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Críticas

Cineplayers

Comédia infantil extremamente convencional e previsível.

5,0

A Pixar nos deixou mal acostumados. Nós, os adultos. Toy Story, em 1995, não foi apenas uma produção revolucionária em termos técnicos, por ser o primeiro filme totalmente feito em computador. Tão importante quanto a conquista tecnológica foi o fato de o filme conseguir atingir, de forma homogênea, as crianças e adultos, com personagens cativantes e história realmente tocante. Ao longo dos últimos 15 anos, isso se tornou quase um padrão em Hollywood: os filmes voltados aos pequenos inevitavelmente traziam narrativas capazes de atrair também os mais grandinhos.

O Fada do Dente dá um passo atrás nesse sentido. Ainda que não seja uma animação como as obras da Pixar, o filme não deixa de se encaixar no gênero infantil. Nele, Dwayne “The Rock” Johnson interpreta Derek Thompson, um jogador de hóquei conhecido como “Fada do Dente” por arrancar pedaços das arcadas dentárias de seus adversários. Quando falha em deixar dinheiro para a filha de sua namorada que perdeu um dente, Thompson é chamado pelas verdadeiras fadas e deve assumir o papel de uma durante duas semanas, enquanto tenta lidar com os problemas de sua vida.

Não há muito o que se comentar sobre O Fada do Dente. O diretor Michael Lembeck jamais foge às fórmulas do gênero, realizando um filme extremamente convencional. O cineasta prefere a comodidade e nem ao menos tenta estender o alcance de seu filme para um público com mais idade. O Fada do Dente é para as crianças e ponto final. O mais impressionante é que o roteiro, sem uma única ideia original – seja em termos de estrutura, enredo ou diálogos – foi escrito por um absurdo número de cinco pessoas. Cinco pessoas para montar um texto que poderia ter sido escrito por qualquer criança que já assistiu a alguns filmes da Disney.

Aliás, O Fada do Dente parece um filme menor do estúdio de Mickey Mouse, ainda que não o seja (a produção é da 20th Century Fox). A narrativa é permeada por clichês do início ao fim e todas as tramas seguem por caminhos esperados e encontram soluções previsíveis. Os roteiristas (só pra lembrar, cinco!) inclusive inserem como resolução o mais do que batido artifício do show de talentos do colégio, onde uma das crianças certamente vai superar as dificuldades e se destacar. Da mesma maneira, há espaço para a inevitável mensagem às crianças, aqui na forma de que elas devem acreditar em seus sonhos.

Falta, no entanto, a magia e a criatividade de boa parte das produções da Disney. O Fada dos Dentes possui os ingredientes, mas falta tempero. Além da já citada previsibilidade (ainda que, convenhamos, isso não possa ser citado como demérito em um filme com tais objetivos), a produção falha na construção da identificação entre personagens e plateia. Thompson, interpretado com o exagero e a caricatura de sempre por Dwayne Johnson, não deixa de ser um cretino. É arrogante e não tem a menor paciência com as crianças. Claro que, ao longo do filme, ele passará por mudanças, mas o problema é que elas não ocorrem de forma gradual e crível, apenas em momentos convenientes ao roteiro. O resultado é que tudo parece falso e, por consequência, cansativo.

De forma semelhante, o filme também não é muito melhor sucedido no que diz respeito às piadas. Boa parte delas vem unicamente do fato de se ver um “machão” como Johnson fantasiado de fada, inclusive com as asinhas. Obviamente, o recurso não somente cansa, como também não possui a menor graça. O protagonista, além disso, demonstra mais uma vez não possuir timing cômico, estragando diversos momentos que deveriam ser engraçados. As poucas risadas ficam por conta da presença de Stephen Merchant e a rápida aparição de Billy Cristal – mas, repito, risadas são poucas.

Porém, é difícil avaliar um filme como O Fada do Dente. Tudo bem, é infantil, previsível, comum e um desperdício de talentos (o que Julie Andrews e Ashley Judd fazem aqui?). Não possui qualquer valor artístico. Por outro lado, também não busca isso. O resultado final talvez seja exatamente aquele que Michael Lembeck procurava, voltado unicamente às crianças. Nesse sentido, o filme é capaz de funcionar. Mas, para quem está acostumado à alta qualidade das produções infantis de hoje em dia, é muito pouco.

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