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Críticas

Cineplayers

História merecia mãos mais acostumadas à terra afegã. Filme é sucessão de clichês melodramáticos.

5,0

Escrevo agora sobre O Caçador de Pipas sem nunca ter lido o romance que o inspirou. Para melhor ou para pior, entrei na sala de projeção sem sequer saber do que se tratava a história. A fruição cinematográfica foi, pois, completa nesse caso, afinal nada pré-concebido permeou as minhas impressões para com o filme. Ao apagar das luzes, ficou claro o porquê do livro de Khaled Hosseini ter se tornado o fenômeno que conhecemos: uma história ambientada em um país distante e exótico, duas crianças protagonistas, um destino trágico, a busca pela redenção.  Deu no que deu: a sucessão de clichês do melodrama tornou-se um longa-metragem de uma sucessão de clichês cinematográficos.

É de se estranhar a figura de Marc Forster no banco de diretor. Provadamente talentoso, o alemão, em sua curta e diversificada carreira, demonstrou uma grande capacidade na concepção visual de seus filmes, de forma que seu mise-en-scène construísse a narrativa em tão grau de equivalência quanto as linhas de um roteiro. Por isso, torna-se equivocada sua assinatura em algo que exigia algo realista, cru, quadrado. É o que ele se esforça para fazer, mas acaba por deixar O Caçador de Pipas não só impessoal, mas também limitado. Seu olhar é disperso e sem identidade.

A culpa também há de se recair sobre o roteiro de David Benioff. De tão arrumadinho, redondinho, acabou por esquecer que a imaginação cinematográfica, se não tão importante quanto a literária, ainda assim é capaz  de construir na mente do espectador um mundo à parte. O Caçador de Pipas é tão didático que não deixa margem para fugas ou reflexões. Pior: acaba perdendo grande parte de algumas surpresas provavelmente impactantes no livro de origem, que em sua versão em película só se tornam acontecimentos previsíveis – como exemplo maior, o reencontro entre o protagonista Amir (Khalid Abdalla, em ótimo desempenho) e um fantasma de seu passado, que de tão antecipada se torna inverossímil e forçada. Duvido que a construção dessa passagem no livro tenha sido tão rude.  É por isso que as linguagens se diferem, e o olhar se torna tão importante no fazer cinema.

Assistir a O Caçador de Pipas torna-se então uma experiência híbrida, um olhar estrangeiro e não mais que curioso sobre o Afeganistão, que não muito acrescenta àqueles que não conheciam o livro, e menos ainda àqueles que já o leram. A história dos dois meninos amigos separados por um ato cruel é até digna, mas merecia mãos mais acostumadas à terra afegã.

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