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Críticas

Cineplayers

Um filme esquisito, para dizer pouco. Uma bagunça na tela que, de certa forma, é interessante.

6,0

Mais uma adaptação de um famoso livro do Dr. Seuss nos cinemas. Famoso pelo menos nos Estados Unidos, é claro. Aqui no Brasil, como na maior parte do planeta, obras infantis como “Como o Grinch Roubou o Natal” e a que originou este filme, “O Gato no Chapéu”, não são tão conhecidas do público. Depois do sucesso de O Grinch (mais de 340 milhões de dólares no mundo todo), era previsível que outras obras do escritor fossem parar nas telas do cinema, e O Gato foi a escolhida. O Grinch já pode ser considerado um pequeno clássico natalino, pois é um filme divertido e com grandes lições (contra o consumismo exagerado nas festividades, por exemplo). E O Gato, o que é!?

O Gato é um filme bizarro, cheio de humor grosseiro, direção de arte super-exagerada, com alguns personagens irritantes e sem uma história central que importe. E sabe o que mais? Isso tudo, incrivelmente, funciona muito bem. O erro maior, talvez, é que O Gato é vendido como um filme para crianças, quando na verdade tem um conteúdo cheio de sutilezas, que só os adultos entenderão. Obviamente, as crianças poderão ficar encantadas com os sets super coloridos, as piadas visuais exageradas, mas o melhor mesmo do filme se esconde por trás dessa camada primária.

Mike Myers, assim como Jim Carrey em O Grinch, veste uma roupa bizarra no filme. Pode até assustar crianças mais impressionáveis. A roupa de gato, somada aos maneirismos que o comediante possui, não é sempre uma visão “divertida” ou “engraçadinha”. O gato é um personagem sacana, esperto e que pensa principalmente em si. Solta arrotos, peida e fala palavrões. Estes últimos, claro, são muito bem disfarçados, e não podem ser notados pelas crianças menos iniciadas na arte da boca suja, digamos assim. Isso é de fato um ponto positivo, pois para quem entende, as situações tornam-se bastante engraçadas, até mesmo chocantes (“ei, ele ia mesmo dizer aquela palavra... p***”), levando-se em conta o gênero.

O humor do filme tem um ritmo alucinante, em certos momentos o personagem de Myers não pára de falar por um segundo, gesticulando o tempo todo, enquanto faz acrobacias, ri e tenta entreter as crianças. Ah, sim, faltou falar da história. Ela é bem simples, na verdade quase não há história: duas crianças (uma super controladora, a outra super bagunceira) ficam entediadas numa tarde chuvosa, sozinhas com uma babá chata (que dorme durante todo o filme). Então o gato aparece do nada (embora ele garanta que tenha chegado de carro) para tentar diverti-las. A partir desse fiapo de história, os três vão aprontar de tudo dentro da casa e pela cidade. Como o filme tem uma duração pequena (82 minutos, contando os créditos), é aceitável o ritmo alucinante com que as situações se desenvolvem. Aliás, a curta duração é outro ponto bastante positivo, já que nos últimos 15 minutos o filme começa (e apenas começa) a ficar cansativo e repetitivo, então pode-se dizer que o filme termina na hora ideal.

Os atores mirins, que fazem as duas crianças que brincam com o gato, são também destaques (embora a dublagem do garoto fique devendo, mas isso é problema da versão brasileira e não deve ser levado como fator negativo). Dakota Fanning é a atual atriz infantil em evidência nos Estados Unidos. Depois de um ótimo trabalho em Uma Lição de Amor, onde mostrou seu estilo quase “adulto” de atuar (que pode irritar a muitos, mas é o estilo da garota, não dá pra reclamar), ela está muito mais alegre e divertida neste filme. Já Spencer Breslin (que fez a versão infantil do ator Bruce Willis em The Kid) também merece ser destacado com a sua atuação de pirralho chato e metido. Agora, enquanto esses dois atores estão muito bem, o filme possui dois personagens dos mais irritantes, que são conhecidos como “Coisa 1” e “Coisa 2”. Como duas formiguinhas que não param, com uma cara assustadora (lembra a maquiagem vencedora do Oscar de O Grinch) e soltando gritinhos (“iiiiiiiiii”) o tempo todo, dá vontade de quebrar a cara deles. Bizarrice pouca é bobagem!

Tecnicamente o filme é uma faca de dois gumes. A direção de arte é extraordinária, com cores vivíssimas (destacando o verde e o lilás) e sets limpos e belíssimos (veja as imagens). Ao mesmo tempo que tudo encanta, com o tempo pode-se tornar enjoativo e em alguns casos exagerado demais (todos os carros são iguais, com uma variação de duas ou três cores). Os créditos, que transformam o logotipo da Dreamworks em desenho animado (e das outras produtoras também), são ótimos, o filme às vezes realmente parece ser uma animação viva. A trilha sonora é bacana, enquanto que os efeitos sonoros também lembram os desenhos animados, e podem irritar bastante. Certamente os responsáveis pela produção resolveram arriscar bastante na estilização do mundo do filme, o ruim é que foram um pouquinho longe demais.

No geral, acho que o principal defeito de O Gato é também a sua principal qualidade, por mais estranho que isso possa parecer. O filme é obviamente voltado para o público infantil, mas suas piadas são, em maioria, voltadas para o público adulto. Levar seu filho ou irmãozinho para ver esse filme pode ser um pouco arriscado, só faça isso se outras opções tiverem-se esgotado. Pra mim, O Gato foi uma agradável surpresa, pois vinha sendo tachado como um dos piores filmes dos últimos anos. E não é nada disso! É um passatempo rápido, divertido. Um tanto exagerado e às vezes chato, é verdade, mas o resultado final é bem agradável. O filme peca também em não ter uma grande lição de moral como em O Grinch (embora o roteiro fale de uma lição no final, muito mal encaixada), mas fora isso é só alegria.

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