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Críticas

Cineplayers

A bonita história de amizade entre um robô gigante de ferro e um pequeno garoto simples do interior.

8,0

Muito antes de Os Incríveis, já era possível perceber como o diretor Brad Bird é um tremendo viciado em super-heróis com este O Gigante de Ferro, seu primeiro longa metragem. Claramente inspirado em filmes como Guerra dos Mundos (o antigo) e O Dia em que a Terra Parou (que alguns podem até considerar um plágio), Bird construiu uma bela mensagem anti-guerra e um retrato de como o ser humano pode ser irracional com coisas que desconhece. Nada de novo, mas um “nada de novo” extremamente gostoso de se acompanhar, principalmente porque não se fazem mais animações tradicionais assim, leves de se assistir e sem os maneirismos de época irritantes, que apenas servem para datar os filmes em questão, e com um conteúdo bom o suficiente para causar um bom papo entre pais e filhos ao término do longa.

A história, baseada no livro escrito por Ted Hughes, passa-se em 1958, quando o jovem Hogarth Hughes (Eli Marienthal) conhece um robô gigante vindo do espaço e passa a cultivar uma amizade com o grandão. Comedor de metais e esforçado para aprender nossa língua (bem, no caso, "nossa língua" refere-se ao ingês), vamos acompanhando aos poucos a aproximação dos dois, desde a chegada do gigante até o desfecho do filme, quando sua mensagem se completa. Só que, com a chegada do governo ao local, as coisas parecem se complicar para nosso querido de ferro. A linha que liga esses dois pontos é marcada por grandes momentos, seqüências marcantes que ajudam um filme a se destacar dos demais e ganhar, com o passar do tempo, seus status de arte – veja, por exemplo, o momento em que Hughes está no carro, logo após o primeiro encontro com o gigante, sentado assustado e, lá no fundo, confundindo-se com as árvores, a silhueta de seu mais novo próximo amigo. Uma cena simplesmente linda.

O desenvolvimento é tranqüilo e não tem o ritmo frenético dos desenhos atuais; estética que, inclusive, Os Incríveis compartilha. Tudo é mais calmo, mais clássico, lembrando até os grandes trabalhos da antiga Disney. E, assim como os da empresa citada, o filme acaba resguardando alguns defeitos dessa estética. Alguns dos exemplos clássicos são os furos de roteiro que, para acelerar o longa, acabam acontecendo. Não são nem furos em si, mas forçadas de barra para deixar o filme mais rápido e menor – a média clássica é uma hora e meia, mas hoje em dia é fácil uma animação chegar a quase duas horas de duração. São cenas que o filme coloca como "é assim e pronto". Um dos exemplos claros desses “furos” é o controle que liga e desliga a energia de uma usina elétrica inteira se encontrar na parte externa da construção, podendo ser acionado até mesmo por um garoto com pouco mais de 10 anos; outro é simplesmente vermos a pressa com que o robô aprende a falar a língua local, uma vez que simplesmente não há cenas o suficientes no filme que convençam que ele realmente poderia ter aprendido tão rápido a falar.

Isso poderia ser uma tragédia em bola de neve se não fossem pelos acertos do longa, que encobrem totalmente suas pequenas falhas. O sentimento construído ao longo de toda sua duração é sempre sincero, com um robô carismático a beça e com situações bem simples, que ajudam a construir um clima extremamente simpático ao longo de toda a sua duração. Acabamos gostando de tudo por sua extrema simplicidade, mas que com uma analisada mais profunda, conseguimos achar o “algo a mais” que faz a obra ser rica – e esse algo a mais são os detalhes, as pequenas coisas que se interligam e fazem tudo parecer maior do que uma primeira visita pode mostrar. Mas, ainda assim, a obra continua simples como a cidade onde toda a história se passa.

Há ainda as metáforas claras, algumas novas (como não comparar o imenso gigante, de ferro, com o fato dele ter sentimento; coração de ferro, chamam os insensíveis, uma grande e inteligente ironia, que explica bem o porquê do gigante ser daquele material), outras nem tanto (essa história dos homens tratarem com violência aquilo que desconhecem já foi explorado em excesso por outras obras de ficção). Porém, como constantes heróis conhecidos por todos são citados ao longo de todo o filme, a impressão que fica é de tudo não passa de uma grande homenagem aos filmes e histórias em quadrinho que fizeram Brad Bird crescer como um contador de histórias. Ao contrário de Os Incríveis, que é uma sátira bem sacada dos super-heróis, aqui o filme é mais sério e engajado, com seus momentos de diversão descontraída.

Encabeçando a lista de dubladores, temos uma Jennifer Aniston um pouco apagada como a mãe do garoto, já que o foco principal de tudo é mesmo entre o jovem Eli Marienthal (que fez o irmão de Stifler em American Pie 2 - A Segunda Vez é Ainda Melhor) e um Vin Diesel pré-Velozes e Furiosos e Triplo X, dublando o grandão de ferro. Banhado com boa trilha musical, um filme muito bonito que utiliza de algumas forçadas de barra para brilhar mais. Forçadas intencionais que, quando bem utilizadas, acabam servindo apenas de meio para um bem maior.

Comentários (2)

David Nascimento | sexta-feira, 17 de Abril de 2015 - 15:09

Acho que os "furos", em animações, podem ser relevados. É tão difícil acreditar no controle da usina elétrica quanto em um gigante de ferro de outro mundo. Nada disso me incomodou quando assisti ao filme.

Luiz F. Vila Nova | sexta-feira, 17 de Abril de 2015 - 15:14

Somente uma das melhores animações de todos os tempos.

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