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Críticas

Cineplayers

Um filme de ficção dos anos 50 que hoje pode ser visto como uma obra-prima do gênero.

9,0

A Guerra Fria deixou muitos americanos com medo, e nisso nasceu o interesse pelo desconhecido, pelos planetas distantes e possíveis raças alienígenas. A década de 50 é o ápice desse cenário, de onde surgiram inúmeros filmes B de ficção científica, hoje renegados e já esquecidos pelo tempo. 90% de tudo que era lançado era lixo barato, feito para entreter durante pouco tempo e sequer ser absorvido pelo público, e assim entende-se porque hoje tais filmes são ridicularizados pelo grande público ou mesmo por parte da crítica. Poucos são os que resistem até hoje.

A Guerra dos Mundos talvez seja o mais famoso de todos eles. Tanto que Steven Spielberg lançará um remake de proporções enormes em breve, nos cinemas. Nada de baixo orçamento para Spielberg. Em 1953 o diretor Byron Haskin ficou famoso levando esta, que é uma das mais famosas histórias de H. G. Wells, para as telas, isso com um orçamento de US$ 2 milhões, algo que para a época já era considerável. Na mesma década Ed Wood “criou” Plan 9 From Outer Space, filme que hoje é considerado pela média dos críticos como o pior já feito na história do cinema. Engraçado notar que o filme é reconhecido hoje por ser tão ruim. Se fosse apenas medíocre estaria também esquecido. A Guerra dos Mundos e Plan 9 From Outer Space são dois exemplares entre os poucos tais que resistem até hoje.

O Dia em Que a Terra Parou é anterior a eles, e também tem um bom nível de popularidade. Afinal o diretor desta obra é ninguém menos que Robert Wise, o mesmo de Amor, Sublime Amor e A Noviça Rebelde. Ainda assim, muitos consideram este pequeno filme de aproximadamente US$ 1 milhão o melhor e mais importante do diretor. O mais incrível é que os efeitos especiais ainda resistem ao tempo, isso porque o filme não era recheado deles. O efeito mais notável mesmo é o vôo da espaçonave de Klaatu no início do filme – um efeito que não poderia ficar muito melhor nos dias atuais, devido à sua simplicidade extremamente funcional.

A história também é simples, mas de extrema importância ainda hoje. Era um recado direto para as pessoas e principalmente para os governos que viam-se ameaçados sob a sombra de uma devastadora e até provável guerra nuclear. O alienígena Klaatu viajou, juntamente do robô Gort, por 200 milhões de milhas para chegar à Terra e mandar uma mensagem a todos os seus representantes: se continuarem constituindo uma ameaça a outros planetas (com a criação de foguetes essa ameaça existiria em breve), todo o planeta deve ser exterminado! Porém, assim que chega à Terra – mais precisamente em Washington – as pessoas não parecem querer ouví-lo, e fazem de sua presença uma grande ameaça. Acuado, Klaatu (de aparência igual à dos terráqueos) vai conviver por um tempo com uma típica família de classe média, para decidir se vale a pena ou não tentar realmente salvar nosso planeta da destruição.

O final do filme certamente pode gerar inúmeras discussões. Afinal, o sistema sugerido por Klaatu para garantir a paz universal é a opressão: ao mínimo sinal que os povos se degladiarão e ameaçarão outros planetas, a Terra seria exterminada sem dó. A intenção é realmente boa, mas em uma época de grandes tiranos, pessoas que têm ou desejam ter controle mundial com a desculpa de tentarem assegurar a paz (Bush é um exemplo), podemos perguntar se essa é a maneira ideal de se fazer isso. O Dia em Que a Terra Parou levanta essa questão de forma perfeita e, mesmo que você não concorde com sua filosofia (é uma faca de dois gumes), já deve dar crédito a ele por fazer pensar. Enfim, é um típico filme de ficção científica dos anos 50 que faz pensar, e é por isso que permanece vivo até os dias atuais.

Fora a parte filosófica, este é um trabalho no mínimo incrivelmente divertido. Mesmo que hoje em dia esses filmes não assustem mais, reconheço que a atmosfera em certos momentos é muito tensa, e fica difícil, por exemplo, não se segurar quando o robô Gort, perto do final do filme, mostra-se uma ameaça à Helen, mãe da casa onde Klaatu hospeda-se em Washington. Além disso, todo o clima de fantasia do filme (embora na época certamente uma boa parte dos espectadores o levasse muito à sério) é bastante interessante. No mínimo é curioso conferir as engenhocas que a nave espacial de Klaatu possui, e ouvir falar sobre o seu próprio planeta, que é como seria o nosso em um futuro não muito distante, caso nos livrássemos das guerras. Para se ter uma idéia de como o roteirista Edmund H. North foi feliz nessa tentativa de prever o futuro, há um diálogo entre Klaatu e o garotinho da casa onde ele se hospeda enquanto este brincava com um autorama, e Klaatu despede-se com a seguinte frase:

“ - Depois te conto de outro tipo de trem, que não precisa de trilhos.”

Hoje já temos trens que não necessitam de trilhos, de fato. O filme, desde seu lançamento, é referenciado sutilmente entre muitos outros. A célebre frase “Klaatu barada nikto”, falada pela atriz Patricia Neal (Helen) para dar um comando especial ao robô Gort, está presente, por exemplo, no filme Uma Noite Alucinante 3, de Sam Raimi, na parte em que Ash deve resgatar o Livro dos Mortos. Na época do lançamento do filme não eram poucos os fãs do gênero que ficavam repetindo diversas vezes ao dia esta mesma frase. A cena em que Gort aparece pela primeira vez também é muito famosa e é minha cena preferida no filme todo.

O Dia em Que a Terra Parou pode ser considerada uma das mais importantes ficções científicas de todos os tempos no cinema. Um filme que mistura diversão com conteúdo e é  dono de uma mensagem atemporal. Um clássico não tão popular que figure entre os maiores já lançados em Hollywood em todos os tempos, mas ainda assim deveria ser visto por quem curte pelo menos um pouco filmes sobre visitantes de outros planetas. É uma experiência no mínimo curiosa, como já foi falado aqui antes.

Comentários (1)

Alexandre Marcello de Figueiredo | sábado, 24 de Novembro de 2012 - 17:07

Um clássico interessante e ainda atual mesmo nos dias de hoje. Nos faz pensar e isso já é um mérito. Bacana também é a relação de amizade do alienígena Klaatu com o garotinho.

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