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Críticas

Cineplayers

Investigação sobrenatural dá ritmo a um novo exemplar gótico britânico.

5,5

Mais um filme com temática de espíritos provém do Reino Unido. O Despertar (The Awakening, 2011) começa com um anúncio, não sobre a possibilidade de tudo ser real, como em trabalhos recentes, também não enfatiza uma adaptação de um caso verídico, como outros filmes tentam nos fazer engolir. Anuncia sobre um momento histórico, o pós primeira guerra mundial, onde milhares morreram, seja em conseqüência da própria guerra ou pelas doenças que assolaram a Europa. Foram anos em que a indefinível quantidade de perdas rendeu uma grande demanda daqueles que não aceitaram as mortes e procuraram, a todo custo, buscar contato. Daí surgiram os charlatões sensitivos faturando em nome da crença; o que, ainda hoje, costumam ser encontrados em várias esquinas.

Porém, na época, segundo a história, havia alguém para desmascarar isso. Florence Cathcart faz um tipo de investigadora de casos sobrenaturais, desvendando falsas manifestações e entregando à polícia uma lista de impostores. Com um grande equipamento, ela viaja a procura dos fantasmas, costumeiramente indutiva e cética quanto à existência desses. Ela também é muito famosa no país por ter escrito um livro que desmistifica tais aparições. É quando recebe um convite para ir até um casarão que abriga meninos que afirmam que lá vive um fantasma real. A afiguração toma um rumo, fazendo-nos acompanhar a investigação de Florence, certa de que iria encontrar alguma criança dona de brincadeiras assustadoras. Mas há uma história por trás disso a se considerar, ainda mais pelos pequenos detalhes que o filme expressa ao seu público. Alguém morreu ali.

Durante um ato, dois personagens jogam paciência. Dizem que as peças precisam se encaixar, todavia, para isso, é preciso da tal paciência. Uma mera brincadeira linguística feita com a intenção de fazer alusão à narrativa sombria. Estamos frente a um casarão cheio de portas, com quadros aterrorizantes e crianças amedrontadas. O clima frio e a fotografia escurecida tendenciosamente ao cinza dá a impressão de ameaça e tristeza, sentimento compartilhado por todos os personagens, alguns solitários, outros com memórias malditas e até aqueles com um passado esquecido diante um evento brutal.

O universo concebido pelo diretor estreante em longas metragens Nick Murphy mistura componentes de filme de suspense com investigação ao estilo clássico presente na literatura, sobretudo de Conan Doyle. As sutilezas da trama dão a ela um ímpeto misterioso que brinca com sombras e sustos, muitos sustos, alguns bastante funcionais – a cena num lago é especialmente inspirada. Os recursos de sua heroína, vivida com beleza e frieza pela inglesa Rebecca Hall (de Vicky Cristina Barcelona [idem, 2008]) dão um tom de ocultismo e isto prevalece na história até seu ato final, demasiadamente prolongado. Esta postura cautelosa que insiste em manter é quebrada em poucos momentos, quando esta percebe no outro uma fragilidade que é sua – seja na mutilação de Robert Mallory (Dominic West) ou na solidão do pequeno Tom (Isaac Hempstead Wright). A dissociação proveniente desses eventos é denunciada num clímax semelhante a obras análogas, como em Os Outros (The Others, 2001) de Alejandro Amenábar. Impossível não se recordar deste.

Tenso do ponto de vista dramático e visivelmente ansioso em explorar suas surpresas, o longa segue uma cadência que por vezes até empolga, mas vai perdendo a força. Quando nos deparamos com as revelações, a gana pela resposta já é bem controlada e a obra com bom potencial de se tornar alguma referência recente dentro de filmes do gênero despenca. Contudo, a diversão existe da mesma maneira e ritmo que o atual e também inglês A Mulher de Preto (The Woman in Black, 2012), portanto com elementos narrativos mais espertos, como por exemplo o projeto daquele edifício fantasmagórico estabelecido num quarto, onde pequenos bonecos são estranhamente posicionados indicando acontecimentos recentes, visto apenas por um observador onipresente. Sem fôlego, entretanto com atuações interessantes (destaca-se nisso a guardiã vivida pela expressiva Imelda Staunton), o filme se desenvolve até lugares comuns, emitindo lapsos de bons instantes, nos recordando de obras que continham casarões amaldiçoados. Vale lembrar de Amityville - A Cidade do Horror (The Amityville Horror, 1979), O Iluminado (The Shining, 1980) e a mini série Rose Red.

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