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Críticas

Cineplayers

Risível ao extremo, refilmagem de obra-prima da ficção científica é apenas mais um filme desnecessário de Hollywood.

2,5

A pergunta que resta ao fim da projeção de O Dia em que a Terra Parou é: “Por quê?”. Qual o motivo para que seja feita uma refilmagem de um clássico da ficção científica? Se a resposta óbvia for: “Para faturar muito dinheiro”, então este texto não tem uso, e qualquer reflexão sobre o filme deve ser evitada, e que se preste atenção apenas nos números das bilheterias. Se, no entanto, houver ainda alguém que acredite em alguma intenção artística – mesmo num blockbuster hollywoodiano –, então a pergunta (“Por quê?”) e a reflexão se justificam.

Esse novo O Dia em que a Terra Parou conta a história da chegada de um alienígena à Terra. Ele pousa no Central Park, em Nova Iorque, e, junto com um robozão, começa a interagir com o pessoal daqui, que ainda não sabe ao certo se está sendo salvo ou atacado. O extraterrestre, então, faz amizade com uma cientista, que está numa improvável equipe de pesquisadores para entender a questão. A destruição da Terra já é iminente; a única esperança é que a tal cientista (ou qualquer outra pessoa) consiga convencer o agente de outro planeta que os humanos são bacanas e não merecem ser exterminados.

Trata-se de um argumento pouquíssimo original e, o pior, com uma insuportável lição de moral. Se o cinema de massa americano já tem a característica de gerar pouca reflexão, pior ainda é quando, além de vazio, o filme violenta o espectador com excesso de bom-mocismo e moralismo barato: “Salve o planeta, nós o estamos destruindo”. Ok, toda a mídia nos diz de forma repetida que não devemos fumar, nem usar drogas ou álcool, nem aceitar balas de estranhos. Agora, ter de aguentar isso no cinema é demais! Será que não é mais possível ter um pingo de subversão? Está certo que toda forma de comunicação traz consigo uma ideologia, mas, nesse sentido, o cinema norte-americano já foi bem mais sutil.

Uma pergunta que eu gostaria muito que fosse respondida – e tenho vontade de fazê-la toda em caixa alta: por que sempre tem que haver uma criança? Mesmo que ela não tenha função nenhuma na trama, mesmo que ela não se constitua personagem; mesmo assim, eles sempre dão um jeito de colocar uma criança! Isso me lembra um comercial da Ford dos anos 90 que dizia algo do tipo “As pesquisas mostram que comerciais com cachorros aumentam as vendas. Então, colocamos um cachorro para mostrar que o novo Ford...” – claro, eles brincavam com o clichê ao mesmo tempo em que faziam uso dele. A sensação é que, nesse tipo de filme – e essa crítica já havia sido feita em Fim dos Tempos, por exemplo –, existe uma obrigação contratual de inserir uma criança para aumentar a carga dramática ou algo assim. Será que é difícil perceber que, para aumentar a carga dramática, é preciso construir personagens tão humanos quanto for possível, e só assim o público consegue se identificar com eles e estabelecer alguma espécie de vínculo que venha a gerar um sentimento? Ora, qualquer um com o mínimo de percepção consegue intuir que atirar uma criança de paraquedas na trama não tem valor nenhum – e ainda mais quando isso se torna um problema a mais no roteiro: a relação da criança com a madrasta e o falecido pai é algo de uma superficialidade quase chocante, e a tentativa de fazer disso uma subtrama dramática chega a ser constrangedora.

Em termos de atuação, há um Keanu Reeves no limite do risível (quando ele fala, num depoimento, “my body does”, uma gargalhada tem de ser sufocada) e uma Jennifer Connelly bela, mas pouco convincente. A atriz, que já mostrou talento em outras produções, está um tanto desconfortável no papel, especialmente nas cenas em que cita nomes científicos como se tivesse decorado para uma prova – sem ter nenhuma relação de proximidade com o objeto de estudo de sua personagem.

O que resta, então, de positivo em O Dia em que a Terra Parou? Muito pouco. A primeira parte tem um nível de tensão interessante, enquanto a trama vai-se construindo e o espectador fica na expectativa do que vai acontecer. Daí em diante, no entanto, é só decepção. Com efeitos especiais já conhecidos e afundado na falta de criatividade, o filme fica ainda pior quando insetos-robôs são lançados para iniciar a devastação – momento de mau gosto, que encerra os últimos laivos de possível paciência que porventura o público ainda possuísse.

Comentários (2)

Cristian Oliveira Bruno | segunda-feira, 25 de Novembro de 2013 - 15:49

Quando vão parar de apostar em Reeves? O cara é muito ruim!!!!! Esse filme é horrendo!!!

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