - O Retorno de Jedi) acerta apenas em uma parte nessa inconstante produção: o início. Isso mesmo, o começo do filme é justamente o melhor que ele tem a nos apresentar. É tenso e bem conduzido, onde Lawrence consegue criar um clima muito bom que, infelizmente, não é sustentado ao longo da produção. Ele nos mostra paralelamente a história inicial dos quatro rapazes e como cada um deles utiliza seus poderes extra-sensoriais dados a eles pelo personagem "extra-terrestre" Duddits. A história do encontro dos meninos com tal personagem é contada posteriormente a forma como os mesmo utilizam seus poderes. Até aí, temos um filme muito bom, com um excelente clima e uma história envolvente, a medida em que ia se deixando perguntas em aberto. Uma pena elas não serem respondidas mais tarde, que as qualidades do filme parem por ai...

A partir desse momento em diante (mais precisamente no momento em que os personagens "Jonesy" e "Pete" batem de frente com o esquisito "alien"), as coisas começam a tomar outro rumo e a fita ganha um ar de "filme B" incondicional, o famoso "terror trash", embalado como superprodução. Quem gosta dos filmes ou obras baseadas nos livros de Stephen King, provavelmente, ao se deparar com a criatura do filme, irá se lembrar de Uma Fenda no Tempo, onde os "monstros" eram aquelas bolas com bocas afiadas que devoravam tudo o que viam pela frente. Os monstros de "O Apanhador de Sonhos" se assemelham muito aos do filme citado (chamados de "Langoliers"), entretanto, não possuem o "corpo" apresentado em Dreamcatcher. Certamente, quem vê aquela boca cheia de dentes pontiagudos, lembrará dessa produção.

Damian Lewis, que interpreta "Jonesy", dentre os quatro rapazes do elenco de amigos, é o que tem melhor atuação. O ator nunca havia feito outro filme de expressão, mas talvez o toque especial que o filme tenha, fora seu bom início, seja a dupla personalidade que o personagem Jonesy acaba tendo que adotar devido as circunstâncias. O personagem "Pete Moore" (interpretado por Timothy Olyphant, de Rock Star e Pânico 2) parecia ser um tanto quanto engraçado, mas infelizmente leva um fim nada agradável, logo no início da trama. Uma pena.

Mas talvez o que mais desaponte o público em "O Apanhador de Sonhos" sejam alguns detalhes que incomodam, como:

Morgan Freeman - Realmente, Morgan está irreconhecível (e seu nome atrai pessoas aos cinemas). Certamente, um dos filmes (ou atuação) mais medíocres de toda sua boa carreira. Seu papel como general "Abraham Curtis" não convence, é muito superficial.

Por ser um filme baseado no livro de Stephen King, as pessoas já iam aos cinemas esperando um bom suspense, terror, ou seja lá o que for. Entretanto, nem o próprio King apostou suas fichas em "O Apanhador de Sonhos". Stephen praticamente "cedeu de graça" os direitos autorais aos produtores do filme para que o mesmo pudesse ser realizado.

O título da película não tem absolutamente nada a ver com o filme em si. Há um amuleto que é uma espécie de símbolo, que os garotos adotam desde o encontro com "Duddits" no início do filme. Há uma explicação para ele, mas absolutamente sem lógica e não adaptável à trama. Totalmente sem pé nem cabeça. Um título bonito, mas, no mínimo, incoerente.

No final das contas, "O Apanhador de Sonhos" é um filme regular (ou de "fraco" para "regular"), que parte de uma boa idéia inicial, boas tomadas, mas tem todo seu desenvolvimento prejudicado pelas idéias que parecem fugir do controle das mãos do diretor, além de um elenco muito fraco. A direção de arte é bonita, o clima do lugar ajuda bastante nisso, bem como a fotografia, mas não vai além de um "bom" trabalho. O som também está legal, entretanto, isso é tudo.

Infelizmente O Apanhador de Sonhos fica devendo muito. Sorte daqueles que conseguiram assistir ao curta The Final Flight of The Osíris, da série Animatrix, antes ou depois da projeção. Alguns cinemas da rede UCI não estavam transmitindo o curta, bem como toda a rede Cinemark. Um absurdo, convenhamos...

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