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Críticas

Cineplayers

Uma produção excelente, um Joel Schumacher surpreendentemente inspirado e péssimos atores. Ficou devendo.

6,0

O Fantasma da Ópera é um dos maiores sucessos da Broadway de todos os tempos. Era uma questão de tempo que este musical, já adaptado de um romance de Gaston Leroux por Andrew Lloyd Webber, viesse a invadir também os cinemas, logo mais após a retomada do gênero pelo brilhante Moulin Rouge – Amor em Vermelho. Mas o que poucos sabem é que o filme demorou mais de quinze anos para sair do papel.

Em 1990 o filme estava prestes a entrar em produção, quando Webber se divorciou de Sarah Brightman, que seria a protagonista do filme. O projeto então entrou no limbo e só depois que Webber readquiriu os direitos sobre a obra – que estava sob a guarda de um grande estúdio –, e após o mesmo injetar dinheiro do próprio bolso na produção, que finalmente o filme saiu do forno.

Webber confiou a direção a Joel Schumacher, com quem já havia contatado há anos. O nome de Shekhar Kapur, o indiano que fez Elizabeth, chegou até a ser cogitado, mas Schumacher permaneceu no cargo, já que tinha inteira confiança de Webber. O problema então passou a ser a seleção do elenco, a cargo do diretor. A única exigência de Webber era que todos cantassem de verdade no filme (a exceção acabou sendo Minnie Driver). Foram selecionados então jovens atores em ascensão em Hollywood que tinham o dom do canto.

O que Schumacher não contava é que exatamente esses atores viriam a ser o grande ponto fraco do filme. Os três protagonistas se demonstram inadequados e totalmente apáticos em seus papéis. O papel do recluso e atormentado “fantasma”, atormentado por uma obsessão por uma jovem e talentosa corista no século XIX, ficou com Gerard Butler. Outros nomes mais famosos, como Antonio Banderas, chegaram a ser cotados para o papel, mas Butler (que é conhecido por bombas como Drácula 2000 e Lara Croft Tomb Raider 2: A Origem da Vida) foi o privilegiado e ficou com o papel. Ele realmente possui um sorriso atraente e olhos enigmáticos, essenciais para o personagem, mas está completamente descontrolado. Está exagerado, caricato e eu diria que está até meio efeminado. Já Emmy Rossum, que está virando estrela graças a papéis em filmes como O Dia Depois de Amanhã e Sobre Meninos e Lobos, mostra ter uma voz maravilhosa, mas está opaca e muitas vezes se limita a fazer uma expressão de desamparo com sua personagem Christine. E Patrick Wilson, que mostrou ter enorme potencial ao viver um dos papéis principais na minissérie Angels in América, feita para a TV, se mostra sem fibra ou garra em um papel que exigia força, já que ele é basicamente uma espécie de príncipe encantado. Tem ainda a já citada Minnie Driver, mas essa já não leva a sua carreira mais muito a sério e parece se auto-parodiar o tempo todo. Coitadinha...

O roteiro também não ficou lá grandes coisas. A inter-relação entre o fantasma e a corista Christine tenta ser explicada da forma mais implausível possível, com a órfã pobre (reparem que o pai morto dela possui o mausoléu central do cemitério, algo no mínimo estranho, para uma família de poucos recursos) sendo musicalmente ensinada pelo fantasma, a quem ela considera um anjo (um anjo que comete as maiores atrocidades possíveis, mas a moça nem se toca). A relação entre Christine e Raoul (o personagem heróico de Patrick Wilson) também é apresentada de forma superficial, pois de uma cena para outros os dois já parecem pombinhos apaixonados. Outra personagem mal resolvida é o de Miranda Richardson, uma espécie de administradora do tal teatro assombrado que não se decide em qual lado fica – e mais uma vez sua relação com o fantasma não é explicada. O roteiro também não nos poupa de diálogos risíveis como quando Christine sobe em uma carruagem e o coxeiro a pergunta pra onde vai, e eis que ela responde “para o túmulo de meu pai”. Risível.

Se o filme ainda se sustenta, é pela direção de Schumacher, que manipula a câmera com destreza e mantém o ritmo ágil (mas mesmo assim a duração do filme é bastante longa, principalmente em se tratando de um musical que quase não possui diálogos). Schumacher há muito não mostrava tanta dedicação na criação de planos e de tomadas, com atenção aos primeiros dez minutos de filme e também na focalização de Raoul cantando em cima de uma estátua, sobre um prédio. Schumacher também não tem culpa se grande parte das músicas parecem repetitivas e melosas, e que a própria história parece muito ingênua para os cínicos tempos atuais – mas os fãs das músicas podem ficar tranqüilos que as clássicas canções da peça ainda estão presentes. Inclusive uma nova foi escrita especialmente para o filme, numa clara tentativa de obter uma indicação ao Oscar da categoria. É “Learn to be Lonely”, que conseguiu o feito de ser indicada, mas aparece somente na subida dos créditos finais e é de uma chatice sem fim.

Destaco a encenação luxuosa que Schumacher / Webber impuseram ao filme, ao custo de 60 milhões de dólares. Os cenários (indicados ao Oscar), saltam à vista, mas padece de ser excessivamente exagerados, quase como alegorias carnavalescas. O cemitério, por exemplo, possui gigantescas esculturas que poderiam muito bem terem sido supridas – aliás, a única falha de cenografia do filme é exatamente esse cemitério, que parece nitidamente falso. Outra característica a se admirar é a excepcional fotografia de John Mathieson, também indicada ao prêmio da Academia.

O ápice do filme concentra-se em um belo baile de máscaras, que empolga pela recriação, coreografia e empolgante música. Contrasta com a péssima cena de demonstração de amor entre Christine e Raoul em cima do telhado, fria e totalmente sem magia. Talvez seja isso que falte ao filme: magia.

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