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Críticas

Cineplayers

Emulação humilde.

5,0
Tendo iniciado a carreira aos 16 anos desenhando o Menino Maluquinho, o artista Luciano Cunha faz um trabalho antenado com o seu tempo, em mais de um sentido. Em 2008, havia imaginado um conceito de um vigilante aos moldes do Batman que punia políticos corruptos. A ideia tomou uma forma final durante as Jornadas de Junho em 2013, quando a população tomou as ruas em todo o Brasil para protestar contra o governo. Surgiu assim O Doutrinador, uma webcomic que angariou um rápido sucesso com sua narrativa sobre um herói anticorrupção. 

Cinco anos depois, aproveitando-se do momento em que o mercado internacional está lotado de adaptações de quadrinhos, em grande parte por causa do Universo Cinematográfico Marvel, chega aos aos cinemas brasileiros O Doutrinador, dirigido por Gustavo Bonafé, que anteriormente comandou a comédia Chocante e a biografia da banda Planet Hemp Legalize Já - Amizade Nunca Morre. Seu terceiro longa também é a sua primeira empreitada solo após dirigiu seus dois primeiros filmes ao lado de Johnny Araújo (O Magnata). 

De partida pode ser identificado um dos principais problemas do filme: apresentar a história de origem do personagem da mesma forma problemática que acomete muitos primeiros filmes. Neste roteiro escrito a cinco mãos, a transformação do agente federal Miguel na persona vigilante após perder a filha vítima de bala perdida e receber uma máscara de gás em um conflito de manifestantes é especialmente acelerada no primeiro ato, com a sucessão e profusão de cenas e personagens dando pouco tempo de desenvolver empatia ou antipatia pelos personagens centrais da trama.

Outro problema é o excesso de vilões. A partir do momento em que O Doutrinador “nasce” e inicia sua caçada aos políticos, o filme enfileira uma galera de personagens padronizados a serem exterminados sem muitas características que os diferenciam. O vilão principal e empresário corrupto Antero Gomes é interpretado com maldade divertida por Carlos Betão, mas fora isso não passa do personagem inescrupuloso típico. Alguns são tão irrelevantes que o roteiro esquece, como é o caso da ministra vivida por Marília Gabriela em participação especial.

Apontar esses erros é necessário para também apontar os aspectos interessantes que o filme usa a seu favor, como nunca explicar porque os olhos da máscara do Doutrinador brilham em vermelho, um recurso que remete à estilização de filmes como Sin City - A Cidade do Pecado. Outro ponto interessante é implicar também que as ações do personagem apesar de bem-intencionadas são ilegais, representado no arco do colega Edu, que caça o doutrinador, e que podem sair pela culatra, com Antero manipulando para crescer em popularidade entre o povo graças às ações do vigilante. 

Há também personagens que poderiam ser melhor aproveitados, como a “sidekick” Nina, apresentada como a hacker mais procurada no Brasil mas que na prática só ajuda a personagem de fato em um número menor de cenas, servindo mais como personagem em perigo e bússola moral para as ações do personagem. Sua mãe estar presa na cadeia é um arco inicialmente interessante, mas não chega a lugar nenhum.

Bonafé mostra assistir o melhro da ação recente - como De Votla ao Jogo - transfere isso para os eu trabalho, com sequências de luta e tiroteios ambientados em lugares difíceis, perigosos e que oferecem complicações extras. Ma falha também nesse aspecto quando tentar ser “espetacular” demais, evidenciando descaradamente não ser um projeto multimilionário.

Entre altos e baixos, O Doutrinador é uma iniciativa rara (mas não a primeira; vide O Judoka, de 1972) e foi bem sucedido o suficiente para garantir uma série de televisão comandada por Bonafé programada para estrear em 2019. Esperar para ver se, com mais tempo em um formato seriado, a história flui melhor.

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