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Críticas

Cineplayers

A predição do besouro.

6,5
Para muitas pessoas, e eu me incluo entre elas, existe um desafio ao se assistir O Escaravelho do Diabo: vencer o sabor doce da nostalgia. Fui ao cinema querendo gostar do filme simplesmente por gostar do livro, isso devido a memória de infância, do quarto ou quinto ano, quando pela primeira vez li O Escaravelho do Diabo, dias antes ou depois de ter lido O Mistério dos Cinco Estrelas e Um Cadáver ouve Rádio. Talvez o livro nem seja tão bom, mas a lembrança em torno dele o fez tornar-se importante. E o filme? Para a geração a qual visa comercialmente alcançar, deverá ser no mínimo bem divertido. E é isso mesmo, ele é bem divertido diante suas visíveis limitações narrativas.  

Fazer comparações entre livros e suas adaptações costumam ser injustas e indevidas, simplesmente pelo fato do cinema não ter compromisso em ser absolutamente fiel a obra adaptada. É adaptação a outra linguagem, oras. Então o protagonista adulto de outrora aqui tornou-se um adolescente de 13 anos. Isto é tudo que trarei acerca do livro em relação ao filme. 

Numa cidadezinha interiorana, cuja população chama atenção pela quantidade de pessoas ruivas, crimes acontecem, sendo que as vítimas, os ruivos, recebem como presente escaravelhos dentro de uma pequena caixa. O suspense em volta do temor com relação às possíveis novas vítimas movimenta toda a trama, pois envolve paixões. É a isca ideal a um público definido, imerso num potencial ciclo de investigações em exatos dois níveis: o da polícia; e o do menino.

Roteirizado pela experiente e versátil Melanie Dimantas, com colaboração de Ronaldo Santos, parece que a intenção foi formatar uma história propícia com intuito de se enquadrar ao interesse do público juvenil cada vez mais envolvido com tecnologia. Isso significa usar fórmulas convencionais e trazer cenas cuja tensão reside na interação do público com os personagens, a partir da empatia. Ritos são tratados, permitindo identificação instantânea. Além disso, se passa em tempos de imersão a diferentes aparatos tecnológicos como celulares e games. 

Nada de tão especial será visto em cena, ainda que boas surpresas são reservadas – apesar da censura de 12 anos, há algumas boas cenas impactantes ao público mais jovem. No entanto, a falta de qualquer ousadia narrativa, que tirasse o filme da padronizada caça entre gato e rato, torna-se mero aborrecimento. Entendemos sua finalidade comercial e a possibilidade de inspirar outras adaptações semelhantes. O cinema, por sua vez, pede mais do que isso.

Felizmente, tal como mencionado, apesar da preocupação com censura, não há total abstração das imagens em torno da violência dos crimes. Isso surpreende e é importante, uma vez que muito poderia se ignorar na obra original, mas não seus rudimentos em torno de sequenciais crimes e os impactos a quem os presencia. A partir deles, toda uma ambientação sombria é gerada, elaboração dimensional propícia para se estabelecer algum suspense e surpreender com bons momentos de horror. Econômicos, mas viáveis. 

O estreante Carlo Milani é competente na condução, especialmente nas cenas que envolvem alguma ação. Até busca elaborar tensão, mas se entrega aos convencionais e às vezes insuportáveis alívios cômicos. É o mal da censura. Os atores ficam de fora de sua rédea, entregando performances pouco inspiradas, talvez oriundas da pouca complexidade dos personagens. Em certas ocasiões até soa novelesco, conforme o ato final. Herança da carreira de seu realizador? Milani é habituado a novelas.   

Essa baixa complexidade é compreendida na atividade dos policiais que investigam os assassinatos. Encabeçado por Marcos Caruso, esses policiais cometem erros os quais impedem melhores resoluções, dando margem a um adolescente investir na investigação a partir de seus próprios recursos. Caruso vive o Delegado Pimentel, que tropeça em alguns problemas particulares. Esses problemas estão além de artifícios de construção de personagem, servem como muleta de interação entre o Delegado e o jovem Alberto (Thiago Rosseti), que ganha subsídios para sua motivada investigação. Ele é o protagonista, afinal, então era preciso lhe dar foco de atenção especial.   

E vale ressaltar uma peculiaridade tratada pelo roteiro: seus personagens centrais estão imersos em questões que colocam em dúvida suas saúdes mentais. Síndromes, transtorno do déficit de atenção e traumas da infância aparecem na qualidade de solução para a construção de suas personalidades. Uma olhada no CID-10 e cada um ganhou sua íntima particularidade. Taí uma limitação do roteiro. 

No fim, belos planos contribuem com propósito de embelezar um filme que não tem tanta substância, a não ser servir como uma espécie de ponto de partida capaz de inspirar alguns jovens a ingressarem e, talvez, tomarem gosto pela arte cinematográfica. Tem que se começar de algum lugar, então que seja nesse longa que, por vezes corajoso e outras covarde, se baseia num livro cujo carinho dos fãs fez dele tão importante. 

Comentários (3)

Marcelo Queiroz | sábado, 16 de Abril de 2016 - 21:09

Tô com vontade de ver esse pela série Vagalume, gostava muito da coleção e ainda gosto 😁

Adriano Augusto dos Santos | domingo, 17 de Abril de 2016 - 11:43

A serie Vaga-lume era incrível,me iniciou em ser quem sou.

Acho que li todos na época.

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