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Críticas

Cineplayers

A incrível história do homem que atravessou as torres do World Trade Center sobre fios.

8,0

Philippe Petit é um artista. Sua habilidade e precisão impressionantes são provas disso, assim como o depoimento que concede à câmera de James Marsh, com direito a caretas, interpretações e mudanças na entonação da voz. Seguindo o exemplo de experimentação de seu personagem principal, que se aventurava na corda bamba em locais de muito perigo, o documentário experimenta estilos incomuns ao gênero, com clara parcialidade na admiração aos fatos retratados, além do uso de cenas ficcionais para reproduzir acontecimentos narrados. O resultado poderia ser trágico - assim como poderia ter sido para Petit –, mas se mostrou acertado.

O maior desafio enfrentado pelo equilibrista foi atravessar de uma torre para a outra dos prédios do World Trade Center, em Nova York. Se acertadamente o cineasta escolheu ignorar por completo o atentado de 11 de Setembro, que nada teria a colaborar com a história retratada, o episódio surge instantaneamente na cabeça do espectador, que não consegue dissociar as torres do terrorismo praticado contra elas. Em O Equilibrista encanta não apenas o feito e a coragem de Petit, mas também o local em que caminhou por 45 minutos até concluir sua aventura.

O documentário retrata o processo complicado até o dia de colocar o plano em ação. Petit planejou andar entre as torres antes mesmo de elas estarem prontas e, assim, acompanhou sua construção desde o início. Um sentimento estranho de vazio acompanha as imagens da construção do WTC, fadada, na memória de todos, a um fim trágico. E, assim, o sentimento de alegria e encanto com o feito de beleza de Petit traz um conforto momentâneo por fazer crer que as boas memórias são mais valiosas do que as trágicas.

Petit afirma em seu depoimento que os sonhos vêm de fascínios reais, de objetos palpáveis, e que o grande diferencial de seu sonho era não poder ver nem tocar as torres gêmeas, já que havia decidido aventurar-se entre elas antes de estarem finalizadas. Para ele, esse era um dos principais fascínios de sua aventura. Em O Equilibrista, o fascinante é saber que o WTC jamais poderá ser objeto de sonhos e histórias novamente.

Por vezes um homem que parece ser mais resistente à fragilidade humana, Petit mostra seu lado de fraquezas quando encontra contratempos na torre recém-inaugurada, como seguranças que os obrigam a ficar horas escondidos, problemas com o vento no alto dos prédios e o transporte dos materiais necessários. Às vezes parecendo mentiroso em sua fantasia, o documentário supera a desconfiança por mostrar que sua história de superação e transgressão das regras é maior do que os exageros narrativos do longa. O descumprimento da lei por Petit mostra seu deslocamento e insatisfação com as regras sociais. Nos depoimentos coletados recentemente, o artista aparenta sentir-se à margem da sociedade, parecendo ser alguém fora de seu tempo e que encontrou na arte uma forma de dar vazão à sua inquietude e ganhar visibilidade.

A construção do documentário como uma espécie de ficção policial funciona adequadamente, complementado pela trilha sonora que impulsiona a trama. A linha que separa documentário e ficção é tênue, assim como a que separava a vida e a morte de Petit. No geral, é impossível também separar o World Trade Center da aventura do equilibrista. Assim, o filme é elevado a outro patamar ao remexer na beleza de um cartão postal ligado a memórias trágicas. E foi esse o principal fator responsável pelos prêmios acumulados pelo documentário, inclusive o Oscar da categoria.

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