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Críticas

Cineplayers

Fraco e aborrecido, o filme é um desvio negativo na excepcional carreira de Lars Von Trier.

4,0

Antes de se afastar do cinema por tempo indeterminado devido à depressão que está enfrentando, o cineasta Lars Von Trier lançou este O Grande Chefe, marcando assim seu retorno à comédia, gênero do qual esteve afastado desde O Reino, produção feita para a tevê. Prestigiado diretor, Von Trier tem em seu currículo grandes obras, entre elas o premiado Dogville, de 2003, e o maravilhoso Dançando no Escuro, de 2000. Esse último rendeu ao diretor a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Lançado ano passado na Dinamarca, o filme conta a história de Ravn, dono de uma empresa de TI (tecnologia de informação) a qual pretende vendê-la. Porém Ravn enfrentará problemas. Quando criou a empresa, inventou um chefe fictício a fim de ter a quem transferir a culpa por decisões impopulares. Entretanto, os compradores da firma exigem negociar diretamente com o dono. Para não perder o negócio, Ravn decide contratar um ator profissional para se passar pelo grande chefe da companhia.

Lars Von Trier assume, logo no começo, ao filmar seu próprio reflexo no vidro de uma janela, que não quer alcançar nenhum objetivo com essa comédia rasa, sem nenhum tipo de mensagem em seu conteúdo. A produção não foi feita para gerar reflexão. Tem como objetivo apenas descontrair o público. Isto posto, o diretor nos leva para o interior de um prédio, justamente onde funciona a empresa. E assim, somos apresentados ao verdadeiro dono da empresa e ao ator. A história vai se desenrolando, o tempo vai custando a passar (e só são 99 minutos de projeção), e é aí que toda a expectativa acerca da comédia vai sendo substituída pelo sentimento de frustração.

É uma comédia feita apenas com a intenção de divertir. Não conseguiu. O Grande Chefe tem, evidentemente, algumas passagens cômicas, mas é, em sua maioria, totalmente desprovido de graça. E Von Trier sabe disso. Em uma de suas interrupções – ele aparece quatro vezes durante o filme (uma no início, duas no meio e uma no fim) comentando a história – o cineasta assume que o resultado pode não ter sido bom ao se desculpar com aqueles que esperavam muito do longa, mas, ao mesmo tempo, não demonstra preocupação com isso. No fundo, o diretor acabou fazendo um filme para divertir a ele mesmo – dando uma pausa no estilo “deprê” de suas últimas obras. É um tipo de humor que agradará mais ao público dinamarquês. Existem piadas direcionadas exclusivamente para esse público. Por exemplo, as agressões verbais do empresário islandês que, freqüentemente, ofende os dinamarqueses. Vale explicar que a Islândia sofreu com o domínio da Dinamarca por 400 anos, e as feridas continuam abertas.

Os diálogos são uma constante. Por opção do cineasta, não há gags visuais (humor físico) no filme. Então, as piadas ficam por conta do que é falado entre os personagens e das situações que eles são obrigados a enfrentar. É muita fala e pouca graça. Por isso, fica a dica para que ninguém vá ao cinema cansado. Corre-se o sério risco de cair no sono. O Grande Chefe apresenta um humor regional e inofensivo, o que é estranho tendo em vista que Von Trier é um defensor de que a boa comédia não pode ser inofensiva.

Continuarei falando do diretor. Tendo em vista que se trata de um filme de Von Trier, um dos fundadores do movimento Dogma 95, tudo está atípico. O diretor resolveu não filmar com a câmera na mão – uma de suas características -, que proporcionava bons enquadramentos e cenas mais realistas. Ele utilizou uma nova técnica, em que o computador, depois de posicionada a câmera, é quem passa a controlar os movimentos, limitando, assim, a influência humana. Isso, à princípio, me desagradou, porque as cenas pareciam estar mal enquadradas, mas depois acostuma-se com a “câmera independente”.

Tudo foge muito ao que estamos acostumados a ver em filmes do diretor. Perdoe-me a maldade, mas talvez ele tenha entrado em depressão após ver o resultado deste filme. Ao menos, ele prova ser uma figura interessante. São justamente os quatro trechos em que Lars Von Trier aparece, comentando seu filme, as melhores passagens deste fraco O Grande Chefe.

Comentários (1)

Josiel Oliveira | quinta-feira, 03 de Julho de 2014 - 03:35

Poxa, você realmente acreditou que uma comédia feita pelo Trier seria uma comédia rasa sem nenhum tipo de mensagem em seu conteúdo??
A ironia é uma das ferramentas mais fortes do humor, ainda no humor negro, nesse caso humor negro capitalista.
É claro que não há humor físico no filme, e nem deveria ter, o clima perante as imoralidades que rolam numa empresa é pesadíssimo, apesar do humor negro.
Realmente o filme não é tão eficiente em divertir, mas o grau de reflexão é alto.
O Trier parece de fato um gênio incompreendido por uma grande parte dos cinéfilos.
Não é exatamente um gênio DO cinema, mas sim um gênio NO cinema.
Achei muito bom esse filme! E esse cara é gênio!!

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