Quando a Disney anunciou que estava fechando o seu departamento de animação tradicional, sob o argumento de que filmes em duas dimensões já não atraíam mais o público – e as produzidas por computador seriam as "culpadas" por isso – todo o setor chiou. Só a Disney não percebia que o problema não era a técnica, e sim os péssimos roteiros que estavam originando filmes ruins. Prova maior disso foram os posteriores sucessos de bilheteria de filmes em stop-motion ("A Noiva Cadáver", "Wallace & Gromit"), uma das técnicas pioneiras no gênero.

É interessante observar que agora roteiros ruins também estão gerando filmes por computador desastrosos. "O Bicho Vai Pegar" é o maior exemplo. Sem um pingo de criatividade, piadas que não funcionam e um tema que já vem sendo explorado à exaustão – animais em conflito com o mundo dos humanos – é a pior animação dos últimos anos. Um péssimo cartão de visitas do novíssimo setor de animações da Sony, aqui em seu primeiro projeto solo. Rivalizando em mediocridade, só mesmo "Selvagem", que foi produzido pela... Disney!

Engraçado que em algumas vezes na história do cinema, principalmente a partir da década de 90, projetos similares e quase simultâneos foram desenvolvidos: vulcões foram tema de "O Inferno de Dante" e "Volcano"; catástrofes provindas do céu foram mostradas em "Armageddon" e "Impacto Profundo"; insetos foram estrelas de "Formiguinhaz" e "Vida de Inseto". Mas nada comparado à enxurrada de animações estreladas por bichos fora do habitat. Além deste e do já citado "Selvagem", temos ainda "Os Sem Floresta", "O Segredo dos Animais", "Madagascar"... haja paciência.

Aqui o protagonista é Boog (voz de Martin Lawrence, no áudio original), um urso que foi criado em cativeiro pela guarda florestal Beth (voz de Debra Messing, da telessérie ‘Will & Grace’). Com uma vida parecida a de um animal doméstico qualquer, e astro da cidadezinha onde mora por causa de apresentações que faz em um pequeno anfiteatro, Boog tem sua vida alterada quando salva a pele do agitado cervo Elliot (voz de Ashton Kutcher). Já parceiros, visitam uma loja de conveniência e aprontam uma grande bagunça. O resultado? Boog e seu parceiro são "deportados" para a floresta, com um agravante para o urso: ele não faz a menor idéia de como viver no mundo selvagem. A temporada de caça (o "open season" do título original), prevista para começar em breve, é outro fator complicador. 

A falta de um roteiro mais original e melhor trabalhado resulta em algo bocejante desde o princípio, principalmente para o público adulto. "O Bicho Vai Pegar" nem é voltado somente para as crianças menores, mas somente a elas deverá agradar – por causa da floresta como cenário, uma infinidade de bichos fofinhos passarão pela tela, como esquilos, patos e coelhos, fazendo a alegria da garotada. Mas a animação meramente correta, a montagem arrastada, a dublagem nacional medíocre e a total falta de atrativos do enredo deixarão os pais muito, mas muito entediados.