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Críticas

Cineplayers

Deleite apenas para os olhos.

5,0

A partir de A Vida Marinha com Steve Zissou (The Life Aquatic with Steve Zissou, 2004), com exceção de O Fantástico Sr. Raposo (The Fantastic Mr. Fox, 2009) e alguns entreatos de Moonrise Kingdom (idem, 2012), o cinema de Wes Anderson foi calcado no método da pintura, ou seja, a partir da disposição dos corpos e suas relações com o entorno. Com ele, Anderson tem remetido à memória como forma de estabilizar a fábula como pilar principal de sua filmografia. Nada realmente novo e que os franceses Jacques Tati e Catherine Breillat não tenham feito, cada um à sua moda e tempo. Tati, por sinal, é ecoado a cada sequência de O Grande Hotel Budapeste (Grand Budapest Hotel, 2014), novo filme do diretor norte-americano, em especial pela obra-prima Tempo de Diversão (Play Time, 1967).

Com base nos textos do dramaturgo austríaco Stefan Zweig, O Grande Hotel Budapeste confirma o caminho de um cinema de tipos, onde a estrutura de composição descreve ações e comportamentos pelo humor dado ao corpo e pela representação visual máxima do pastiche. Não será preciso marcar a psique de cada personagem em O Grande Hotel Budapeste, basta lembrar-se de suas cores, de sua primeira leitura ou referência. E o mesmo servirá para as locações. Esta relação de Wes Anderson com os personagens tornou-se mais aguda com o tempo. Hoje, eles estão mais para versões cartunescas que exigem o cenário fantástico que rendem mais elogios que o próprio filme, enfim.

Esta facilidade oferecida por Anderson é capaz de disseminar sentimentos difusos entre o deleite visual e o humor quase mímico. Fica evidente que o filme foi inclinado para a simplicidade, para emoções facilmente decifráveis na relação filme-espectador, tanto que o maior dos êxitos de O Grande Hotel Budapeste é o tempo dado ao intervalo. O espaço criado para o riso forçado parece o gesto mais sincero na formatação de um filme extremamente distanciado e muito mais representativo como uma catalogação de locações na filmografia de Wes Anderson. Nestes intervalos, enfim, o filme sai de sua proteção de plástico e ousa.  

Pois nortear o filme como um espetáculo visual bem elaborado sobre trapaceiros parece deslocar um mundo de possibilidades onde o que interessa mesmo é o interlúdio muito interessante sobre o amor. Sobre os trapaceiros, talvez as questões envolvendo dignidade sejam as mais relevantes, ainda que elas tenham servido como base inexorável de O Expresso Darjeeling (The Darjeeling Limited, 2007).  

Portanto, O Grande Hotel Budapeste se resume através do desajeito em diversas escalas. A principal é por romper o naturalismo pelo tempo que enquadra seus estereótipos até que eles sumam – e isso não significa que eles tenham saído da tela. São os personagens incomodados e que propositalmente incomodam, juntos com a negação de reestabelecimento da organicidade de outrora de um diretor. Faz-se, assim, um encontro muito torto com o real.

Comentários (23)

Paula Lucatelli | quinta-feira, 10 de Julho de 2014 - 13:38

Verei hoje! Tenho grandes expectivas... Retorno para ler a crítica depois

Paula Lucatelli | domingo, 13 de Julho de 2014 - 12:58

Gostei bastante! Acredito que tenha evoluído com relação aos seus filmes anteriores. Com ótimas atuações e movimentos de câmara, este é um diretor com total controle sobre sua obra.

Patrick Corrêa | domingo, 13 de Julho de 2014 - 14:17

Adorei o filme e discordo da crítica, inclusive da estruturação dada.
Sob o verniz da empáfia, o personagens desse e dos demais filmes de Anderson são multidimensionais e sintetizam alguns aspectos da natureza humana.

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